Dona Lolo: uma vida de desafios e superações

Conheça a história dessa simpática senhora, de 86 anos, moradora do bairro Barracão há seis décadas

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Foto: Alexandre Melo - Jornal Metas/

No bairro Barracão todo mundo a conhece como dona Lolo. Uma simpática senhora cuja aparência física esconde a verdadeira idade: 86 anos. Ela nasceu Leonor Maria Sardo, numa localidade chamada Doze, em Itajaí. É a mais velha de sete filhos. O pai e a mãe eram colonos plantadores de abacaxi e mandioca. Muito cedo, dona Lolo precisou ajudar a família na roça, por isso não teve a oportunidade de estudar. Aos 15 anos casou com Laudelino, também filho de agricultores, e ganhou o sobrenome Ponchirolli. No mesmo ano engravidou do primeiro filho, Maurício (já falecido). Nos anos seguintes nasceram outros cinco filhos. "Era um por ano", brinca dona Lolo.

O casal morava numa casa simples no bairro Limoeiro, em Itajaí, mas um dia decidiu se mudar para Gaspar. Aliás, mudanças de endereço não faltaram na vida do casal. "Já perdi as contas das vezes que nos mudamos, meu marido não parava muito tempo num lugar", revela dona Lolo.

Foi em Gaspar que ela e o marido, falecido há 37 anos, e os dez filhos - outros quatro nasceram no Barracão - viveram a maior parte da vida. Lá seu vão 60 anos que a família Ponchirolli desembarcou de um caminhão no então pacato Barracão, trazendo o pouco que tinham. "Quando chegamos aqui não tinha nada, isto aqui era uma tapera, dava para contar o número de moradores. O ônibus que transportava os passageiros era o mesmo que trazia o pão", recorda dona Lolo.

A família nunca teve vida fácil. As páginas do livro da história da os Ponchirolli são recheadas de sacrifícios e desafios, mas que ela não se queixa e até admite que gostaria de voltar ao passado. "Não havia tanta maldade como hoje".

Seu Laudelino foi o primeiro barbeiro do Barracão, e nas horas vagas ainda era sapateiro. "Eu costumo dizer que com uma tesoura, um pente, um pé de ferro e um martelo meu marido garantiu o sustento da nossa família", afirma dona Lolo. O começo não foi fácil, pois os moradores não conheciam o trabalho de Laudelino, mas com o tempo ele fez uma boa freguesia. "Vinha gente até das Minas cortar cabelo", acrescenta dona Lolo.

A família Ponchirolli precisou de muita força de vontade e fé para superar as dificuldades. "Éramos muito pobres", revela dona Lolo. E quando ela fala em pobreza, não se trata de exagero. Ela conta que o filho Mauricio era coroinha na igreja Nossa Senhora do Rosário, que ficava próxima à residência da família. A roupa e o calçado que ele usava na missa de domingo era compartilhada com o pai. "O meu filho vestia a roupa e ia para a primeira celebração do dia, depois ele precisava vir para casa para que o pai vestisse a mesma roupa e calçado para assistir a missa seguinte", relembra dona Lolo.

Os filhos do casal também estudaram pouco porque a família não tinha dinheiro para comprar os livros. "Infelizmente, nunca obrigamos nossos filhos a irem à escola porque não tínhamos dinheiro para comprar os cadernos". Mas, ela diz, com orgulho, que nenhum deles morreu de fome. "Lutamos para sempre dar o melhor para eles, mas foram tempos de muita dificuldade", acrescenta. Para ela, hoje tá mais fácil criar filhos. "Só erra quem quer porque tem muita informação".

Segundo dona Lolo, naquela época até ajuda era mais difícil que nos dias atuais. "Hoje a vida tá mais cara, mas se você precisa de uma cesta básica vai sempre aparecer alguém para te ajudar, há 60 anos não era assim, poucos moradores do Barracão tinham condições de ajudar outros. Passamos muita necessidade, eu não sei como ainda estou viva. Hoje, eu me considero uma pessoa rica na comparação com a vida que levava antes", observa dona Lolo. E as coisas ficaram ainda piores depois da morte do marido, com pouco mais de 60 anos de idade. Dona Lolo não desanimou e foi à luta para garantir a sobrevivência da família. Trabalhou como diarista e com lixo reciclável. Juntou dinheiro e comprou um pedaço de terra que era de uma das filhas já casada. Com a ajuda de outros filhos, ela construiu a casa onde hoje mora junto com a filha Ione, que é a sua cuidadora.

Queda e cirurgia 

A vida seguia muito bem para dona Lolo até o começo deste ano, quando uma queda no pátio de casa a levou para o hospital com fratura no fêmur. O episódio da queda foi uma fatalidade, mas dona Lolo prefere não entrar em detalhes. Ela precisou de cirurgia e ficou praticamente os últimos meses presa a uma cama. "Pensei que nunca iria caminhar", admite. Mas, aos poucos e com muita fisioterapia, dona Lolo foi recuperando os movimentos da perna e já caminha, com alguma dificuldade.

A maioria dos filhos mora no Barracão. Marcelo, o mais jovem, que mora nuca casa ao lado instalou uma pastelaria. "É o melhor pastel aqui da região", garante dona Lolo. Por todas as dificuldades que teve na vida, ela admite que não precisa de muita coisa para viver. "Eu tenho tudo". E a família está entre as suas maiores alegrias: dez filhos, 20 netos, 22 bisnetos e três tataranetos.