Fé ao volante
Motoristas prestam homenagens ao seu padroeiro
Motoristas prestam homenagens ao seu padroeiro
O25 de julho é festivo para os motoristas de todo o Brasil. Nesta data, os católicos comemoram o Dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas ou viajantes. Em Gaspar, os caminhoneiros se reúnem para agradecer e reforçar os votos de proteção do seu santo. Nada mais justo, afinal, só quem vive na boléia do caminhão sabe das dificuldades da vida nas esburacadas e inseguras rodovias do país. A profissão exige sacrifícios, como estar longe da família por dias e até semanas, além das horas mal dormidas na cama improvisada da cabine. Por isso, é preciso ser apaixonado pela direção de um carga pesada. E paixão pela profissão não falta ao caminhoneiro Osni Fabiano dos Santos, conhecido no bairro Lagoa por Telão.
Motorista de caminhão desde 1992, ele aprendeu a profissão com os tios e concretizou o sonho de infância ao lado do irmão. Hoje, dirige seu quarto caminhão e, sempre que pode, leva os filhos juntos. “Meu filho mais velho já disse que, agora que está de férias, vai viajar comigo”, conta Telão orgulhoso.
Para ele, a rotina de caminhoneiro é boa. “É mais livre e sempre conhecemos lugares e pessoas diferentes”. Como faz transportes a curtas distâncias, Telão não fica muito tempo fora de casa, exceto quando viaja para o sul do estado transportando a safra de arroz. Ele troca a noite pelo dia. “Cheguei a ficar uma semana carregando o caminhão durante o dia para viajar de 5 a 6 horas à noite”, revela. Afora a época da colheita, Telão percorre, em média, 2 mil quilômetros por mês.
Além do horário exigente, motoristas como ele enfrentam o desgaste do trânsito. “Em Gaspar é complicado, porque não podemos passar pela ponte. Temos que desviar por Blumenau ou Itajaí. É cansativo”. Outra dificuldade é o preço do óleo diesel, que está sempre muito alto, assim como a manutenção do caminhão. O pneu é um dos itens que mais pesam no custo.
“Cheguei a ficar uma semana carregando o caminhão durante o dia para viajar de 5 a 6 horas à noite.”
Menino Jesus nos ombros
Em homenagem a São Cristóvão, os caminhoneiros do Brasil realizam procissões e festas no dia 25 de julho, como a que está sendo realizada em Gaspar neste final de semana. Conta a Igreja Católica que São Cristóvão era um gigante com mania de grandezas, e queria servir ao maior rei do mundo.
Disseram-lhe, então, que o maior rei do mundo era Satanás, e ele se pôs a servi-lo. Passado algum tempo, descobriu que o maior rei do mundo era Deus, e que a bondade era a melhor forma de agradá-lo. Assim, São Cristóvão decidiu servir aos seus semelhantes e passou a transportá-los de um lado a outro do rio, valendo-se da imensa força que tinha, dasí porque se tornou o protetor dos viajantes.
Certo dia, um menino pediu-lhe que o transportasse. Como sempre, o gigante o colocou nos ombros e foi atravessar o rio. Na medida que avançava, a criança ficava cada vez mais pesada. Vendo o seu espanto, o menino lhe disse que havia transportado mais do que o mundo inteiro, pois ele era Jesus, o criador de todas as coisas. Assim, a imagem de São Cristóvão é associada a quem carrega o Cristo nos ombros.
Perigo constante
Os motoristas enfrentam, ainda, a preocupação com acidentes, muito freqüentes nas estradas. Para Telão, a imprudência e a falta de manutenção dos veículos são as principais causas de acidentes com caminhões. “Graças a Deus eu nunca sofri acidente. São Cristóvão está sempre me protegendo”, diz, demonstrando sua devoção ao santo. Apesar das dificuldades, o caminhoneiro diz que vale a pena a profissão. “Já pensei em parar, mas eu não sei fazer outra coisa”, admite.