Um amigo, Nelson Lamin, foi cortar o cabelo no bairro de Ponta Aguda. Gostou tanto que acabou me levando lá. O atendimento revelou-se o melhor possível. Nota mil. Nossa amizade fez-se imediata. Descobrimos ser da mesma terra, rio-sulenses. Na realidade, ele nasceu em Pastagem, hoje Agrolândia, mas na época pertencia a Rio do Sul. 

Seu nome é Francisco Kloppel, o Chico. Mas ele insiste que o chamem apenas de Chiquinho. Mocinho, um irmão mais velho, também barbeiro, trouxe-o para Blumenau. Até hoje possui um salão na zona norte da cidade. Lá, o Chiquinho observava atento o trabalho do irmão. Certo dia, apareceu um alto funcionário da Teka que queria cortar com urgência a barba em função de um compromisso quase imediato. Como havia muitos fregueses, o irmão do Chiquinho disse: - Olha, se quiseres arriscar, meu mano pode efetuar o trabalho. Terminada a missão, o atendido mostrou-se surpreso. Achou ótimo o trabalho e deu ao atendente uns trocados a mais.

Trabalhou em várias barbearias na Ponta Aguda até que resolveu atuar sozinho. Há mais de uma década, possui o Salão Brasil, próximo ao Senac, na avenida denominada Brasil. Um dos seus maiores orgulhos: Com tesoura e navalha, tem um filho cardiologista no Hospital Santa Isabel, uma filha arquiteta e a terceira advogada.

Outro motivo de inflar o peito: todos os prefeitos de Blumenau utilizam seus serviços. Apenas com duas exceções; Décio Lima e o atual, Mário Hildebrandt. Na lista, se incluem todos os bispos da Catedral e figuras proeminentes da Cidade Jardim.

Rindo muito, recorda um episódio insólito. Foi convidado por Moacir Galliani a fazer a barba do jornalista e comunicador Valther Ostermann. E a cena foi fixada no estúdio da emissora. Diz que se Valther mostrou-se nervoso, ele nem aí. Cumpriu o dever da melhor forma possível. Em Rio do Sul, lecionou no Grupo Escolar Paulo Zimmerman. Era municipal, depois o Estado tomou conta. Ficou seis meses sem ver a cor do dinheiro. Passei também pelo mesmo drama nos meus tempos do Colégio Pedro II em Blumenau. Estudou, como eu, no colégio dos salesianos, o Dom Bosco.

Chiquinho participa ativamente de atividades religiosas em diversos templos da região. Suas sugestões são normalmente acatadas.

Chegamos à conclusão: Se ele possivelmente é um dos barbeiros mais antigos de Blumenau, eu (infelizmente), pelo jeito, sou o mais velho dos jornalistas na ativa. Decanos, pois, pois...

Intitulei-o, merecidamente, de O Rei da Tesoura. Verdade seja dita: é um tesouro de pessoa. Ele merece pelo seu procedimento, modo de agir, sinceridade total no falar, amando de todo o coração a cidade que o adotou.

É digno destes versos do Cartola: "Semente de amor, eu sei que sou desde nascença."