De há muito queria ler Tratado geral dos chatos, de Guilherme Figueiredo. Só agora consegui um exemplar do Círculo do Livro, escrito em 1962. O autor é teatrólogo (suas peças foram encenadas em diversos países europeus e A raposa e as uvas até na China), romancista, crítico de música e teatro, advogado e jornalista. De 1964 a 1968 morou em Paris, como adido cultural da Embaixada do Brasil. Seu irmão, João Baptista de Oliveira Figueiredo, foi o último presidente militar do país, depois do golpe de 1964.

O tratado geral dos chatos contém "uma classificação inédita, processo de identificação, exercícios, problemas, postulados e muitas e variadas notas, seguidas de um método eficaz para livrar-se dos ditos, homens, mulheres e crianças. Obra repudiada por diversas organizações de classe e por isso mesmo recomendada a todos aqueles que desejem recuperar a alegria de viver.".
Esclarece o autor, no início da obra, que "é um erro, que demonstra grosseria de imaginação, e por conseguinte situa o indivíduo como adicto a um tipo de chatice, assegurar-se que a designação geral "chato" provém de nome vulgar dado a certo inseto" que incomoda barbaridade. A palavra possui origem nobre, grega e latina. Como se vê, o chato-indivíduo- desagradável já existia na Antiguidade.
Aqui, em Blumenau, dava seus ares de semgracice e chatice totais um jornalista famoso. Era só ele se aproximar de uma mesa de companheiros de profissão e de outras atividades, que a debandada era geral e imediata. Ficava sozinho a ver navios.
O emprego do lugar-comum é lugar do chato, por excelência. Dá pra organizar uma lista, sempre incompleta, de expressões, ditos, locuções, que permitem, senão diagnosticar o chato, pelo menos colocar os que as usam em prudente quarentena. Algumas vão aqui abaixo:
- Quem é vivo sempre aparece!;  Voltando à vaca-fria...;  Pra encurtar a história...;   Conhece aquela do papagaio que entrou no galinheiro? (Ou qualquer outra história, iniciada sempre com o "Conhece aquela".);  Dois surdos iam pescar e se encontraram... Conhece esta? (O "Conhece esta", após iniciada a história, é sintomático. Sempre que você quiser contar uma anedota, vá até o fim, sem indagar se alguém a conhece. O mérito da piada não está no ineditismo, mas sobretudo na interpretação.);  Segunda, sem falta, eu pago.;  Aí então ele pegou, virou e disse...;   Aí está Fulano que não me deixa mentir.;  Estou certo? (Em fim de frase. Variantes: Visto? Entendeu? Percebeu? Tá? Não? etc.);  O humilde orador que vos fala...;  É  um barato!;  Ele é fora de série!