Um dos autores do impeachment da presidente Dilma Rousseff, disse que o presidente 'dá um tapa na cara da civilização'


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Presidente foi criticado por defesa ao coronel Ustra / José Cruz/Agência Brasil

Um dos maiores juristas do país e um dos autores do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2014, o advogado Miguel Reale Jr, declarou à Folha de São Paulo, nesta quinta-feira (8), que o presidente Jair Bolsonaro "dá um tapa na cara da civilização" e caminha para um processo "paranoico perigoso" ao voltar a exaltar a figura do Coronel Alberto Brilhante Ustra, um dos principais símbolos do período da ditadura militar no Brasil. Bolsonaro chamou Ustra de "herói nacional". "Como ex-presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos e tendo sabido o que se passou no Doi-Codi, [me] causa a maior indignação. [É] um tapa na cara da civilização", declarou Reale Junior à Folha.

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Real Jr: ""processo paranoico perigoso" / FOTO AGÊNCIA BRASIL

Em 2008, Ustra, que morreu em 2015 aos 83 anos, foi primeiro oficial militar condenado pelo crime de sequestro e tortura durante o regime militar (1964-1984). A sentença, do juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo, o condenou, em primeira instância, em um processo movido pela família Teles que o acusou de sequestro e tortura entre 1972 e 1973. Na época, a defesa do coronel tentou usar a Lei da Anistia, que significou o perdão de todos os crimes cometidos durante o regime militar, para a absolvição, porém, o juiz acabou confirmando a condenação. Em 2012, em segunda instância, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu manter a decisão.

Ex-ministro da Justiça do Governo Fernando Henrique Cardosos, Reale Jr foi o primeiro presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, cargo que ocupou entre 1995 e 2001. No atual governo, o órgão está vinculado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Em sua declaração, o advogado afirmou que o presidente Bolsonaro caminha para confrontos, sentido-se todo poderoso para fazer e dizer o que bem entende. "[É} um processo paranoico perigoso", acrescentou. Reale Jr. considerou a atitude do presidente um crime gravissímo de incitamento, visto que a Constituição Brasileira considera a tortura um crime imprescritível.

Bolsonaro tem agenda marcada para esta quinta-feira (8), no Palácio do Planalto, com a viúva de Ustra, Maria Joseíta, que foi a revisora do livro de Ustra "Verdade Sufocada", que conta a versão dos militares durante o período da ditadura. "Tudo o que ela fez no tocante ao bom tratamento a elas (mulheres presas na ditadura), no tocante a enxoval, dignidade e parto. E ela conta uma história bem diferente daquela que a esquerda conta para vocês. Tem um coração enorme, eu sou apaixonado por ela. Não tive muitos contatos, mas tive alguns contatos com o marido dela enquanto estava vivo. Um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer", declarou o presidente.