Até a véspera da convenção, pré-candidato do PSD deve manter o mistério de qual direção vai tomar
O advogado Marcelo de Souza Brick (PSD), 39 anos, nunca escondeu a vontade de ser prefeito, tanto é verdade que foi o primeiro a anunciar a pré-candidatura para as eleições deste ano, O teste ele fez nas urnas em 2018, quando se lançou candidato a deputado federal. Com cerca de dez mil votos, Brick teve a certeza de que poderia disputar novamente a cadeira do Executivo gasparense. - já havia sido candidato em 2016, com a segunda maior votação. Mas, rumores de uma desistência para compor a chapa majoritária, na condição de vice-prefeito, ao lado de Kleber Wan-Dall (MDB), o atual ocupante da Praça Getúlio Vargas, se tornaram ainda mais fortes nas últimas semanas depois que Brick passou a fazer seguidas aparições ao lado de Wan-Dall em eventos públicos. Uma aliança MBD-PSD devolveria a tranquilidade que Wan-Dall precisa para entrar no pleito com larga vantagem sobre os adversários, enquanto Brick ficaria mais perto do seu objetivo, talvez projetando 2024. Nesta entrevista, ele foi convidado a falar ao Jornal Metas como pré-candidato a prefeito até porque ainda não se bateu o martelo, mas obviamente a primeira pergunta não poderia ser outra...
Jornal Metas: O senhor é pré-candidato a prefeito ou vice-prefeito?
Marcelo Brick: Sou pré-candidato a prefeito. Agora, naturalmente quem se dedica à vida pública acaba conversando com outras lideranças. Desde quando fui vereador me dediquei bastante a entender e a estudar sobre políticas públicas, por isso é natural que converse com outros candidatos até para saber se existem afinidades. Neste sentido, conversei com as lideranças do PP, MDB e com outras lideranças, mas até a convenção do PSD sou pré-candidato a prefeito e defendo as minhas bandeiras e do partido. Se acharmos que existe alguma convergência de ideias não vejo problema em trabalhar em conjunto para o bem maior que é o município.
JM: Existem propostas que convergem?
Brick: Há bastante coisas que foram colocadas em prática pelo atual governo e que a gente já previa no nosso plano de governo da campanha de 2016. Uma das propostas é a da mobilidade urbana, que sempre foi defesa minha e ainda é. Foram pavimentados os corredores dos nossos bairros e ampliada a camada asfáltica, porém, tem que melhorar mais. Tem que abrir os bairros e nos comunicarmos mais com os municípios da região, não dá para depender só da BR-470, cuja obra de duplicação não se sabe quando vai terminar ou de uma Jorge Lacerda ou ainda da Ivo Silveira. O Kleber fez algo que nós, na campanha de 2016, também defendíamos: a união da classe empresarial em torno da cidade. Existe hoje um Conselho da Cidade, formado por empresários, que está a todo o momento sugerindo melhorias. Existe muita coisa que pode ser feita em conjunto e que o "Avança Gaspar" conseguiu realizar com um pacote de obras interessante para a cidade. Nós até atualizamos o nosso plano de governo, pois muita coisa que precisava ser feito em 2016 hoje já não é mais necessário.
JM: Teoricamente, você teria em torno de 9 mil votos, que foi a votação para prefeito em 2016. Você acredita que vai transferir esses votos na eventualidade de compor a chapa com Kleber Wan-Dall?
Brick: Eu penso que a tendência é esses eleitores permanecerem comigo, claro que qualquer ação tem sempre uma reação. Mesmo assim, acredito que é um voto que permanece comigo porque eu sempre fui muito claro com os meus eleitores, não fico de bastidores pregando uma coisa e fazendo outra. Sou pré-candidato a prefeito, porém, existe sim a possibilidade de uma união pela cidade. Eu vejo que as pessoas estão muito preocupadas com a cidade e como vai ser depois dessa pandemia. Esse é o debate verdadeiro numa campanha eleitoral.
JM: Essa possibilidade de ser vice-prefeito tem relação com alguma pesquisa interna do partido mostrando que essa ainda não é a eleição com chances de vitória?
Brick: De 2012 a 2018, o PSD sempre teve candidato em Gaspar. Em 2012 foi com a Tereza, em 2016 comigo e em 2018 novamente eu. Isso vai fortalecendo o partido. Hoje, o PSD coloca como prioridade uma candidatura na majoritária, com uma boa nominata de vereadores e levando todas as nossas bandeiras para a campanha, mas também entende que o momento é de união. Não se trata de discutir se o candidato usa o cabelo para um lado ou para outro. Eu sinto hoje que as pessoas querem saber o que o candidato vai fazer pela cidade, O PSD realiza pesquisa interna e sabe da real posição que está hoje, assim como sabe do PT, do atual governo e dos demais partidos. Mas, o fator determinante é o de juntar forças pelo município.
JM: Ser candidato a vice-prefeito em uma chapa que já é governo é aceitar o que já está sendo feito. Já se você for candidato a prefeito e se eleger, você vai poder colocar o seu projeto de governo em prática. O programa de governo do PSD é melhor do que o do atual governo?
Brick: Evidente que se você se elege prefeito vai poder colocar o seu plano de governo em prática. Agora na condição de vice-prefeito eu não vejo pelo lado da continuidade, porque eu quero também levar as minhas ideias para melhorar ainda mais a cidade Tem uma série de coisas que eu acho que posso contribuir tanto como prefeito quanto como vice. Aliás, se não for para contribuir não faz sentido eu ser vice-prefeito.
JM: Hoje, a base de sustentação do governo Wan-Dall é grande. Você acha que teria espaço para mais um partido nessa distribuição de cargos, que na prática é o que acontece com essas coligações?
Brick: Hoje tem em Gaspar muito partido de uma ou duas pessoas No passado dava certo porque tinha coligação na proporcional, hoje os partidos tem que mostrar que são partidos políticos de fato. Essa será a primeira eleição sem coligação na proporcional. Aqueles partidos que não são partidos vão acabar. Existem no governo alguns partidos coligados, mas eu não saberia te dizer como é feita essa divisão de cargos porque não estou lá, mas é natural que se o PSD entrar na coligação terá que ter espaço no governo além do cargo de vice-prefeito.
JM: Uma boa nominata de candidatos a vereador também é fundamental para formar uma base no Legislativo? O partido tem hoje essa nominata?
Brick: O PSD trabalha para manter a duas cadeiras que tem hoje, embora tenha perdido o vereador Cícero Amaro que foi para o PL. Mas, o Giovano Borges retornou para o PSD para ser candidato a vereador, além de outras lideranças. A ideia, portanto, é ter novamente dois vereadores e até projetar uma terceira cadeira. A Câmara de Vereadores é fundamental até porque se não fosse o legislativo nós não teríamos hoje esse pacote de obras no município, pois foram os vereadores que aprovaram os empréstimos.
JM: O próximo prefeito vai enfrentar um quadro financeiro complicado por causa da pandemia e, no caso de Gaspar, tem ainda a situação dos empréstimos que não se sabe exatamente o tamanho da dívida. Isso o preocupa?
Brick: Motiva. A cidade inteira ainda vai "sangrar" muito por conta dessa pandemia. O próximo prefeito precisa estar muito bem orientado neste sentido porque essa conta da pandemia virá na próxima administração, Já com relação aos empréstimos, eu percebi, embora não esteja no do governo, que a prefeitura não ficará endividada porque o índice de comprometimento do orçamento foi respeitado, hoje se trabalha com 40% do limite da folha de pagamento enquanto na época do prefeito Celso Zuchi era 52%. Penso também que esse pacote de obras, o Avança Gaspar, vai trazer um resultado positivo para a cidade.
JM: A área da saúde é sempre muito complexa, inclusive com a eterna questão do endividamento do hospital? Se prefeito, você tem algum projeto diferente do que se tem hoje para a saúde?
Brick: As pessoas precisam aprender que se acontecer qualquer coisa que não implique em risco de morte, o caminho são as unidades de saúde, e quando tem algo que é um risco iminente de vida deve-se procurar o pronto atendimento do hospital. Essa comunicação vem se tentando fazer, mas não funciona. As pessoas acabam indo para o hospital. Portanto, a primeira coisa é deixar claro para onde o doente deve se dirigir, fazer a triagem e depois encaminhá-lo para o atendimento no local correto. Além disso, penso que o hospital precisa ser referência em alguma coisa e trabalhar em cima dela porque outros municípios da região vão poder encaminhar pacientes para Gaspar. O hospital vai receber um tomógrafo, a partir de agora ao invés de Gaspar mandar pacientes para outras cidades, eles vão começar a enviar pacientes para fazer os exames aqui, o que vai criar receita para o hospital.
JM: Se você for candidato a prefeito, quem será o seu vice?
Brick: Conversamos com pré-candidatos de outros partidos, como a ex-vereadora Andréia Nagel, o próprio Giovano Borges, mas isso ficou em suspense porque ainda não se havia a definição se de fato teríamos eleição este ano, além da questão da pandemia que impediu que ampliássemos as conversas. Hoje existem alguns nomes, mas nada definitivo. Ainda estamos na busca.
JM: Em 2016, quando você concorreu a prefeito, vinha de um mandato de vereador. Agora você está há praticamente quatro anos sem mandato eletivo. Isso pode pesar na campanha eleitoral?
Brick: A campanha a deputado federal me ajudou bastante, caso contrário seriam quatro anos fora da mídia. De certa forma, além de consolidar essa vertente política, ainda tive esse contato com o eleitorado tanto para pedir quanto para agradecer o voto. Portanto, eu estou há um ano e meio sem ser candidato, Mas, como eu sou a liderança do partido em Gaspar (é o atual presidente) acabo usando dessa ponte com a esfera estadual, como por exemplo, a recente vinda dos dez respiradores para o hospital e outras coisas que conquistamos para a cidade por meio de emendas parlamentares de deputados do nosso partido. Agora, terá diferença na eleição porque quem tem mandato sempre sai na frente.
JM: se não estou enganado, o atual vice-prefeito (Luiz Carlos Spengler Filho, o Lu) não assumiu uma única vez a cadeira. Você acha que o atual governo vai mudar essa postura com o vice Marcelo Brick?
Brick: Evidente que a expectativa é participar da gestão. Então a minha posição, se for para recuar de uma candidatura a prefeito, seria para efetivamente participar.
JM: Então, a tua ideia é assumir o cargo em algum momento. Correto?
Brick: Eu não estou saindo de casa como pré-candidato a vice-prefeito, eu sou pré-candidato a prefeito. Claro que existem conversas não só comigo, mas com outros partidos, mas isso não será o fiel da balança para eu decidir se serei candidato à vice ou a prefeito. Agora, eu só aceito ser vice-prefeito se participar efetivamente das ações do governo, independente de estar ou não interinamente na cadeira de prefeito.
JM: Você acredita que a política de fato está mudando e teremos um cenário diferente em Gaspar nas próximas eleições?
Brick: Sim. Nenhum pré-candidato em Gaspar defende algo diferente do atual momento político do país. Agora, o que se viu depois de 2018 foi muita demagogia e leviandade até porque o PSL era um partido intocável e menos de um ano as suas principais lideranças constituíram outro partido, o Moisés (governador de Santa Catarina) rompeu com o presidente Bolsonaro, que também perdeu estrelas como o ministro Sérgio Moro. Na prática ainda não sentimos uma mudança de fato. Agora, também nunca vi ninguém defender a sacanagem na política. É natural que haja um reflexo dessas mudanças nas eleições deste ano até porque as mídias sociais deram a oportunidade da população opinar, é claro que deveria ser um debate em alto nível, porém, o que se vê é discussões superficiais. Se debate a parte "suja" e que não vai contribuir em nada para o país. Mesmo assim, eu vejo como positivo essa ruptura com a roda da esquerda assistencialista para o surgimento de uma vertente voltada para todas as áreas tanto do empresário que paga a conta quando das pessoas menos favorecidas que precisam de ajuda do governo. Por isso, o PSD se coloca como um partido de centro porque enxerga os dois lados da moeda, não apenas a regra do mata um pra sobreviver o outro, como fazia o PT e agora vem fazendo algumas linhas mais radicais da ala bolsonarista.
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