Feriado da Proclamação da República mostrou que manifestações vão continuar por tempo indeterminado

A resistência e a convicção nos ideais de liberdade, pátria, família e um Brasil melhor são combustíveis que tem mantido milhares de pessoas em vigília, há mais de duas semanas, em frente aos quartéis do Exército, Marinha, Aeronáutica e outras instituições militares por todo País. Os manifestantes garantem que têm disposição para permanecer nos locais por tempo indeterminado ou até que as Forças Armadas tomem posição quanto ao futuro do país, a partir de 1º de janeiro de 2023, quando o novo governo assume.
O movimento, que entre outras pautas, contesta o resultado do segundo turno das eleições de 30 de outubro, tem ocorrido de forma pacífica, inclusive com a presença de crianças. O Estado de Santa Catarina é onde a participação popular está mais forte, com passeatas e concentrações em várias cidades. Em frente ao quartel do 23º Batalhão de Infantaria (BI), no bairro Garcia, em Blumenau, as pessoas se revezam numa vigília permanente que nem o calor dos últimos dias conseguiu afastá-las. O setor de comunicação do 23° BI de Blumenau informou que, apesar do evento acontecer em frente ao batalhão, não tem ligação com o exército.
No último dia 15 de novembro, quando se comemorou a Proclamação da República, os acampamentos foram reforçados pela presença de milhares de pessoas, que se uniram para pedir por um Brasil melhor, mais transparêente, a inelegibilidade do presidente eleito, protestar contra a interferência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições e das últimas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Os participantes empunhavam cartazes citando artigos da Constituição Brasileira. Por várias vezes o Hino Nacional foi entoado e frases de ordem repetidas, tais como: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. Os manifestantes também oraram e pediram por liberdade, por um país melhor e mais justo. Um carro de som reforçou os protestos.
A reportagem procurou alguns participantes do movimento em Blumenau, mas eles preferem não dar declarações, pois alegam que estão sendo censurados por emitirem opiniões.
As manifestações por um Brasil melhor iniciaram ainda no domingo, dia 30 de outubro, logo após o resultado das urnas que deram a vitória ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O impulso inicial foi o fechamento de rodovias em praticamente todos os estados, mas, na medida em que as forças de segurança foram desbloqueando as estradas, os manifestantes passaram a se concentrar em frentes aos quartéis do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, da Polícia Militar e de outras instituições militares e de segurança.

Pelo Estado
Em Florianópolis, há duas semanas os manifestantes estão acampados em frente ao 63º Batalhão de Infantaria do Exército, no Estreito. No último dia 15, a organização calcula que cerca de 10 mil pessoas participaram dos atos. Os manifestantes cantaram os hinos do Brasil e da Independência e gritaram palavras de ordem.
Em Chapecó, a concentração aconteceu é em frente ao Batalhão da Polícia Militar, na Avenida Getúlio Vargas, no Centro da cidade. Na cidade litorânea de Itajaí, os manifestantes estão em frente à sede da Marinha do Brasil, próximo à região portuária da cidade. Cidadãos de cidades próximas como Navegantes e Balneário Camboríu também participam das manifestações que ocorrem desde o dia 2 de novembro.
No Norte de Santa Catarina, em Joinville, o 15 de novembro foi marcado por uma motociata, com saída da Expoville. À tarde, os manifestantes permaneceram na Praça da Bandeira. Em Lages, na Serra Catarinense, eles ocuparam a Praça do Batalhão, numa vigília de 24 horas.

Silêncio quebrado
Os atos ganharam mais força a partir do dia de 7 de novembro para cá, após manifestações dos militares e do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal. O magistrado defendeu ser preciso respeitar as manifestações, desde que sejam “pacíficas”. “O papel de todos nós é de serenidade, de respeitar essas manifestações pacíficas. E, ao mesmo tempo, buscar gerar uma pacificação no ambiente nacional que nos ajude a desenvolver e olhar pro futuro numa boa perspectiva. Logicamente que são ideais que às vezes se contrapõem num cenário eleitoral”, disse.
Na mesma direção, uma nota divulgada pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, no dia 11 de novembro, acabaram legitimando as manifestações os comandos das Forças Armandas “reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil”, diz a nota.
Os comandantes reafirmaram o direito à livre manifestação e chamaram a atenção para eventuais excessos cometidos que possam restringir direitos individuais e coletivos. Embora os militares mantenham o silêncio sobre os protestos, já houve manifestações individuais de apoio ao movimento. Uma das mais sgnificativas foi a do General da Reserva, que comandou o Exército Brasileiro de 2015 a 2019, Eduardo Villas Bôas que, no último dia 15, publicou em seu twitter uma carta onde, em um trecho, afirma o seu apoio ao movimento:
“Com incrível persistência, mas com ânimo absolutamente pacífico, pessoas de todas as idades, identificadas com o verde e o amarelo que orgulhosamente ostentam, protestam contra os atentados à democracia, à independência dos Poderes, ameaças à liberdade e as dúvidas sobre o processo eleitoral”.