As histórias de Chiminelli, que por quase 50 anos transportou moradores do Barracão e Óleo Grande no seu táxi
data-filename="retriever" style="width: 100%;">
Oscar foi um dos primeiros taxistas de Gaspar / Foto: Daniel Schattschneider/
Se algum morador do bairro Bateias, Barracão e Óleo Grande precisasse de carona em Gaspar ou até mesmo para outra cidade era só ligar, agendar ou bater palmas na frente da casa de seu Oscar Chiminelli, que ele prontamente atendia. Era assim que trabalhava um dos primeiros motoristas de táxi de Gaspar. Seu Oscar, hoje aos 79 anos, trabalhou "na praça" até o ano passado, mas a idade e os próprios perigos da profissão o forçaram à aposentadoria. Nos últimos anos, as viagens eram bem mais curtas, porém, a satisfação de transportar pessoas nunca mudou na vida do seu Oscar nestes 46 anos de profissão.
"Eu sempre gostei de dirigir carros", afirma Oscar, enquanto vai remexendo no baú da memória para contar como a história desde o começo. Ao seu lado, a principal incentivadora da profissão, a esposa Elzira, com quem está casado há 56 anos. "Eu dirigia caminhão antes de ter o ponto de táxi, mas daí eu passei a dar carona para o povo daqui do Barracão e acabei gostando do trabalho", relembra seu Oscar.
O sonho do ex-motorista de ter um ponto de táxi no bairro Barracão iniciou há quase meio século, em 1973. Na época, os moradores do Barracão ainda usavam como principal meio de transporte a carroça, porém, a mobilidade do trânsito já permitia o transporte de passageiros em veículos a motores.
"Eu via pessoas sendo transportadas em carroças e pensei: 'poxa, seria interessante um serviço de táxi por aqui". Foi então que vi que o Victor [Della Justina] estava oferecendo um ponto de táxi, essa era a oportunidade de eu ter o meu aqui no bairro", diz Oscar.
Victor Della Justina foi o primeiro dentista da região. Dona Elzira lembra que seu Victor foi um ótimo parceiro para a família Chiminelli. "Ele sempre ajudou a gente em tudo que nós precisávamos", elogia. Ao assumir o ponto, Oscar era dono de um clássico Simca de luxo, estilo "Fordão" com barbatanas na traseira.
E a primeira viagem? Essa seu ele não esquece. Seu Oscar levou um passageiro do Barracão até o Hospital Santa Isabel, em Blumenau. Uma viagem que ele repetia diariamente.
"Eu precisava levar essa pessoa todos os dias a Blumenau, e ficava esperando para trazê-la de volta". Desde então, Oscar ficou encarregado de atender as demandas de transporte dos moradores da região. "Eram passageiros que precisavam ir ao médico, visitar um parente, fazer negócios, compras, ou até mesmo fazer visitas em outras cidades", relata.
Seu Oscar recorda também da viagem mais longa: até a cidade de Paranaguá, no Litoral do Estado do Paraná. Foram 225 quilômetros do bairro Barracão até a cidade paranaense e outros 225 para retornar. "Era uma viagem de negócios que a pessoa precisava fazer", revela o ex-motorista. "Eu não fui lá apenas uma vez, mas sim várias vezes, quando esse cliente solicitava a corrida."
Apesar de toda a experiência que adquiriu ao longo dos anos, Oscar e a esposa sabem que a profissão de motorista de táxi exige também muita coragem, pelo fato de transportar muitos passageiros desconhecidos. Por diversas vezes, dona Elzira ficou apreensiva em casa ao ver o marido dirigindo de um lugar a outro, ficando muitas vezes o dia inteiro distante do ponto.
Seu Oscar já passou por um momento de muita tensão, quando presenciou um crime. "Dois homens chegaram no ponto perguntando se eu poderia fazer uma corrida, mas só depois de uns cinco minutos. Eu falei: 'tudo bem', e fiquei aguardando. Nesse tempo, eles cometeram uma tentativa de assassinato na minha frente, e eu tive que aceitar a corrida combinada. É uma profissão perigosa", observa o motorista.
Na cena do crime
Ao mesmo tempo em que seu Oscar relembra casos que exigiram dele muito sangue frio, também recorda das vezes que ajudou pessoas. "Certa vez, vi uma senhora caminhando na rua e ofereci carona. Tempos depois, ela estava junto de meu filho recém-nascido, e jogou uma bênção nele. Ela me disse que era porque eu dei carona para ela naquele dia", emociona-se seu Oscar.
O ex-motorista também fazia boas ações para evitar acidentes de trânsito nas ruas. "Eu ficava até tarde da noite alguns dias para levar as pessoas embriagadas para casa e evitar que elas dirigissem alcoolizadas. Eu sentia que estava ajudando essas pessoas, e também todas as outras que estavam nas estradas", descreve o ex-motorista.
Seu Oscar nem sempre foi apenas motorista de táxi. Dona Elzira o ajuda a lembrar dos tempos difícieis do começo, quando ele era obrigado a ter outras atividades para reforçar a renda, como dono de cancha de bocha, motorista de caminhão, serralheiro, e até mesmo cabelereiro nos finais de semana. "Eu mesmo o ajudei a cortar cabelo segurando vela, numa época em que nem luz elétrica a gente tinha, pra você ver a dificuldade que era naquele tempo", relata a simpática senhora. Oscar aproveita a deixa e emenda com certo orgulho: "Olha, a profissão de taxista, mesmo com os perigos do caminho, foi até tranquila se comparada com o que eu já fiz na vida". O ex-motorista ficou tão conhecido nas redondezas que tentou até uma eleição para vereador, em 1982. "Não me elegi por pouco, o mínimo eram 333 votos, eu fiz 305", revela Oscar.
Um homem que nasceu no bairro e ajudou a criar o primeiro ponto de taxi da região dos bairros Barracão e Óleo Grande por quase 50 anos, próximo aos 80 anos de vida agora precisa descansar, mas o tempo vai passar e os moradores do Barracão e Óleo Grande nunca vão esquecer do primeiro motorista de táxi da região.
Deixe seu comentário