Vitório e a paixão pela agricultura no Barracão
Agricultor planta há quase 30 anos nas terras arrendadas da família Censi
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Vitório cuida das lavouras de arroz e a esposa, Luciana, do manejo do gado / Foto: Alexandre Melo/Jornal Metas
As terras já foram de Antônio Barbieri, depois passaram para Otto Censi, homem influente e de muitas posses na localidade do Óleo Grande, no Barracão. Houve época em que seis famílias arrendavam a propriedade. Era o tempo dos engenhos de farinha e do arroz irrigado. Os filhos de Otto herdaram a propriedade e mantêm uma promessa feita ao pai: a de nunca quebrar o contrato com Vitório João dos Santos, hoje o único arrendatário das terras e um dos três rizicultores ainda em atividade no Óleo Grande. Já se passaram 29 anos, ou 29 safras que o agricultor, de 56 anos, nascido no Alto Gasparinho, planta arroz em 25 hectares. "Seu Otto era uma pessoa muito justa", elogia Vitório. Apaixonado pela agricultura, ele fala com empolgação da profissão que aprendeu com o pai, Silvio João dos Santos, de 85 anos, e já aposentado. "Eu tenho um amor pela roça que você nem imagina...".
Do preparo da terra à colheita, praticamente todos os dias Vitório está na propriedade. "O arroz é igual criança recém-nascida, você precisa ficar de olho 24 horas", observa. Para o agricultor, a lavoura de arroz exige carinho e atenção. "Muito agricultor não vai pra frente porque não tem amor pelo arroz", observa.
A propriedade fica na Rua Amadio Beduschi - Estrada Geral do Óleo Grande - em frente à Igreja Santa Catarina de Alexandria. Vitório faz questão de mostrar o templo, que se avista da propriedade. Quando chega para a lida, ele se volta para a igreja e agradece a Deus a saúde que lhe permite plantar e colher por quase três décadas.
Aliás, a vida na roça começou antes dos sete anos de idade. Vitório e seus três irmãos auxiliavam o pai nas lavouras de mandioca, arroz e cana-de-açúcar. Na época, trabalhar na roça exigia muito sacrifício, pois tudo era tudo manual. O pai era dono de engenho de cachaça e de farinha. "Cachaça eu não sei fazer, só beber, mas farinha ainda faço pra consumo próprio", conta o bem-humorado agricultor.
Seus irmãos acabaram desistindo da agricultura. "Não dava pra todo mundo viver da lavoura, eles foram então trabalhar nas fábricas, hoje estão aposentados e eu, o mais teimoso, vou demorar a aposentar", diz Vitório.
O rizicultor conta que, no passado, não havia toda essa fartura de alimentos. "A gente comia o que tinha ou o que plantava". Não raras vezes, o pai trocava o que produzia por outros produtos agrícolas, como por exemplo, farelo para a criação de porcos. Hoje é diferente, tudo o que você collhe é para vender". Mesmo com uma colheitadeira, a mão de obra era braçal. "A máquina ia cortando o arroz e nós íamos atrás juntando e colocando no saco", recorda Vitório. Ele diz que há 40 anos chovia bem mais na região. "Levava três dias para sair a água da arrozeira, inundava o terreno. Hoje dá uma chuva e a água já vai embora. No meio da propriedade havia uma lagoa, onde era difícil não pegar peixe", revela,
É verdade que muitas vezes o clima não ajuda. Quem planta precisa sempre estar com um olho no céu e outro na terra, pois uma chuva de granizo ou o ataque de pragas podem colocar a perder o trabalho de meses. "Já perdi muitas lavouras, mas nunca pensei em desistir; se perco num lado, ganho de outro", diz Vitório com otimismo.
Embora o custo dos insumos tenham aumentado, ele não pode se queixar do preço do arroz, que melhorou bastante nos últimos anos. "Deu pra saír do valo e vir para cima do tapume", brinca. Hoje, ele colhe 3.000 sacas na propriedade do Óleo Grande e outras 2.000 no Alto Gasparinho em terras arrendadas. Vitório iniciou, neste mês, a colheita da safrinha, também chamada de ressoca, mas a previsão é de baixa produtividade. Assim que concluir a colheita, ele começa a preparar a terra para o plantio do arroz. "O trabalho não para, em época de colheita vou até à meia-noite", diz o agricultor.
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Foto: Alexandre Melo/Jornal Metas/Vitório: amor pela roça
Casamento
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Foto: Alexandre Melo/Jornal Metas/Vitório cuida das lavouras de arroz e a esposa, Luciana, do manejo do gado
Mas, a vida de Vitório não se resume a trabalhar na roça. Sobrou um tempo para ele conhecer, namorar, noivar e casar com Luciana Simon dos Santos. E lá se vão 30 anos de união e duas filhas. "Ela é uma mulher parceira", elogia Vitório. E quando ele fala em parceria, não é apenas a de marido e mulher; na propriedade os dois dividem atividades. Enquanto ele cuida da lavoura, Luciana trata do gado de corte e das vacas de leite - cerca de 30 cabeças. "Já ajudei bastante na lavoura, mas hoje cuido só da pecuária", explica Luciana.
Filha de agricultores do Arraial Baixo - Eumar Simon e Maria de Lourdes Simon, Luciana também aprendeu com os pais a lida no campo. Com seis anos já auxiliava nas lavouras. "Meu pai plantava cana-de-açúcar, mandioca, criava vaca de leite e produzia mel, queijo e nata, depois de um tempo ele acabou com as vacas e ficou só na rizicultura.
Ela lembra de cortar arroz a ferro. "Eu e meus irmãos íamos na carroça junto com os feixes de arroz, era muito divertido". Antes de irem pra escola, Luciana e os irmãos levantavam cedo para tirar leite das vacas. "Não tinha vida fácil, todos trabalhavam na roça". Luciana até tentou sair da agricultura, trabalhando quatro anos numa indústria têxtil, mas quando casou retornou à lida do campo para ajudar o marido.
Mesmo com toda a tecnologia, ela garante que a rotina no campo ainda é muito dura, "Não é só entrar na máquina e colher, há ainda muito trabalho manual no dia a dia", finaliza.