Vida sobre rodas

Vida sobre rodas

Tenho um grande amigo, alma boa e profissional competente, que enfrenta de peito aberto as dificuldades impostas pela carreira que ele escolheu, de auditor interno do Poder Executivo. Seu nome é Augusto e ele lidera uma equipe que tem como maior missão fomentar o controle interno nos órgãos públicos e economizar no que for possível em compras e contratos do Governo do Estado. Além das pressões da profissão, ele enfrenta muitas outras barreiras que seus colegas desconhecem. Augusto é cadeirante.

Não raras vezes, deixou de participar de viagens, reuniões e mesmo eventos de confraternização. Nem tanto por questões de saúde, mas de acessibilidade. Augusto é apenas um exemplo próximo do grande número de brasileiros que vivem sobre rodas num mundo pouco amigável às suas condições, cheio de obstáculos físicos e culturais.

Quase 24% da população brasileira é composta por pessoas que possuem algum tipo de deficiência. O Brasil possui 45 milhões de Pessoas com Deficiência (PCDs) segundo o último Censo do IBGE. Existem iniciativas louváveis de inclusão, mas também é grande a desinformação e o preconceito - declarado ou velado. Além de enfrentar as dificuldades impostas por sua deficiência, essas pessoas precisam lutar permanentemente para mostrar sua eficiência.

Além da convivência com meu amigo Augusto, a vontade de escrever sobre o tema me voltou essa semana ao ler no jornal sobre o concurso "Miss Mundo Cadeirante", que vai acontecer em outubro na Polônia e tem uma brasileira no páreo, a jornalista Carla Maia. Na entrevista, ela disse que relutou em participar com receio de que fosse mais uma forma de segregação. Mas que, pensando melhor, viu ali uma grande oportunidade de mostrar que uma limitação grave não impede a pessoa de ser atraente, se relacionar e ser plena. A bandeira de Carla é quebra de preconceitos e defesa da acessibilidade.

Essa bandeira precisa ser de todos nós. Independente do tipo de deficiência, todos têm direito a condições de inserção. Enquanto for um martírio atravessar uma rua, subir em um ônibus, trafegar em uma calçada, entrar em um elevador ou simplesmente ir ao banheiro, não fará muito efeito ter cotas reservadas para portadores de deficiências em concursos públicos ou nos quadros de funcionários das empresas. Se sou cadeirante e consigo um emprego, mas não tenho condições de chegar sozinho até ele, fica difícil.

O Augusto, felizmente, tem condições financeiras e pode se assessorar dos equipamentos necessários para o exercício da sua profissão. Tem um veículo adaptado e pessoas que o auxiliam nas tarefas diárias. Mas essa não é a realidade de todos. Nós, que temos todas as condições físicas, precisamos abrir os caminhos, exigindo que se cumpram os critérios mínimos de acessibilidade. Deixando de frequentar lugares que não os cumpram, trabalhando por mudanças nas legislações, educando nossos filhos - inclusive exigindo das escolas que estejam preparadas para todos os tipos de alunos.

O mínimo que nos cabe é respeitar e fazer cumprir os poucos direitos conquistados por essa parcela da população. E pensar duas vezes antes de estacionar em uma vaga reservada, nem que seja por dois minutinhos.

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