Ken e o que somos
Desde a minha infância eu escuto afirmações as quais sempre se voltavam a um mesmo tema: o ser homem. Frases como: “tem que ser homem se quiser subir na vida” são conceitos desvairados e cansativos que se cristalizaram em várias gerações. Aos meus vinte e três anos, felizmente posso quebrar esse ciclo e gritar: isso é tudo besteira!
Digo felizmente, pois, há poucos anos, quando me livrei dessas ideias antigas, senti a leveza em não ter obrigação de provar alguma coisa. Afinal, o conceito de “ser homem” é uma busca externa para mostrar ao mundo que um possui as características que o fazem homem – sem explicar, ou sequer saber, o que exatamente isso significa.
Com o recente filme da Barbie, estrelado pela perfeita Margot Robbie, vemos o ator Ryan Gosling interpretando Ken, o boneco da representação masculina que foge do conceito opressivo que intoxica muitos homens. Um personagem que não se importa em provar sua virilidade para ninguém.
Quem dera se todos os homens fossem um Ken. Tudo bem, posso estar exagerando, entretanto, imagine o quão saudável seria o fim dessas disputas sem sentido em que precisa mostrar sua virilidade: fragilizando egos por conta do tamanho do pênis, o quanto de mulher já se relacionou e o quão corajoso seria para defender sua masculinidade. Ainda estamos no tempo em que se deve respeitar a hierarquia daquele que se mostra mais que os outros.
“O homem que é homem impõe medo a todos ao redor.” Percebam. E o homem que desiste dessa representação não é mais aceito em ambientes de machos alpha. Ora, é provável um Ken fazer parte de uma Barbilândia do que um Jhonny Bravo entrar nesse paraíso matriarcal. E se conseguisse, deixaria de ser um paraíso, pois a polaridade do rosa e da elegância se desequilibraria em tons escuros e temas rudes. Então, um Ken deixaria de ser um Ken por ser cobrado a abandonar o homem que é.
A felicidade sempre incomoda. E quando um homem apresenta jeitos e trejeitos femininos, ele é coagido a parar de ser o que sempre foi para se encaixar num conceito que não lhe cabe, perdendo, assim, sua espontaneidade. Há de se concordar que o que torna o personagem de Ryan Gosling tão divertido é o seu jeito único e amoroso, e que nos causa certa revolta quando o seu Ken começa a agir como todos os outros homens no meio do filme. Pois ali vemos o conceito do homem que é homem sendo usado de tapume para esconder as inseguranças do personagem. Quando a Barbie nunca o via como o par romântico que ele queria ser, Ken decide virar o jogo e tentar assumir o controle, mas acaba com maior insatisfações do que poderia suportar.
Aposto que, se tivesse assumido quem ele realmente é até o fim, sem ter abdicado de sua espontaneidade, ele teria sido um Ken mais fiel a si e, por consequência, muito mais feliz.
Bruno C.
Estudante universitário
e escritor aprendiz