O Brasil tem um potencial enorme para explorar seu turismo, mas os preços das passagens aéreas ainda são muito caros. É possível baratear os custos?
R. O preço das passagens no Brasil está no seu ponto mais alto. Com a liberdade tarifária praticada desde 2001 e instituída por lei em 2005, os preços médios das passagens caíram e veio o aumento do “yield” - retorno médio por km voado por assento ocupado . Neste modelo, as compras feitas com antecipação são largamente subsidiadas pelos compradores de última hora . No final, o que faz com que as passagens fiquem mais caras são os altos impostos e o repasse dos custos operacionais em dólares . Por isso a necessidade de reformas . Em São Paulo como secretário no governo Doria, baixamos o ICMS do combustível das aéreas de 25 para 12 por cento , aumentando as frequências em 800 voos por semana - e no Governo Temer , como ministro, já havíamos aberto o capital das aéreas brasileiras ao capital internacional . No final das contas ,porém, a maior diferença está na renda , quando comparamos com os EUA: a média de preços de passagens aéreas dentro dos EUA é de US$ 245; no Brasil, de US$ 133 nominais; no entanto, se considerarmos o ajuste por poder de compra seguindo o método de Purchase Power Parity, do Banco Mundial, que considera o poder de compra, o preço médio da passagem aérea dentro do Brasil equivaleria pelo menos a US$ 257 nos Estados Unidos.
2)Hoje, ainda é mais barato fazer turismo no exterior do que no Brasil. Por que isso acontece?
R. O Brasil é um país ineficiente por isso tem um consumo caro, de forma geral - somos muito taxados. Somos o país da burocracia, dos impostos e dos juros altos . Somos um país de renda média e desigual, também com um problema de escala. Quando comparamos os preços de hotéis e resorts aqui e nos EUA , por poder real de compra , a PPP , “Purchasing Power Parity “, enxergamos melhor a realidade: a média da diária de um hotel 5 estrelas na cidade de São Paulo, por exemplo, é de R$ 1.350, o que são US$ 275, e com o ajuste por PPP, ficariam em US$ 530. Em Nova York, a média da diária de um hotel 5 estrelas é de US$ 504. Já os resorts brasileiros de “5 estrelas” praticam uma diária média de R$ 2.000, o que são US$ 410 nominais, ou US$ 790 PPP. No Caribe, com grande capacidade de escala, a diária do resort de padrão médio-alto oscila entre US$ 350 e 500.
3)Os nossos aeroportos melhoraram com a privatização de alguns deles? O que ainda falta fazer para termos infraestrutura aeroportuária melhor?
R. Sim , melhoraram muito de uma maneira geral, apesar de problemas em alguns casos, como Galeão e Viracopos, que estão sendo equacionados. Em alguns aeroportos a privatização foi extremamente bem-sucedida como o de Florianópolis, por exemplo, com a Zurich Airport , que saltou de pior aeroporto do Brasil à posição de melhor, na avaliação dos usuários . No final das contas, o turismo brasileiro cresceu muito nos últimos anos e vem retomando mais forte no pós-pandemia . Poderíamos ser uma estrela mundial no turismo. Temos o maior potencial natural do planeta para desenvolver o turismo e um dos dez em potencial cultural. No entanto, o ambiente de negócios para desenvolver o turismo no Brasil ainda está entre os piores do planeta. A Economia do Turismo no Brasil não tem o status de importância política, econômica e social que tem nos países europeus, orientais e da América do Norte.
Vejamos um sintoma evidente: a economia do Turismo que representa 8% do PIB e 9 milhões de empregos sequer ganhou um PAC do Turismo. Enquanto o crédito do agrobusiness tem R$ 400 bilhões, o Fungetur tem R$ 1 bilhão - e quase nada para a promoção no Brasil e no exterior, apesar dos esforços do Ministério, da Embratur, do trade e de parlamentares. O turismo não é central na estratégia do país. Mas qual seria estratégia do país?

Vinicius Lummertz, ex-Secretário Turismo do Estado de São