
Paixão de cristo, paixão do mundo

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Artigo da edição da semana 10/04/2025 (Fotos: Jornal Metas)
Está próxima a páscoa. Os cristãos celebram o “mistério pascal”: Jesus Cristo morreu e ressuscitou! É a vida que vence a morte. Este é o motivo da semana santa à qual tem seu ponto alto na celebração da Páscoa, que quer dizer passagem. Passagem de Jesus Cristo, da morte na cruz, para a vida que não se acaba. Para Deus até a escuridão é luminosa, esta frase de um salmo pode bem dar o tom e o sentido da celebração pascal.
É bom renovar a esperança em meio ao desespero que nos cerca. Aqui bem perto de nós, no Grande ABC, a violência e insensibilidade está presente, através dos despejos de famílias que não tem para onde ir. É errado ocupar terreno alheio, mais errado é o modo como a terra é repartida, em um país cuja Constituição diz que todos tem direito à moradia, mas isto não é cumprido.
Lá fora também se revive a paixão de Cristo nas muitas guerras em andamento, cujo emblema é o conflito na Facha de Gaza onde crianças, idosos, doentes são humilhados e, famintos, expulsos e encurralados. O terrorismo é criminoso. O combate a ele não pode igualá-lo. Na Terra Santa onde Cristo viveu, o sofrimento de ambos os lados revive sua paixão e morte. Por isso é bom celebrar também sua ressurreição: esperança de vitória da vida e da paz.
A semana santa é um itinerário seguindo Jesus no seu sofrimento com os olhos voltados para o sofrimento do mundo. Paixão de Cristo, paixão do mundo! Esta semana inclui o domingo de Ramos, no qual se celebra a entrada de Jesus em Jerusalém, montado em um jumentinho, montaria dos pacíficos. Ele é aclamado como o Messias. Os fiéis revivem este momento aclamando Jesus com palmas e ramos que são abençoados, para serem colocados nas casas como gesto de fé e adesão a Cristo.
A quinta-feira santa celebra dois momentos do itinerário de Jesus nesta semana: a instituição da Eucaristia, quando Jesus abençoa e parte o pão dizendo aos discípulos: “Isto é meu corpo, que é entregue por vós”. Da mesma forma abençoa o cálice com vinho dizendo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue”. O segundo momento é quando Jesus ensina como se deve viver o amor ao próximo no dia a dia: através do serviço. Para dar o exemplo, ele lava os pés dos apóstolos!
Na sexta-feira santa é celebrada a morte de Cristo na Cruz: “Tendo nos amado, amou até o fim”. O amor de Cristo até a morte, é o grande sinal do respeito de Deus por nossa liberdade. Ele prefere morrer por nós, do que nos obrigar a aceitar à força sua pessoa e ensinamentos. Em Jesus Deus sempre espera que lhe retribuamos amor com amor. Assim, a cruz é obra do amor! É o amor que salva e não o sacrifício.
No sábado santo a Igreja em silencio, medita e espera a ressurreição. Na noite deste dia acontece a Vigília Pascal, a principal celebração da Igreja. Nela celebra a vitória de Cristo sobre a morte. A morte o tragou, mas lá de dentro da morte Jesus matou a morte, fazendo-a implodir. Ela não tem força na vida de quem crê. É uma celebração belíssima com quatro partes: Liturgia da Luz que vence as trevas, Liturgia da Palavra, Liturgia do Batismo na qual se renovam as promessas batismais e Liturgia Eucarística.
E por fim o Domingo de Páscoa que é o dia da alegria e da vitória de Jesus Cristo. Ele aparece aos discípulos e lhes comunica a Paz e o Espírito Santo. Assim todos nós pela fé podemos participar também de sua vitória. As coisas antigas já se passaram, cantamos, somos novas criaturas. Da celebração da Semana Santa, todo fiel sai reconfortado e repleto de esperança, porque percebe a ação de Deus que está construindo a cidade misticamente chamada de Jerusalém Celeste, uma nova humanidade, com os escombros da Babilônia, cidade da violência, maldade e morte.
Não é a morte, mas a vida que tem a última palavra no drama da história humana! Feliz Páscoa a todos!
Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)
Evangelho do filho pródigo
O filho mais novo tem para com o pai uma grande confiança, apesar de, no início, ter agido de modo egoísta. Quando se reconheceu pecador, quando percebeu o erro cometido, não ficou com medo do pai, mas ao contrário, recordou a bondade, a prodigalidade de seu pai e resolveu voltar para casa. Ele sabia quem era seu pai e o respeitava bastante. Por isso voltou. No fundo ele havia experimentado o que era ser amado.
O mais velho, apesar de jamais ter se afastado do lado do pai, tinha uma relação de empregado com seu patrão. Ele está preso ao que fez e ao que deixou de fazer. Não conheceu o verbo amar, o verbo perdoar, o verbo querer, no sentido de querer bem. Sua relação não era de ternura, mas de trocas.
A grandeza de um homem não está em cumprir leis como um servo, mas em viver o amor, a grandeza do perdão, saber entender o outro e abraçá-lo.
Deus nos criou para isso, para sermos sua imagem e semelhança e não para termos uma relação empobrecedora. Não nos deixemos apequenar por nada. Nossa vocação é sermos sacramento do amor, do perdão, do acolhimento de Deus em meio aos homens.
A segunda leitura complementa este pensamento quando diz: “Tudo agora é novo. E tudo vem de Deus, que, por Cristo nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação.”
A sociedade julga as pessoas pela aparência, pela cultura, pelas posses. No ambiente de Igreja se julga as pessoas pelo engajamento, pela boa ou má conduta. Paulo diz que Deus não imputou ao mundo as suas faltas. Ao contrário, mais adiante acrescenta: “Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus”.
Ora, estar em Cristo significa estar em relação íntima com Deus e com o outro, é ser nova criatura.
O cristão é nova criatura porque pelo batismo renasceu pelo Espírito, e isso provoca atitudes novas.
O filho mais novo, aparentemente grande pecador, mostrou ser nova criatura porque baseou sua atitude de retornar à casa confiado exclusivamente na misericórdia do pai. Já o mais velho, cobrando do pai a justiça, por causa de seu trabalho, não entendeu a gratuidade do amor e permaneceu do lado de fora, na escuridão, sem provar a alegria da gratuidade.
Somente com uma atitude como a do caçula, confiando unicamente no amor e no perdão do pai, poderemos ressuscitar na Páscoa e ser novas criaturas!
Padre Cesar Augusto
SJ – Vatican News
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