Uma violência sem fim
No último final de semana, oito pessoas perderam a vida em três acidentes
O trânsito em Santa Catarina é o segundo mais violento do país, atrás apenas de Minas Gerais que tem mais de 13 milhões de veículos contra 7 milhões do nosso estado. Em 2022, foram registrados 7.587 acidentes somente nas rodovias federais que cortam Santa Catarina. Deste total, 6.534 pessoas se feriram ou morreram. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, para cada 10km de malha viária federal no estado, 27 pessoas ficaram feridas em acidentes. Os dados são da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), que acompanha de perto os números da tragédia que se transformou o trânsito catarinense. A cada 100 acidentes nas rodovias federais, seis pessoas perdem a vida. Uma estatística assustadora, que nos faz acreditar cada vez mais que vivemos uma “guerra sobre rodas”.
No último final de semana, o trânsito em Santa Catarina registrou oito óbitos. No primeiro, na BR-470, em Gaspar, na manhã de sexta-feira (4), o choque entre uma carreta e uma van deixou três mortos e oito feridos. A causa mais provável foi desatenção do motorista do caminhão e má sinalização, já que no local do acidente existem obras de duplicação da rodovia. Embora tenha afirmado que a sinalização era suficiente para alertar e orientar os motoristas, o DNIT esteve no local um dia após o acidente e refez a pintura das faixas amarelas de proibido ultrapassar.
Na tarde de sábado (5), dois jovens, de 19 e 17 anos, morreram em acidente na BR-282, próximo ao acesso ao município de Vargem Grande, no Meio-Oeste. Outros dois passageiros, também jovens, ficaram feridos com gravidade. O veículo, um Ford Ecosport, placas de Campos Novos, bateu de frente em uma carreta Scania, dirigida por um homem de 30 anos, que não foi localizado após o acidente. O motorista do Ecosport, de 19 anos, foi um dos óbitos. A outra vítima foi ejetada para fora do veículo e também morreu antes da chegada do socorro. Os dois passageiros sobreviventes, de 18 e 20 anos, foram internados no Hospital José Athanázio, em Campos Novos.
Na noite de domingo (6), em mais uma colisão frontal, três pessoas, que viajavam em um GM Celta, morreram depois que o veículo foi atingido por uma carreta na SC-350, região de Rio do Sul, no Alto Vale. As vítimas eram todas moradoras de Rio do Sul: Zuleica Metzger, de 45 anos, Claudecir José Martins, de 52 anos, e Vera Aparecida França, de 58 anos. Claudecir e Zuleica eram funcionários da Prefeitura de Rio do Sul e as mortes causaram grande comoção na cidade. Informações preliminares dão conta de que o caminhão tentou uma ultrapassagem em local proibido.
A imprudência lidera a lista de causas de acidentes de trânsito no Brasil. Ultrapassagens em locais proibidos, excesso de velocidade e embriaguez ao volante são fatores determinantes. De uns tempos pra cá outra causa passou a engrossar essa lista: o uso do celular enquanto se dirige. Este tipo de atitude provoca desatenção nos motoristas que, muitas vezes, perdem o controle do veículo e batem em árvores, postes e até pedras. De acordo com a Polícia Militar Rodoviária de Santa Catarina, 95% dos acidentes tem como causa falha humana. Em 2022, 197 vidas foram perdidas nas rodovias estaduais, o número é menor que o de óbitos nas rodovias federaisde SC: 350.
Foram 6.730 acidentes - média de 18 por dia. E os números seguem em escalada. Mais de 11 mil veículos se envolveram em acidentes, com a participação de 14.550 motoristas, passageiros, pedestres e ciclistas. Os acidentes deixaram 3.040 pessoas feridas.
O policial rodoviário estadual, Rodrigo Costa, explica que alguns acidentes ocorrem por situações alheias a forma de condução do veículo, como pane mecânica, porém, o que preocupa é que muitas pessoas perdem a vida por conta de “acidentes evitáveis”. Segundo ele, o acidente deste fim de semana em Rio do Sul foi ocasionado provavelmente por uma ultrapassagem em local proibido. “Colisões frontais geralmente são acidentes graves, que provocam lesões graves e até óbitos, que foi o caso do acidente do domingo”, afirma Costa. Porém, o policial, responsável pela área de comunicação da PMRv, diz que o último fim de semana se manteve dentro dos parâmetros de acidentes no Estado, embora tenha chamado a atenção de que numa única ocorrência morreram três pessoas. Ele esclarece que, muitas vezes se tem um número elevado de acidentes, porém, sem óbitos, enquanto um único acidente pode resultar em várias mortes. “Não é o número de mortes que determina ou não a violência do trânsito”, acrescenta. A imprudência, reforça Costa, é a causa principal dos acidentes. O que falta, no entendimento do policial, é educação no trânsito. “A gente vê esse número alarmante de óbitos, mas sabe que 95% dos acidentes poderiam ser evitados. Lamentavelmente, a gente vê situações diárias, de rotina, mas as pessoas não aprendem, não tem consciência”, conclui Costa.
“A gente vê esse número alarmante de óbitos, mas sabe que 95% dos acidentes poderiam ser evitados.”
Rodrigo Costa: Policial Rodoviária Estadual em SC