A conhecida e simpática Dona Dica está de aniversário neste 9 de setembro
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Ela nasceu Dilsa Gertrudes, no bairro Poço Grande, onde passou a infância e boa parte da juventude. É a terceira filha do casal Domingos e Ermelinda. Somente os familiares e amigos mais próximos a conhecem pelo nome de batismo. Para a cidade de Gaspar, ela é Dica, mas também poderia ser a “senhora voluntária”. Hoje, 9 de setembro de 2023, é uma data especial para dona Dica Spengler, filhas, genros, netos, bisnetos e trineto. Afinal, ela chega aos 90 anos de idade. Essa simpática senhora, muito conhecida em Gaspar, estudou até o 4º ano primário e não porque não quis estudar; na época era o que os pais permitiam aos filhos: aprender a ler e escrever. Dali pra frente, era ajudar na roça. As mulheres ainda complementavam o tempo com as tarefas domésticas.
A vida, portanto, não era fácil, e a morte prematura do pai, quando Dica havia completado 12 anos, mudou a vida dela, de seus irmãos e da mãe, conhecida como Meloca, que passou a costurar para fora a fim de garantir o sustento dos filhos ainda pequenos.
Voluntariado
Já naquela época, embora as dificuldades, já havia espaço no coração da jovem Dica para fazer o bem. Aos 16 anos, ela entrou para o grupo Filhas de Maria, da Igreja Católica e nunca mais parou de se envolver em serviços comunitários. No início, ajudava nas festas de igreja, o que faz até hoje. “Ajudava na cozinha, no preparo dos alimentos. Lembro que naquele tempo íamos para a beira do rio matar galinhas para as festas”, recordou em entrevista ao Jornal Metas em 2018.
No coração da jovem Dica também havia espaço para amar. Em 1949, iniciou o namoro com Evaristo Spengler que, embora seu vizinho, ela garante que não o conhecia. Do namoro ao casamento foram quatro anos. A nova igreja Matriz São Pedro Apóstolo ainda estava em obras quando o casal subiu ao altar para dizer o "sim". Mais um ano e nasceu a primeira filha, Maristela. Nesta época, o casal já havia trocado o Poço Grande por uma bela e espaçosa residência no bairro Sete de Setembro, onde dona Dica mora até hoje. Depois vieram mais três filhas: Marise, Marialva e Maria Clarice. Foram mais de 70 anos de convivência entre namoro, noivado e casamento. “Um relacionamento só pode dar certo se houver respeito e entendimento de ambas as partes”, ensina Dona Dica.
Prefeitura
Os serviços comunitários sempre foram uma marca na vida de Dica e do marido Evaristo. Quase todas as noites, o casal tinha algum compromisso: reunião na Igreja, jogo de bolão, reunião do partido (a saudosa UDN), ensaio do Clube Musical São Pedro, reunião do Lions, campanha política, jogo de cartas entre outras atividades.
Como Evaristo se envolveu, muito cedo, na vida política, Dica passou a se dedicar a outras atividades voluntárias em Gaspar. E quando seu marido ocupou a cadeira de prefeito, de 1966 a 1970, ela encarou de fato o título de primeira-dama. Foi dela, por exemplo, a iniciativa de criar o Programa Merenda Escolar. Na área da saúde a assistência social, dona Dica visitava pessoas acamadas e necessitadas e providenciava o transporte a locais especializados. Ela também incentivou o Natal Solidário para as famílias dos funcionários da prefeitura. contou ao Jornal Metas em entrevista.
“Lembro que fui em todas as escolas da cidade orientar e repassar instruções para as merendeiras” (Dica Spengler).
Igreja
O casal também sempre esteve muito presente na Igreja Católica, participando dos movimentos cristãos, participando dos Cursilhos de cristandade e Encontros de Jovens organizados pela paróquia. Dica também ajudava na evangelização de crianças, adolescentes, jovens e adultos como catequista e coordenadora da catequese, trabalho este que realizou até bem pouco tempo, mas que acabou interrompendo por conta da pandemia. Como ministra da eucaristia, ajudava nas celebrações religiosas, visitava as famílias e levando eucaristia e conforto aos doentes e necessitados. Na Festa de São Pedro, ela continua sendo presença certa há 74 anos, boa parte do tempo na cozinha onde ajuda a preparar a sopa, macarronada, sonho, pastel, bolos e outros quitutes.
Ao lado do marido, Dica ajudou a fundar o Lions Clube de Gaspar, na década de 1970, entidade internacional que presta serviços assistenciais e comunitários. Durante muitos anos a residência do casal serviu de ponto de referência para empréstimo de cadeiras de roda e de banho, muletas, andadores e outros equipamentos e materiais que eram arrecadados em campanhas na cidade.
Dona Dica também bateu à porta do Governo do Estado atrás de recursos para a construção de uma creche nas proximidades do cemitério municipal, no bairro Santa Terezinha. A ideia se materializou com a inauguração da creche Vovó Leonida, hoje Centro de Desenvolvimento Infantil.
Na década de 1980, Dica e o marido acolheram em casa o sobrinho Walmor Júnior, o Nico, que permaneceu sob a guarda dos 12 aos 24 anos. Por este motivo, ela fez parteda APP do Colégio Frei Godofredo, onde por várias vezes foi aclamada presidente.
A simpática senhora chega aos 90 anos como uma das fundadoras da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Gaspar. Já foi presidente e continua atuando nas campanhas e eventos que arrecadam recursos para a manutenção da entidade.
Ela também participou por muitos anos do COMEN – Conselho Municipal de Entorpecentes, buscando alternativas para a valorização e recuperação da vida dos usuários de drogas em Gaspar.
Dica sempre teve muito amor, força, garra, determinação e fé. Foi assim que superou as dificuldades, ao lado do marido, das quatro filhas e genros que lhe deram 12 netos, que já trouxeram 15 bisnetos e um trineto e vem aí o segundo trineto.
A vida nunca é só flores. Dica, nestas nove décadas, sofreu alguns duros golpes que mexeram com o seu emocional, como a perda prematura do pai, da mãe, aos 87 anos, da irmã Dete, parceira de jogo de cartas e de caminhadas, e vivenciou o sofrimento de seu irmão e vizinho Bube, que faleceu em 2012, deixando uma grande lacuna na família.
E, por fim, a perda de seu grande amor e companheiro Evaristo, com quem partilhou sua vida por mais de 70 anos. Evaristo partiu em fevereiro de 2021. “Não imaginava que seria tão sofrida sua ausência”, confidenciou, na ocasião, a familiares. Os trabalhos comunitários de Dona Dica foi e são tão importantes para a comunidade de Gaspar que lhe renderam inúmeras homenagens, entre elas o título "Melvin Jones", a maior honraria que o Lions Clube Internacional pode dedicar a um membro da entidade.
“Claro que é gratificante saber que o meu trabalho é importante e reconhecido, mas as homenagens são apenas consequência do trabalho. Sempre falo que o que a mão direita faz, a mão esquerda não precisa saber”.
Enchentes
Em junho de 1983, Gaspar e região foram atingidas por uma grande enchente. Mesmo com água em sua casa, lá estava Dica no Salão Cristo Rei prestar ajuda para os mais de 400 desabrigados que lá estavam. “Fiquei cozinhando no local por mais de um mês. Lembro que no primeiro domingo da enchente haviam 700 pessoas para jantar, que vinham de outros abrigos da cidade”. Dica conta que todos os alimentos para a Festa de São Pedro já haviam sido comprados e foram estes alimentos distribuídos aos atingidos pela enchente. “Neste ano, a festa só aconteceu em outubro”, relembrou.
Em 2008, quando a cidade foi novamente atingida por uma das piores catástrofes climáticas da história, a voluntária estava lá, de novo, e de braços abertos para ajudar os flagelados. Dica prestou auxílio no abrigo instalado na Escola Frei Godofredo, onde estavam 280 pessoas. Depois, levou o seu apoio ao Ginásio João dos Santos, onde colaborou até 15 de dezembro daquele ano no recebimento de donativo. Dica é uma mulher simples, como simples e grande é o seu coração. Por isso, hoje costuma-se dizer na cidade que ela e Evaristo são "pai e mãe" de quase toda Gaspar.
“Fiquei cozinhando no local por mais de um mês. Lembro que no primeiro domingo da enchente haviam 700 pessoas para jantar, que vinham de outros abrigos da cidade”.
A idade não parece ser barreira na vida de dona Dica. Ela segue com fé, garra, determinação e apoio da família e amigos, combustíveis que a mantêm firme e forte. “Enquanto minha saúde permitir vou continuar trabalhando como voluntária”, costuma dizer Dica. Alguém dúvida? Vida longa a senhora voluntária. (Adaptado ao texto de Marialva Spengler)
“Os 90 anos são para glória a Deus e alegria de todos nós. Nós, da família, queremos agradecer a Deus por esta linda história de vida, amor, fé, respeito e dignidade e pelo privilégio de fazermos parte desta história”, Marialva Spengler.
“Que Deus continue iluminando seu caminho com muita alegria de viver e saúde para desfrutar essa maravilhosa vida” (A família).
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