A gasparense que uniu a comunidade

Em casa se recuperando, Silvana Santos contou as mudanças na sua vida

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Uma onda de solidariedade tomou conta de Gaspar e da região desde que o caso de saúde da gasparense Silvana Santos, de 35 anos, foi divulgado pela primeira vez. Por mais de dez anos ela conviveu com pedras nos rins. Porém, em abril deste ano, uma pedra bloqueou o seu canal da urina e acabou causando uma infecção generalizada.

Durante quase três meses ela permaneceu internada no hospital, parte deste tempo em coma. Por causa de um forte remédio que precisou tomar, seus braços e pernas necrosaram e, para se manter viva, os médicos precisaram amputar as duas pernas, na altura da coxa, e partes dos braços. “Eu tive que usar noradrenalina, que é um remédio super forte, que mantém a irrigação sanguínea apenas dos órgãos. Esse remédio faz com que o sangue não vá para os membros, braços e pernas, é como se ele fechasse os vasos para manter irrigando só os órgão vitais e o coração funcionando. Com isso, meus braços e minhas pernas ficaram sem sangue. Eu fiquei 13 dias em coma, tomando esses remédios fortes, e acabou necrosando as minhas pernas e os meus braços”, conta Silvana.

Mãe de três filhas, uma jovem de 18 anos e duas bebês, de 1 e 2 anos, Silvana se manteve firme, sempre pensando na família e nas filhas. “Eu tinha medo de perder as mãos porque eu tinha medo de não conseguir ficar com as meninas. Eu passei por um processo de medo por um bom tempo e a gente negava muito as amputações”, disse.

Ela conta como foi a aceitação das amputações. “Um médico, um ortopedista, veio e me deu um tapa na cara, como se diz. Ele colocou a mão no meu pé, viu que estava preto e frio e perguntou o que eu estava fazendo com esse pé ainda. ‘Já era pra você ter tirado esse pé fora, isso é comida de bactéria. Você corre risco de vida de novo’ ele me disse. Foi ali que eu aceitei. Eu chamei o médico, tive que chamar uma psicóloga também, porque os meus pais também não aceitavam bem as amputações e eu me preocupava muito com eles. No hospital, parece que você se preocupa com todo mundo, menos com você mesmo e, como minha família estava muito junto comigo, eu não queria desanimar eles”, relata.

Porém, Silvana chamou os pais para conversar e dizer que iria fazer as amputações. “Deus me deu a vida, as pernas e os braços nós vamos tirar de letra. No dia seguinte o médico já marcou as cirurgias”, relembra emocionada.

Com relação às filhas, Silvana conta que as crianças aceitaram bem, às vezes perguntam sobre suas mãos ou pedem para que ela escreva, mas ela explica a situação. “Quando a mais velha, de dois anos, vem com um livrinho me pedindo para escrever eu digo que não posso, que a mamãe não tem mão, a mamãe tem dodói. Eu tento não esconder, elas sempre me veem, porque elas vão crescer e vão entender o que aconteceu. Parece que eu vou crescer junto com as minhas bebês, aprender a andar de novo, aprender a comer de novo, a questão corporal é tudo novo”, considera Silvana.

A família

Para os pais, as três irmãs, três filhas e o marido, ter Silvana é um grande presente de Deus, que uniu ainda mais a família.

“Só temos que agradecer por ela estar aqui com a gente, a gente diz pra ela todos os dias o quanto a gente ama ela e que ela é um milagre”, diz a irmã Camila Santos.

A mãe, Raquel Santos, fala sobre os momentos difíceis que a família passou ao lado da filha. “Para a gente não foi nada fácil, porque ela era muito ativa, com as filhas, com o trabalho dela, que ela tinha um petshop, ela não parava. Agora nós termos ela como um bebê, nós cuidando dela e cuidando das duas meninas dela, é muito gratificante, porque ela está viva e está conosco”, emociona-se a mãe Raquel

Solidariedade  

Desde o dia 13 de abril, quando foi internada, a solidariedade tomou conta da comunidade. Dezenas de ações como rifas, vaquinhas online, doação em dinheiro, eventos com renda revertida para Silvana, entre outros, começaram a surgir.

A gasparense conta que se surpreendeu e agradece a todos que de alguma forma contribuíram ou ainda estão contribuindo. “Eu não imaginava que tanta gente me conhecia e muita gente não conhecia mesmo, mas Gaspar é muito solidário. Eu só tenho a agradecer, porque as pessoas participam de tudo. É tanta gente fazendo rifa, pessoas que eu nem conheço, eles já chegam aqui com o dinheiro em mãos. Tivemos a nossa vakinha também, porque nós tivemos que pegar dinheiro emprestado com várias pessoas para pagar o hospital, que saiu muito caro, então nós fizemos a vakinha para pagar todo mundo. Agora estamos fazendo outra vakinha para as próteses, para medicação, que são remédios caros e não tem no posto de saúde, e as pessoas estão ajudando demais, só tenho a agradecer”, afirma.


Ajuda continua
Após quase três meses internada, os gastos com hospital, remédios e tratamentos foram enormes. E agora a família entra em uma nova fase, que é começar a pensar nas próteses que trarão mais qualidade de vida para a gasparense. Por isso, a família continua pedindo ajuda da comunidade.

No dia 8 de julho, o CT Gasparense fará um arraiá em prol de Silvana, os ingressos custam R$ 25 e a renda será doada para a moradora de Gaspar. O evento acontece na Rua Bonifácio Augusto Iseense, bairro Gaspar Grande.

Além disso, há um PIX disponível, que pode ser acessado pelo link: https://nubank.com.br/pagar/mdegg/EfmdpfSQYY ou com a chave rifaparasilvana@outlook.com.