Hora de falar sobre suicídio

Até porque, estatísticas apontam que a cada dia, 38 pessoas tiram a própria vida no Brasil.

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O assunto ainda é tratado como tabu, mas falar é a melhor solução. O Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, chega para nos lembrar que por ano, mais de 700 mil pessoas cometem suicídio em todo o mundo conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda segundo a OMS, o número pode chegar a um milhão se for levado em consideração que muitos casos não são registrados. No Brasil, são aproximadamente 14 mil suicídios por ano, ou seja, uma média de 38 pessoas tirando a própria vida por dia.

Os dados são chocantes e revelam um problema de saúde pública que pode estar mais perto do que se imagina, afinal, nem sempre a pessoa que está sofrendo com um transtorno mental demonstra. Dados da Polícia Militar de Gaspar mostram que em 2022, 15 pessoas cometeram suicídio na cidade. Já este ano, até julho, foram cinco casos. Por isso, este ano, o Setembro Amarelo, maior campanha anti estigma do mundo, chega com o tema “Se precisar, peça ajuda”.

A psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Gaspar, Akemi Higashi, explica que possuir algum transtorno mental já é considerado um grande fator de risco para o suicídio, porém não é apenas a depressão. O uso e abuso de substâncias psicoativas, esquizofrenia e transtornos de personalidade também são considerados fatores determinantes. Além disso, sentimentos de desesperança, desamparo e desespero também são fortemente associados com o suicídio.

Ela ainda aponta outros sinais que podem ser percebidos por quem está por perto. “Mudanças bruscas como isolamento social, ambivalência e rigidez são comportamentos que merecem atenção por parte de parentes e amigos. É importante estar atento a expressões como: “eu não desejaria ter nascido”. “caso não nos encontremos de novo”, “eu preferiria estar morto”, “não aguento mais”. Outro ponto importante é se a pessoa passou por um fator estressor recente como perda de uma pessoa próxima, separação conjugal, prejuízo financeiro ou social, desemprego. Algumas pessoas podem considerar a morte como uma saída para se afastar do sentimento momentâneo de infelicidade ou acabar com a dor”, explica. Vale ainda destacar outros fatores de risco importantes, que são: tentativas anteriores de suicídio; acesso à meios letais; problemas de saúde graves ou crônicos; abuso infantil; violência; questões com a sexualidade e gênero; pressão social, como acadêmica ou emprego; e pouco amparo familiar.

O momento de agir

Se você está lendo essa reportagem e se identificou alguns dos sinais ou reconhece eles em alguém, a psicóloga Akemi Higashi destaca que a primeira coisa a se fazer é acolher o sofrimento da pessoa levando ela a sério. “Toda pessoa que fala sobre suicídio tem risco em potencial. Não é verdade que quem fala que vai se matar não se mata. Muitas vezes por impulsividade ou erro de cálculo na tentativa, a fatalidade acontece”, ressalta Higashi.

Para quem está em sofrimento, é essencial saber que tem uma rede de apoio, como família, amigos, vizinhos, unidade de saúde, entre outros. “Pessoas a qual ela pode receber ajuda e acolhimento no momento difícil que está passando. Além disso, é importante encaminhar a pessoa para um tratamento adequado e profissional. Falar de uma rede de saúde para a prevenção do suicídio é reforçar a necessidade de ter uma rede bem integrada. O cuidado e prevenção não deve se iniciar apenas nos centros com foco em saúde mental, deve ser observada em todos os âmbitos do sistema de saúde e social”, afirma a psicóloga.

Ela ainda explica que existem fatores de proteção para o risco de suicídio, entre eles “suporte familiar adequado; crenças religiosas, culturais ou étnicas; ter vida social e lazer; praticar atividade física; ter animal de estimação; ter criança em casa; capacidade de resolução de problemas e ter sentido existencial são alguns deles”, reforça Akemi.

Onde buscar ajuda

Para quem está precisando de ajuda, o mais importante é saber que você não está sozinho. Procure um profissional com quem você possa conversar, como um psicólogo ou psiquiatra. Além disso, outras alternativas também existem. Em Gaspar, o Centro de  

Atenção Psicossocial (CAPS) trabalha em regime de porta aberta, ou seja, sem a necessidade de agendamento prévio ou encaminhamento, oferecendo acolhimento e tratamento multiprofissional aos usuários.

Em 2022, o CAPS de Gaspar atendeu 7.446 pessoas e até este mês de setembro, já foram 5.553 atendimentos em 2023. A pessoa que procura o Caps é acolhida e participa da elaboração de um Projeto Terapêutico Singular específico para as suas necessidades e demandas.

Uma equipe multiprofissional composta por médicos psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais avaliam o quadro do usuário e indicam o tratamento adequado para cada caso.

Além disso, o Caps também atua no acolhimento integral às situações de crise, nos estados agudos da dependência química (álcool e drogas), nas quais o usuário pode permanecer para o tratamento por tempo determinado. O Caps Gaspar fica localizado na Avenida Construtor Augusto Vitório Deschamps, bairro Santa Terezinha. O telefone é (47) 3091-2101.

Ainda é possível entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo telefone 188, que atende 24 horas, sem custos. Para mais informações, acesse: www.cvv.org.br.

Prefeitura promove ações

A Prefeitura de Gaspar preparou algumas ações para tratar do tema. No dia 16 de setembro será realizada uma grande movimentação no Centro da cidade. Profissionais do Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) e demais servidores da secretaria de Saúde vão fazer uma roda de conversa sobre Saúde Mental com o intuito de orientar e dar visibilidade ao tema.

Após a ação, toda a comunidade e servidores e usuários do Caps vão caminhar até a escadaria da Igreja São Pedro e levar cartazes produzidos nas oficinas do local.

Já no dia 27, às 18h30, ocorre a palestra “Epidemia Calada: Rompendo o silêncio”, com a psicóloga Rosane Voltolini. A palestra acontece na Câmara de Vereadores de Gaspar, abordando temas relacionados à saúde mental, com ênfase no desenvolvimento de habilidades socioemocionais em crianças, jovens e adultos. Rosane possui vasta experiência na coordenação e implementação de programas internacionais de promoção da saúde mental. O evento é aberto para toda a comunidade.