Moradora de Gaspar, Marinete teve um encontro com o então padre Jorge Bergoglio (Papa Francisco) quando morava na Argentina

Moradora de Gaspar há 16 anos, Marinete Aparecida Pereira tem uma história para contar sobre o Papa Francisco. Algo que ela guardou por muitos anos, mas com a morte dele essa semana, ela decidiu revelar e escolheu o Jornal Metas.
Tudo aconteceu há mais ou menos 35 anos. Na época, com 15 anos, Marinete, nascida em Umuarama, cidade do interior do Paraná, mas moradora de Curitiba, decidiu estudar em Puerto Iguazu, na Província Argentina de Missiones, que fica na fronteira com o Brasil e Paraguai. “Uma tia havia casado e se mudado para lá, eu então quis estudar na Argentina”, relembra Marinete.

Ela completou seus estudos e depois ingressou na faculdade de Quimiciologia, o equivalente a fisioterapia no Brasil, em Pozadas, a capital da Província de Missiones, mas continuou morando em Puerto Iguazu. Marinete estava prestes a se formar e à procura de emprego. Apareceu então uma oportunidade em um concurso para trabalhar no ginásio poliesportivo da cidade. Eram 50 candidatas para uma vaga, e ainda Marinete era a única brasileira. “Pensei que eu não teria chances”, conta. Foi então que umas amigas sda faculdade sugeriram que ela fizesse uma simpatia, que consistia em ir a uma igreja e tocar o sino.

Em Puerto Iguazu tem a Catedral Virgen Del Carmen, que fica no centro da cidade, ao lado da praça principal e também próxima da delegacia de polícia. Convencida pelas amigas, Marinete foi até a igreja por volta das 5 horas da manhã. “O sino ficava bem ao lado da igreja e tinha uma corda, eu então puxei a corda e o sino bateu uma única vez e muito alto, quando eu olhei para o lado dei de cara com o padre. Ele estava com cara de poucos amigos e começou a me repreender, dizendo que eu jamais poderia fazer aquilo, pois o sino da igreja somente é tocado em três ocasiões: para chamar os fiéis para a missa, quando morre alguém ou quando acontece uma tragédia na cidade”, relembra.

Marinete conta que alguns dias antes, a tia havia lhe dito que um padre de Buenos Aires estava na cidade, que ele vinha percorrendo as províncias porque estava se preparando para ser arcebispo da capital. “A minha tia até me convidou para irmos à missa no domingo seguinte que seria celebrada por esse padre. Quando eu vi o padre ao meu lado com cara de bravo, eu logo imaginei que se tratava do padre de Buenos Aires”, diz Marinete.

Ela lembra que o padre inclusive a ameaçou levá-la à delegacia por conta dela ter tocado o sino. “Ele estava realmente furioso comigo”. Marinete começou então a chorar e foi quando o padre Jorge Mario Bergoglio, que no futuro viria a se tornar o Papa Francisco, mudou de semblante e olhou com dó para aquela menina desesperada, prestes a ser levada para a delegacia. “Ele então me perguntou porque eu estava ali aquela hora tocando o sino. Eu então contei sobre a simpatia. Ele então me disse que eu não deveria dar bola para essas coisas, que eram coisas do demônio”.

Café com o futuro Papa
Marinete conta que o padre Bergoglio perguntou se ela já havia tomado café da manhã. “Eu respondi que não”. Ele então me convidou a entrar na Casa Paroquial e tomar café com ele. Marinete ainda perguntou se ele estava sozinho. “Ele me respondeu que não, que os padres estavam na igreja rezando e as freiras se preparando para ir para o colégio, que ficava próximo, e onde elas lecionavam.

A partir daí, Marinete e o padre Bergoglio, hoje Papa Francisco, tiveram uma longa conversa. “Lembro que em determinado momento, passamos a falar sobre a morte, e ele me disse que gostaria de ser sepultado num caixão bem simples. Eu lembrei disso essa semana, vendo as reportagens na televisão sobre o seu sepultamento. Eu disse a ele que gostaria de ser enterrada enrolada num leçol branco de algodão porque o de linho era muito caro. Ele achou graça e deu uma gargalhada”, recorda Marinete.

Aquele encontro marcou muito a vida da jovem Marinete. “Foi uma grande lição que eu levei comigo para o resto da vida”, emociona-se. Na semana seguinte, ela prestou o concurso e acabou ficando com a vaga de emprego. “Não foi por causa do sino que eu bati, mas certamente por conta daquela conversa que tive com o padre Bergolglio”, sintetiza Marinete

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