Co-fundador da Ceval Agro Industrial e empresário de sucesso do ramo de turismo no litoral de SC

O empresário catarinense Vilmar de Oliveria Schürmann, 82 anos, que morreu nesta sexta-feira, dia 14, de morte natural, era um visionário. Nascido em 22 de maio de 1942 em Florianópolis e primogênito de Wilhelm e Avenina Schurmann, Vilmar construiu um legado com visão, trabalho, coragem e arrojo. Estava à frente do seu tempo, antevia oportunidades onde ninguém conseguia enxergar.

Pai de cinco filhos e avô de doze netos, sua trajetória no mundo empresarial foi marcada por um empreendedorismo inigualável. Um dos maiores gestores empresariais da história de Santa Catarina, reconhecido em diversos prêmios estaduais e nacionais.

O começo

Quando estudante, a partir de 1962, Vilmar foi estagiário da Eletroaço Altona, em Blumenau; Sanbra e Aços Villares, em São Paulo. Formado Engenheiro Químico pela Universidade Federal do Paraná, o jovem Vilmar foi admitido em 1º de fevereiro de 1965 na Samrig, de Esteio-RS. Neste primeiro emprego, ficou até 31 de janeiro de 1967 onde chegou ao cargo de chefe de produção da fábrica de óleos vegetais.
Concursado junto ao Banco Regional de Desenvolvimento, BRDE, retornou para Santa Catarina como Técnico em Desenvolvimento. Saiu do banco em 1970 quando ocupava a chefia do Departamento de Estudos e Operações numa época de grande fomento à modernização e diversificação industrial do Sul do Brasil.

De 1970 a 1972 tornou-se assessor do BRDE. Foi nesse período que foi procurado pelo ex-colega de faculdade, Ivo Hering (Diretor do Grupo Hering), para a instalação de uma planta de processamento de soja no Vale do Itajaí. O projeto parecia ousado, afinal, soja não se plantava na região, e ao mesmo tempo desafiador: convencer os produtores de cana-de-açúcar, arroz e milho da região a trocarem suas lavouras pela soja. Em 4 de janeiro de 1972, a Cereais do Vale Agroindustrial S.A, ou simplesmente Ceval, foi criada oficialmente, porém, a planta industrial somente entrou em operação em outubro de 1973, no bairro Poço Grande, em Gaspar. O terreno foi doado pela Prefeitura de Gaspar.

Expansão

Vilmar foi o primeiro diretor industrial da Ceval e em seguida, o seu diretor geral e membro do Conselho de Administração por 28 anos. Já na primeira safra, ele percebeu que a Ceval poderia dar voos bem mais altos, enxergou novas oportunidades além das fronteiras de Santa Catarina. A empresa expandiu-se para o Rio Grande do Sul, onde comprou silos e fábricas, para o oeste catarinense, para o Paraná e, no começod dos anos 1980 desembarcou no Centro-Oeste do país e, assim, sucessivamente, até atingir praticamente todos as regiões do país com vocação agrícola. Onde houvesse uma plantação de soja, lá estava a Ceval.

Na década de 1980, a Ceval adquiriu a catarinense Seara Industrial, uma das maiores processadoras de carnes de frango e suínos do Brasil. A Ceval Agroindustrial deu então lugar a Ceval Alimentos, com um mix de produtos “do campo à mesa do consumidor”, como dizia o seu slogan na época.

Vilmar também foi o diretor geral da Ceval Export – a primeira unidade industrial dedicada exclusivamente à exportação, implantada em São Francisco do Sul e seguramente, o primeiro passo para a expansão e solidificação dos negócios da Ceval. Foi ainda, o diretor geral da Ceval Armazéns Gerais, Ceval Proteção Ambiental, Ceval International, diretor da Seara Industrial e presidente da Guipeba Ceval, na Argentina.

As exportações de commodities e carnes da Ceval chegaram a países da América Latina, Estados Unidos, Europa e Ásia. A companhia liderou, por muitos anos, as listas de maiores exportadoras do Brasil. Estendeu seus braços para além das fronteiras do país, passando a ter silos, fábrica e berços portuários na Argentina. Em meados dos anos 1990, a Ceval se tornou uma das três mais importantes companhias de alimentos do mundo. Na época, empregava 14 mil trabalhadores diretos e outros milhares indiretos.

Visionário

Visionário e estrategista, Vilmar dominava o mercado de commodities com maestria. Sua paixão pela Ceval era inegável, com jornadas de trabalho incansáveis e um escritório adaptado para descanso. Sua perspicácia se revelou mais uma vez, quando previu o impacto do crescimento econômico chinês na demanda global por alimentos. A Ceval começou a prospectar ainda mais o mercado asiático, com uma joint venture na índia.

Mas, a criatura ficou maior que o criador. Em 1997, o Conselho de Administração do Grupo Hering decidiu vender os ativos da Ceval. O comprador foi o centenário Grupo Bunge, com origem na Holanda e sede nos Estados Unidos. Meses depois, Vilmar deixou a presidência e encontrou refúgio em Balneário Camboriú, ao lado da família, onde passou a investir no ramo do turismo de hotelaria de alto padrão. Construiu o resort Recanto das Águas (atual Infinity Blue), na Praia dos Amores, além de ter participação importante nos empreendimentos Hotel Itália e Pousada Praia do Estaleiro, também em Balneário Camboriu. Vilmar plantou a primeira semente para o turismo de negócios no balneário, o que se repetiu na pequena Bombinhas, onde era veranista desde os anos 1960, inaugurando as Pousadas Vila do Farol e Vila do Coral 1 e 2, com uma proposta totalmente inovadora, aliando beleza, elegância arquitetônica, sustentabilidade, integração com a natureza e conforto dos hóspedes. Criou ainda a VOS, uma construtora que ergueu os mais modernos empreendimentos imobiliários em Bombinhas e região, abrindo o mercado para moradias de alto padrão.

Social e cultural

Vilmar era, acima de tudo, um homem preocupado com as áreas social e cultural. Em Gaspar, a Ceval construiu creches, associações de moradores, doou terrenos para clubes de serviço e esportivo, além de contribuir com os principais eventos da cidade. Em Bombinhas, criou o Parque Ambiental Família Schurmann, inaugurado no final de 2004, na Praia do Ribeiro. Somam-se a este projeto, os investimentos realizados no Instituto Boimamão, que mantém o Museu do Sertão, na área rural de Bombinhas, com a doação de imóvel em comodato, em que funciona uma verdadeira usina de artesanato típico da cultura açoriana e a reconstrução de uma antiga capela que existia entre Bombas e Bombinhas, inaugurada em 1928. Tudo isso, dentro da concepção de uma presença sustentada entre a atividade empresarial e a sociedade em que os empreendimentos estão sediados.

Por tudo isso, Vilmar Schurmann deixa um legado de empreendedorismo incomparáveis para Santa Catarina. Mas também o exemplo de generosidade e simplicidade. Na empresa, o chamavam de "Dr. Vilmar", não porque exigisse, era apenas um hábito adotado pelos colaboradores, uma forma de  reconhecimento a quem liderou todo o processo de crescimento da companhia. Quando vinha de Blumenau, onde morava, para a Ceval em Gaspar costumava dar carona para os colaboradores que aguardavam nos pontos de ônibus. Esse carinho e atenção às pessoas o tornaram um líder nato, carismático e mesmo depois de deixar a Ceval Alimentos sempre foi lembrado com saudade por todos que com ele conviveram. Em Gaspar, enquanto a saúde permitiu, vinha seguidamente, para encontrar velhos amigos de empresa e jogar dominó, uma das suas paixões.

"Um guerreiro", diz Sérgio Waldrich

É o caso do seu sucessor na presidência da Ceval (posteriormente Bunge Alimentos), o engenheiro, empresário e consultor Sérgio Roberto Waldrich, que começou na empresa em 1972, como office boy e chegou ao mais alto posto executivo da companhia. “Dr. Vilmar foi uma grande pessoa, ícone de profissional, guerreiro e visionário, deixou um grande legado, fez muito na empresa, fez muito para a comunidade, para Gaspar e muito para quem conviveu com ele”, lembrou. Waldrich afirmou, ainda, que todos que conviveram com Vilmar Schurmann foram privilegiados. “Eu, particularmente, convivi com o Dr. Vilmar desde 1972, quando entrei na Ceval, meu professor, meu mentor, meu incentivador e meu desafiador, porque com ele todos os dias o ‘sarrafo’ ficava mais alto. O Dr Vilmar gostava de desafios e de desafiar, talvez por isso, junto com ele, consegui também construir uma carreira de sucesso no mundo empresarial”. Waldrich finalizou transmitindo votos de pesar a toda a família Schürmann e agradecendo, mais uma vez, ao seu grande mestre. “Muito obrigado, Dr. Vilmar, que Deus o receba para o seu descanso eterno”.

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