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Família Theis e a paixão pelo cultivo de Pitayas
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O casal de produtores de 1.800 pés da pitaya (Fotos: Divulgação)
Família de Gaspar supera dificuldades e transforma a produção em referência na região
No silêncio da madrugada, quando a cidade ainda dorme, Jandira Theiss e Eleutério Theiss já estão de pé, prontos para mais um dia de trabalho na plantação de pitayas no bairro Belchior Alto, em Gaspar. Antes mesmo do sol nascer, os dois começam a colheita da fruta que se tornou a grande aposta da família. O caminho até aqui, no entanto, não foi fácil. Entre encostas íngremes, estradas precárias e o desgaste físico de um trabalho totalmente manual, a família enfrentou desafios que quase comprometeram o cultivo. Mas o amor pela terra e a dedicação incansável transformaram o que era apenas uma ideia em uma plantação de 1.800 pés da exótica fruta.
A tradição agrícola dos Theiss sempre esteve presente, mas o cultivo da pitaya foi uma novidade para essa geração. Antes, a família trabalhava principalmente com fumo e outras plantações para consumo próprio. Foi Edésio Theiss, irmão de Eleutério, quem trouxe a ideia em 2016, após conhecer a fruta em uma feira em São Paulo. Ele investiu no projeto e, no ano seguinte, a plantação teve início, substituindo uma área antes destinada a palmeiras reais. O começo foi árduo: sem estrada de acesso à plantação, os mourões de cimento foram carregados nas costas morro acima, os buracos foram cavados manualmente e a área precisou ser aberta no braço.
Os primeiros anos foram marcados por dificuldades. Entre 2018 e 2019, a produção da variedade de polpa branca estéril não resistiu ao calor e começou a apresentar o chamado “centro gelatinoso”, um problema que inviabilizou a comercialização da fruta. Além disso, por ser estéril, a polinização precisava ser feita manualmente, flor por flor, em um processo exaustivo. Foram dois anos de perdas até que a família decidiu substituir todas as plantas por variedades autoférteis, mais resistentes e produtivas.
Hoje, apesar das dificuldades comuns à agricultura, como pragas e oscilações climáticas, a produção segue firme. Na época da colheita, que vai de janeiro a maio, o casal trabalha sem descanso. Eleutério inicia a jornada às 5h da manhã na roça e segue até as 10h, quando precisa deixar a plantação para cumprir seu turno na Cremer, onde trabalha há 37 anos. Jandira continua o trabalho de colheita, venda e entrega, administrando também o ponto de comercialização no Belchior Alto. A polinização, essencial para garantir a qualidade da fruta, acontece apenas à noite, depois das 23h, quando marido e mulher retornam ao cultivo para garantir que cada flor receba o pólen necessário. Nos dias de chuva, a tarefa se torna ainda mais desafiadora, pois cada flor precisa ser protegida com copos antes de abrir.
A paixão pelo cultivo tem sido o combustível para o crescimento da plantação. Como a pitaya é uma planta perene, quanto mais velha, maior sua produção. Leila Adriana Kratz, filha do casal, ajuda na parte técnica, na divulgação e nas vendas, acompanhando de perto o esforço dos pais. “A expansão da plantação só foi possível graças ao amor que meu pai e minha mãe têm por ela. Quando a pitaya é bem cuidada, a produção dobra ano a ano”, destaca.
Mesmo sem uma estrutura sofisticada, como estufas ou sistemas de irrigação automatizados, a família se adapta às condições que tem. A irrigação, quando necessária, é feita manualmente com mangueiras conectadas a caixas d’água na plantação. “Não temos condições financeiras para um sistema de irrigação por gotejamento, que seria o ideal para elas”, explica Leila.
Apesar dos desafios, a família segue determinada a aprimorar a produção e, quem sabe, expandir para novas variedades. A moto agrícola que adquiriram ajudou a reduzir o esforço no transporte das caixas de frutas, mas ainda há limitações, como nos dias de chuva, quando o veículo não consegue subir o morro. No entanto, nenhuma dificuldade parece grande demais diante da determinação de quem acredita na força do próprio trabalho.
Entre as encostas do Belchior Alto, a plantação de pitayas dos Theiss não é apenas um cultivo, mas um exemplo de perseverança e amor pela terra.
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Imgens de drone da plantação no Belchior Alto (Divulgação)
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Jandira trabalhando na plantação (Divulgação)
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Jandira com a fruta que mudou o rumo de sua família (Divulgação)
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