Poliomielite: uma ameaça real
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Em 2024, a Campanha Nacional de Imunização contra a pólio aconteceu de 27 maio a 14 de junho (Fotos: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Com queda no índice de cobertura vacinal, autoridades médicas alertam para o retorno da doença ao Brasil
A poliomielite, também conhecida como pólio ou paralisia infantil, é uma doença viral altamente infecciosa que afeta principalmente crianças menores de 5 anos. Causada pelo poliovírus, a doença pode levar à paralisia irreversível, e em casos mais graves, à morte, quando os músculos responsáveis pela respiração são atingidos. Embora a pólio tenha sido um grande flagelo nas primeiras décadas do século XX, seu impacto foi reduzido significativamente com a introdução da vacina.
Os primeiros registros
O primeiro registro da doença, data de 1789, quando o médico britânico Michael Underwood descreveu a doença como uma “fraqueza nas extremidades” em crianças. Porém, foi somente no século XX que grandes surtos começaram a se espalhar de forma mais ampla. Na década de 1950, a pólio aterrorizava nações inteiras, especialmente durante os meses de verão, quando o vírus se propagava com maior facilidade.
A infecção é altamente transmissível, sendo espalhada principalmente por meio de alimentos e água contaminados. A grande maioria dos infectados apresenta sintomas leves, como febre, fadiga, dores de cabeça e musculares. Contudo, cerca de 1% dos casos evoluem para a paralisia, afetando os membros inferiores e, em alguns casos, até levando à morte.
Números da doença
Desde o início das campanhas de vacinação, especialmente a partir da década de 1960, com a vacina oral desenvolvida pelo médico e pesquisador russo Albert Sabin, o número de casos de poliomielite reduziu drasticamente. Em 1988, quando a Iniciativa Global de Erradicação da Poliomielite foi lançada, havia cerca de 350 mil casos anuais em 125 países. Em 2023, os números para incríveis 100 casos no mundo, concentrados principalmente em áreas de conflito e com baixo índice de vacinação, como Afeganistão e Paquistão.
O Brasil
Há 34 anos, em 1989, o Brasil confirmava o seu último caso de poliomielite. Este último registro foi no município de Sousa, no Estado da Paraíba. Nos anos 1980, o Brasil enfrentou surtos recorrentes de pólio, no entanto, o país foi declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) livre da transmissão do poliovírus, de maneira oficial, em 1994, após intensas campanhas de vacinação. Desde então, a imunização de rotina e campanhas anuais de vacinação em massa mantiveram o vírus sob controle. No entanto, de 2015 para cá o Ministério da Saúde tem registrado quedas nas taxas de vacinação infantil, o que preocupa médicos e especialistas. Entre 2020 e 2023, o índice de cobertura vacinal contra a pólio caiu para menos de 70% em algumas regiões, quando o ideal é uma cobertura superior a 95%.
Esse cenário aumenta o risco de ressurgimento da doença no país, especialmente com o aumento de movimentos antivacina e desinformação. Para combater isso, o Brasil discute a substituição da tradicional vacina oral (VOP) pela vacina injetável (VIP), considerada mais segura para evitar a possível mutação do vírus vacinal, ainda que seja mais complexa e custosa de administrar.
Números da imunização no Brasil
De acordo com o Ministério da Saúde, a cobertura vacinal contra a poliomelite vem caindo ao decorrer dos anos. A porcentagem de crianças vacinadas nunca foi tão baixo no Brasil. Em 2022, somente 72% das crianças se protegeram da doença, enquanto em 2021 o número foi apenas de 71%.
De acordo com dados divulgados durante a 26ª Jornada Nacional de Imunizações, que ocorreu em setembro, em Recife (PE), dos 5.570 municípios brasileiros, pelo menos 68% estão classificados atualmente como em risco alto ou muito alto para poliomielite. O índice representa um total de 3.781 cidades, sendo a maioria (2.104) categorizada com alto risco para a doença
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o risco de retorno da poliomielite no Brasil como “altíssimo”. Este prognostíco foi divulgado em junho de 2024.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1975, antes da vacinação generalizada, quase 6 mil crianças ficaram paralisadas nas Américas, em razão da poliomielite.
O papel do Rotary
A Organização Mundial da Saúde (OMS), UNICEF (Fundo das Nações para Infância e Adolescência), Fundação Bill e Melinda Gates e Rotary Internacional são grandes protagonistas na luta global contra a poliomielite.
Desde 1985, com o lançamento do projeto End Polio Now, o Rotary Internacional já investiu mais de US$ 2,1 bilhões e mobilizou voluntários ao redor do mundo. Por meio do Fundo Polioplus, a entidade arrecada milhões anualmente para financiar campanhas de vacinação e ações educativas em áreas vulneráveis. Uma das principais parcerias do fundo é com a Fundação Bill e Melinda Gates. Para cada dólar arrecadado pelo Fundo Polioplus, a Fundação Bill e Melinda Gates doa mais dois dólares, triplicando o impacto das doações. O objetivo anual é arrecadar, no mínimo, US$ 50 milhões, garantindo a continuidade das campanhas de imunização e erradicação da pólio.
Neste ano, o Rotary conseguiu, em parceria com a ONU, enviar 200 mil doses da vacina para a Faixa Gaza depois que um surto da doença foi registrado na região assolada por um conflito bélico há mais de um ano. As vacinas vão assegurar que crianças daquela área possam ser imunizadas contra a doença.
Gaspar e a conscientização
Neste sábado (26), o Rotaracty e o Interacty de Gaspar, grupos de jovens associados ao Rotary, realizarão a 4ª edição do evento “Roda de Brincar”, em comemoração ao mês da criança. Além de proporcionar diversão com cama elástica, brinquedos e pintura facial no Jardim Primavera, no pátio do CRAS, Bairro Bela Vista, o evento tem um importante componente de conscientização.
Durante a manhã, das 9h às 11h30min, grupos realizarão pesquisa com os pais para avaliar a aceitação da vacina contra a poliomielite, além de coletar dados sobre o cumprimento do calendário vacinal completo das crianças de até 5 anos. O evento, com entrada gratuita, visa não só a diversão, mas também aumentar a conscientização sobre a importância da vacinação.
Os interessados em apoiar o evento ou contribuir com o Fundo Polioplus, que mantém os esforços globais de erradicação da pólio, podem fazer doações ou entrar em contato através do Instagram @rotarygaspar.
Principais sequelas da poliomielite
- Problemas e dores nas articulações;
- Pé torto, conhecido como pé equino, em que a pessoa não consegue andar porque o calcanhar não encosta no chão;
- Crescimento diferente das pernas, o que faz com que a pessoa manque e incline-se para um lado, causando escoliose;
- Osteoporose;
- Paralisia de uma das pernas;
- Paralisia dos músculos da fala e da deglutição, o que provoca acúmulo de secreções na boca e na garganta;
- Dificuldade de falar;
- Atrofia muscular;
- Hipersensibilidade ao toque.
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No dia 24 é promovido o Dia Mundial de Combate à Pólio (Fotos: Divulgação)
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No dia 24 é promovido o Dia Mundial de Combate à Pólio (Divulgação)
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