Polícia dá detalhes do desaparecimento de jovem em Pomerode

A menina foi encontrada na casa do professor da escola onde ela estudava

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A Polícia Civil reuniu a imprensa na manhã desta segunda-feira (28), para dar detalhes do resgate de uma adolescente, de 12 anos, em Pomerode, no Vale do Itajaí. A jovem ficou desaparecida por quase dois dias até ser encontrada no começo da noite de domingo (27) confinada numa espécie de baú, debaixo de uma cama, na residência do suspeito, o professor de Matemática da escola onde ela estuda. O homem é carioca, tem 55 anos, e estava morando na cidade há um ano e nove meses. A Polícia Civil investiga se ele tem ligações com outros crimes de pedofilia. A prisão preventiva deve ser expedida pela justiça ainda na tarde de hoje. O homem vai responder por estupro de vulnerável, cárcere privado e fraude processual. O nome dos evolvidos não podem ser divulgados em obediência ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Segundo o delegado da Comarca de Pomerode, Antônio Godói, que ficou à frente das investigações, a menina e o professor mantinham conversas pelas redes sociais desde maio deste ano. Na noite de sexta-feira (25), por volta das 22 horas, ela saiu de casa sem avisar os pais, deixou um bilhete informando que estaria indo para Porto Alegre com uma amiga, porém, a intenção era ir ao encontro do professor. A polícia civil foi avisada na noite de sexta-feira, por volta das 23h, mas somente entrou no caso na manhã de sábado. As primeiras informações, fornecidas pelos pais, apontavam para o professor de matemática.

O pai chegou a telefonar para o professor, porém, este negou qualquer envolvimento no desaparecimento da adolescente. Ainda na manhã de sábado, o delegado Godói e equipe estiveram na residência do professor, onde ele se mostrou surpreso com o desaparecimento da menina e, ao mesmo tempo, bastante solícito em ajudar, porém, estava nervoso, fato que chamou a atenção do delegado. “Pela a nossa experiência se percebe o nervosismo, até o corpo dá alguns sinais”. 

Outro detalhe que chamou a atenção da polícia foi quando o delegado esteve no quarto da menina atrás de pistas. O caderno de matemática estava separado dos demais, sob uma pilha de roupas. “Um notável interesse pela matemática”, afirmou o policial.

Com um mandado de busca e apreensão e com auxílio de um cão farejador de um adestrador de Indaial, que se ofereceu para ajudar voluntariamente nas buscas, a polícia civil retornou à residência do suspeito na manhã de domingo, porém, não havia ninguém e o veículo do professor não estava na garagem. “Entramos na residência e, num primeiro momento, parecia tudo normal, porém, a mochila e roupas dela estavam sobre a cama”, revelou o delegado. Os pais também reconheceram os pertences da filha. O delegado contou que o cão farejador passou a indicar que a menina esteve e ainda poderia estar na casa. Neste momento, a polícia teve a certeza de que o professor estava envolvido no desaparecimento da jovem e passou também a temer pela vida da jovem.

Com a placa do veículo e a identificação do modelo, um Toyota Corolla de cor cinza, a Delegacia da Pomerode, com apoio do Departamento de Investigação Criminal (DIC) de Blumenau acionou as forças de segurança de todo o estado no sentido de localizar o veículo que estaria rodando na região de Joinville. A polícia acreditava que a menina pudesse estar no veículo. Cerca de 20 minutos depois, a Polícia Rodoviária Federal informou que o Corolla havia passado pelo posto de Pirabeiraba, próximo a Joinville. O veículo passou a ser seguido pelos policiais, e no Km 70, quando ele fez um movimento para deixar a rodovia, foi interceptado. O professor não resistiu e já na abordagem confessou que a menina estava na sua residência, debaixo da cama em uma estrutura de madeira meticulosamente preparada por ele. “Ele tirou os pés da cama, tirou o tecido, fazendo uma ‘casa’ debaixo da cama, onde mesmo deitando não teria problema… ele sustentou a cama com os pedaços de madeira”.

A polícia civil foi então avisada e localizou a menina no local indicado. Ela não estava amarrada nem amordaçada, ela inclusive relatou que não sentiu falta de ar mesmo estando num local confiado. O professor recebeu voz de prisão e foi trazido de volta a Pomerode, onde deu detalhes do crime. 

Ao delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC), Rodrigo Raitz, que participou das investigações, ele contou que menina deixou a residência dos pais e foi ao seu encontro na noite de sexta-feira. De lá, ele a levou para a sua casa. Disse ainda que deu um celular a ela depois que os pais retiraram o aparelho dela. Era para que eles continuassem se comunicando. Foi por causa desse aparelho celular, que o professor se deslocou até Joinville na manhã de domingo. Antes de sair de casa, orientou a adolescente a permanecer no esconderijo e não sair em hipótese alguma até o seu retorno.

A ideia era para despistar as investigações. Ele também chegou a publicar uma mensagem nas redes sociais pedindo para as pessoas ajudarem na localização da adolescente.  Ainda na BR-470, entre Ilhota e Navegantes, o professor ligou o celular para que pudesse ser rastreado, indicando que a menina estaria em deslocamento para o norte do estado. Em Joinville, ele jogou o aparelho em um rio e retornou para Pomerode. Ao se aproximar de casa, ele viu as viaturas da polícia. “Sem saber o que fazer, meio desorientado, ele deu meia volta e retornou para Joinville”, observa Godoi. Ele relatou em depoimento que a ideia era ir fugir para Curitiba, onde mora o seu filho. Ele também contou que ele e a jovem pretendiam morar na capital paranaense, onde ele estaria prestando concurso para professor. Além da Polícia Civil e da Polícia Rodoviária Federal, atuaram no caso a Polícia Militar, o Ministério Público, o Cyber GAECO e Corpo de Bombeiros.

A delegada Regional, Juliana Tridapalli, o delegado de Pomerode, Antônio Godoi e o delegado da DIC/ Blumenau, Rodrigo raitzFoto: Raphael Carrasco / JP