Dias que não serão esquecidos

Pessoas que sofreram com a tragédia de 2008 relembram a época

Os anos podem se passar, cinco, 10 ou 20 deles, mas quem vivenciou a tragédia de 2008 não esquecerá as cenas que viu. “Quem diz que a dor passa, nunca perdeu alguém que realmente amou. A dor só aumenta”, afirma Lucilene Regina Bachmann,  moradora do Braço do Baú, conhecida como Luca. Ela perdeu o irmão, Lindomar Rodrigo Bachmann, a cunhada, Bárbara Cristina e o sobrinho, Leandro, que também era seu afilhado. As casas de Luca e de sua mãe não foram atingidas, porém a perda que elas tiveram nunca será restituída. “Até hoje não consigo acreditar que isso aconteceu, vivo a base de remédios. O Rodrigo era um bom pai, irmão e filho; ele era tudo para nós”, desabafa Luzia Goreti Bachmann, mãe de Luca e Rodrigo.

Neste final de semana, em que as lembranças da tragédia são revividas por toda a região afetada, Luca vai à Aparecida do Norte para pagar uma promessa feita durante o nascimento do afilhado. A parto foi muito difícil para sua cunhada e Luca permaneceu ao lado dela durante todo o tempo possível. “Eu prometi: minha Nossa Senhora, nunca me abandonaste. Traz esse menino ao mundo que eu levo ele para conhecer a tua casa”. Pouco tempo depois, ouviu o choro do recém-nascido e agradeceu a  bênção recebida. Nem mesmo a morte do pequeno Leandro durante a tragédia fez com que Luca desistisse de cumprir a promessa feita há aproximadamente 10 anos.  “Não é somente na época da tragédia que lembramos deles. Lembro de Leandro todos os dias e principalmente em datas como seu aniversário, Natal, Páscoa e dia das crianças”, conta. Ela embarcou nesta semana junto com uma turma de Gaspar para visitar a cidade de sua protetora e, por coincidência, pagará a promessa feita durante o nascimento do afilhado no dia em que seus parentes morreram soterrados. Há cinco anos, uma grande barreira caiu no Morro Azul. A família de Rodrigo estava na casa dos sogros quando ela foi atingida: ao todo, seis pessoas estavam na casa e morreram. Luca lembra que, durante a tragédia, seu pai saiu de casa e foi pelo mato até o posto de gasolina do bairro. O sogro do dono do estabelecimento morava perto da família de Luca e sua intenção era de avisar que a região não havia sido atingida. Depois, caminhou até o supermercado Richartz, no Braço do Baú, onde encontrou um conhecido e falou sobre a destruição. Em resposta, ouviu: “Lá no Morro Azul quase todos morreram”. O pai saiu correndo para o local e, em meio a bananeiras, encontrou morta a sua nora. Pouco depois, viu o corpo do neto. O corpo de seu filho foi levado pelo barro e encontrado a oito quilômetros da casa. 

Desaparecida

A dor da perda também está bem viva no coração de Luzia Martendal, que hoje mora no bairro Minas. Durante a tragédia, ela perdeu a filha, Marinéia, e a neta, Larissa. Até  hoje, o corpo da criança não foi localizado. “Cinco anos se passaram daquele triste e assustador dia. Sentimos muito a falta delas e hoje só o que podemos fazer por ela são orações”, diz.  

 

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A união fez a diferença

“Nesta semana, tenho sonhos, as lembranças voltam. Tento esquecer o que vivi, mas não dá, as memórias ficarão para sempre”, conta Sílvia Chumba Marthendal, 33 anos. Hoje ela vive em uma casa doada pelo Instituto Guga Kuerten, próxima ao local onde sua ficava sua antiga casa, atingida durante a tragédia. Embora a casa não tenha sido completamente destruída, ela ficou cheia de barro e entulho, inabitável. A mãe de Guga, dona Alice, conheceu a família na época, viu que Sílvia tinha uma criança de colo e uma irmã com deficiência e afirmou que doaria uma casa a família, caso eles tivessem um terreno para a nova moradia. “Um ano antes da tragédia tínhamos comprado este terreno. Nós tivemos de chamar uma máquina para retirar todo o entulho e lama que tinha ficado sobre o terreno e recebemos a casa. Em julho de 2009 nos mudamos para cá”, relata.

Sílvia lembra que, no dia 23 de novembro de 2008, ouviu um barulho muito alto e foi a rua olhar o que acontecia. Uma vizinha gritou: “corre, o morro está caindo”. Ela, o marido Valcir saíram de casa correndo, apenas com a roupa do corpo, levando o filho, Eduardo, que tinha apenas meses de vida. O barro que caiu fez com que uma lagoa estourasse e a água levou dois de seus vizinhos por alguns metros, que foram socorridos por outras pessoas que moravam no local. Ao todo, 51 pessoas que moravam na região da rua do Matapasto passaram o final de semana reunidos em um rancho, sem poder sair de lá devido ao alto nível do ribeirão. Um ajudou ao outro, deu forças para continuar. Nenhuma destas pessoas morreu na tragédia. “Na segunda-feira, fomos a igreja do Braço e nos mandaram para um abrigo no Baú Baixo. Não aceitamos ficar separados, então todos foram levados ao mesmo abrigo. A união nos deu força para viver aquele momento”, destaca. Embora ninguém da vizinhança tenha falecido, Sílvia perdeu a prima, Marinéia Marthendal, e a filha dela, Larissa, cujo corpo nunca foi encontrado.

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