DEZ ANOS DEPOIS

O elo de vida

Leia os depoimentos de quem viveu a tragédia climática de 2008

Se tem algo que a tragédia de 2008 nos ensinou certamente foi a importância da solidariedade. E isso não faltou para com os catarinenses naquele momento. Tão logo as notícias começaram a se espalhar pelo Brasil afora, as inúmeras doações de mantimentos, alimentos, roupas e calçados começaram a chegar à região do Vale do Itajaí. Em Gaspar, os materiais recebidos foram tanto que foi necessário solicitar a parada de envio de donativos à cidade. Porém, para que as doações pudessem chegar até quem precisava, um verdadeiro "exército" se formou. Centenas de voluntários se reuniram e trabalharam incessantemente para organizar e fazer a triagem dos donativos. A corrente humana foi formada por pessoas da comunidade em geral e por representantes de vários clubes e associações. Lions Clube, Rotary Club, Ampe, Acig, CDL, Rede Feminina de Combate ao Câncer, Conferência Vicentina... eram todos um grupo só. "De todas as cidades, Gaspar foi a única que não foi criticada em relação às doações recebidas. É importante frisar que só funcionou porque todos trabalharam unidos", afirma o empresário Rogério Alves de Andrade, que na época fazia parte do Rotary Club de Gaspar. E não foram somente com doações que as pessoas mostraram seu amor e cuidado para como próximo. Muitas delas abriram suas casas para receber e abrigar desconhecidos que, em meio ao caos, não tinham para onde ir.


"Ficamos responsáveis em organizar o recebimento e distribuição das doações. Montamos o QG no Ginásio do João dos Santos e todos os dias duas carretas chegavam com comida e roupas. Começamos a perceber que muitas pessoas que vinham até o local receber as doações ficavam envergonhadas e constrangidas, então tivemos a ideia de fazer com que as doações fossem levadas até as casas pelos agentes comunitários. Esta atitude fez com que as pessoas recebessem o que realmente estavam precisando e acho que esse foi o segredo de tudo dar tão certo na distribuição dos donativos em Gaspar. Tivemos um excedente deste material e lembro que um ônibus veio do Oeste do Estado para pegar algumas das doações e levar para famílias carentes daquela região.

José Eduardo de Souza,

na época presidia a Ampe de Gaspar      



"Os clubes de serviços foram chamados pela prefeitura para uma reunião e na oportunidade eles falaram: "precisamos de ajuda" e foi o que fizemos. Antes deste encontro, eu já havia cedido à Rádio Sentinela do Vale um gerador, para que a rádio ficasse 24 horas no ar. Durante 60 dias fiquei envolvido com os trabalhos de triagem no Centro de Distribuição dos donativos. O mais interessante é que, entre os mantimentos, as pessoas enviavam bíblias, com bilhetes de solidariedade e motivação. Recordo-me que, por meio do Rotary Club, nossa primeira ação foi adquirir botas, capas, camisetas, calças jeans e capacetes, além de ferramentas como picaretas e motosserras para os bombeiros de Gaspar e Ilhota. Há dias, eles trabalhavam com as roupas molhadas".

Rogério Alves de Andrade,

na época integrava o Rotary Club de Gaspar



"No sábado (22), eu estava com a família no meu sítio, que fica no Coral de Minas, no Gaspar Grande, e começou a chover muito forte. Então, eu e mais dois sobrinhos pegamos os quadriciclos e fomos ver como estava a situação. Acontecia um casamento na comunidade São Cristóvão e ninguém mais conseguia deixar o local. Ajudamos a retirar alguns veículos e voltamos para casa. No domingo (23), eu e minha filha descemos para o rancho e quando estávamos próximos a um viveiro de pássaros escutamos um estalo e olhamos para cima. O morro desceu todo à nossa frente e tudo sumiu debaixo da terra. Eu e minha filha nos abraçamos e começamos a chorar. Subimos novamente para casa e então começou a nossa lida. Eu e meu sobrinho saímos pela mata, com cordas e facões, para tentar chegar pelo menos até a casa da minha mãe. Foram quase cinco horas cortando árvores e atolando na terra, pois não tinha mais caminho. Quando vi minha mãe, ela disse que isso não tinha acontecido só no sítio, que a coisa era muito pior. Retornamos para o sítio e retiramos todas as outras pessoas pelo mesmo caminho. Segui direto para o aeroporto de Navegantes, sujo de lama, para retornar a São Paulo (SP), onde trabalho. Só então percebi que minhas perdas não eram nada comparadas às situações de muitas outras pessoas. Iniciei uma campanha na minha empresa para recolher roupas e alimentos e consegui grande adesão, principalmente de amigos que também eram empresários, assim como moradores de uma forma em geral. A iniciativa resultou em várias carretas carregadas de donativos, que foram trazidos para o Ginásio João dos Santos".

Salésio Nuhs,

empresário



Durante aqueles dias, o Lions Clube de Gaspar atuou em vários pontos, ajudando no acolhimento aos desabrigados e na recepção, triagem e distribuição dos donativos, além de preparar as refeições diárias para os cerca de 300 voluntários que trabalhavam no Centro de Distribuição. Outra ação, que envolveu clubes de Lions de todo o mundo, direcionou para nós recursos para a aquisição de medicamentos de uso emergencial e, em 2009, tivemos a grande emoção de entregar 34 fogões e 13 refrigeradores para 42 famílias - um trabalho feito em conjunto com o Lions de São Bento do Sul. Além disso, em parceria com a Associação Internacional de Lions Clubes, idealizamos o projeto da Vila Lions, quando foram construídas 22 casas populares entregues para famílias que perderam tudo no Alto do Baú, em Ilhota. Foram momentos muito difíceis, os quais foram enfrentados com o espírito de solidariedade, união força, coragem, trabalho, superação e consciência. Os pontos negativos foram superados com a força que surgiu dessa união. Aproveito a oportunidade para ressaltar que uma boa ação pode ser multiplicada, nos faz crescer, e constatar que no mundo atual, ainda vale a pena acreditar e sonhar".

Marlene Luiz Pereira

Lions Clube de Gaspar 



Dono de uma empresa de entulhos, recém inaugurada no Gaspar Alto, Sérgio Rubens Theiss, não teve dúvida. Pegou uma de suas máquinas e abriu a estrada. Depois disso, foi até a prefeitura de Gaspar e disse ao então prefeito, Adilson Luis Schmitt, que dispunha de duas máquinas e 5 mil litros de combustíveis para serem usados. E não foi só isso que fez o empresário. Ele também foi a Florianópolis na busca de recursos para iniciar a reconstrução da cidade. Na Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável ele conseguiu os primeiros R$ 430 mil, que foram utilizados para obras de reconstrução de pontes, tubulações, desobstrução de vias, macadamização, além de serviços de terraplanagem e pagamento de horas-extras para os funcionários da prefeitura. Theiss ainda recebeu na sua empresa grande quantidade de entulho originado da destruição de casas e calçamento de ruas. "Foi um trabalho incansável de vários dias, lavamos as paredes de muitas casas. Em uma semana, a cidade estava novamente limpa", recorda.    

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