DEZ ANOS DEPOIS

Marcas que não se apagam

Uma década depois, morador do Belchior Alto relembra os momentos de angústia


Em 2008,,,/Foto: Ivan Luchtemberg/Jornal Metas


.. e em 2018 / Foto Ivan Luchtemberg/Jornal Metas/

O barulho das árvores caindo, das enormes pedras rolando e das casas sendo soterradas e arrastadas por avalanches de terra jamais será esquecido. Hoje, dez anos após, as vítimas ainda são tomadas por forte emoção ao relembrar o novembro de 2008. Muitas pessoas saíram de casa somente com a roupa do corpo e embarcaram em uma aeronave sem saber para onde seriam levadas. Outras tiveram que construir caixões improvisados e cavar covas para sepultarem familiares e amigos. Teve quem passou a noite no mato, no topo dos morros, esperando o dia clarear e rezando pela própria sobrevivência. Muitas das pessoas resgatadas estavam feridas e em estado de choque. "Vejo como se fosse hoje aquelas pessoas soterradas e não poder fazer nada para ajudar", emociona-se Pedro Gandolfi, 55 anos, morador do Sertão Verde, em Gaspar. A casa dele ficava ao lado de uma residência atingida por um deslizamento de terra, onde sete pessoas morreram.

Carlos Alberto Barbacovi, 52 anos, também viveu a tragédia de perto. Perdeu móveis, roupas, utensílios domésticos, documentos pessoais e as máquinas da pequena facção. Logo depois da tragédia, ele assumiu a presidência da Associação de Moradores do Sertão Verde, onde permaneceu por oito anos. Segundo ele, muita coisa foi feita no bairro, que também cresceu nos últimos dez anos. Barbacovi só lamenta que a nova escola Angélica Costa não tenha sido construída no Sertão Verde. "A Bunge, que doou o projeto e a obra, exigiu a escola em outro local", afirma.

Nos primeiros meses após a tragédia, Odair César Theiss, 54 anos, achava que não seria possível voltar a morar em sua residência, na rua Nova Biguaçú, no Belchior Alto. A casa (foto abaixo) ficou um ano interditada pela Defesa Civil e, durante este período, a família morou de aluguel. Ao relembar a tragédia, o sócio-proprietário da Indústria de Bebidas Belchior se emociona. "No sábado já estávamos sem energia elétrica e, à noite, o ribeirão que passa atrás da minha casa estourou o muro. Quando fui abrir a porta, a pressão da água me jogou para trás. Com ela, vinha também muita sujeira. Saímos de casa correndo, eu, minha esposa, e minhas duas filhas, só de pijama". A família buscou abrigo no depósito de bebidas, que logo foi recebendo outros moradores. "Minha esposa ficou assustada por muito tempo. Qualquer barulho ela entrava em pânico". Quando a chuva deu uma trégua, Odair voltou até a casa para ver como estavam as coisas. O rio passava agora em sua garagem e até toras de árvores havia na sala da residência. "Para retirar os troncos, foi preciso serrá-los. A areia foi retirada durante dias, com a ajuda de um trator. Perdi tudo que tinha dentro de casa". Um ano depois, a família voltou para "o lar". "Aqui é um lugar bom de se viver, é tranquilo. Moro no Belchior Alto desde que nasci". Na casa, Odair e a esposa Rita vivem apenas com uma das filhas - a outra, Mariele, de 26 anos, mora em São Paulo (SP). Ela é goleira e compete pela Seleção Brasileira de Futsal. "A vida precisa seguir", resume Odair.

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