DEZ ANOS DEPOIS

Eventos climáticos vão ocorrer com mais frequência

A afirmação é do geólogo Juarês Amond, que estudou minuciosamente a tragédia climática de 2008


Juarês afirma que mais de 80% dos deslizamentos de terra, em 2008, tiveram como causa a ação do homem /Foto: Alexandre Melo/Jornal Metas


Dez anos depois, a dúvida ainda persiste: - podemos enfrentar novamente uma tragédia climática como a de 2008? A resposta, infelizmente, é sim. Eventos como o de 2008 vão se tornar cada vez mais frequentes não apenas em nossa região, mas no mundo. A explicação está nas mudanças climáticas pelos quais o planeta passa. Geólogo graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com mestrado e doutorado em Geografia, o professor da Furb, Juarês José Aumond, 73 anos, talvez seja a pessoa que mais estuda fenômenos climáticos no Brasil. Nos últimos dez anos, ele deu palestras, prestou consultoria, participou de dezenas de conferências, congressos e seminários e concedeu outras tantas entrevistas sobre o tema. Em recente palestra em Gaspar, por ocasião dos dez anos da tragédia climática, o geólogo voltou a apresentar estudos e dados científicos que apontam para uma ameaça terrível à sobrevivência da vida humana no planeta num período relativamente curto - cerca de 80 anos.

O planeta, explica ele, passa pela mudança da Era Interglacial para a Glacial. Aliás, de acordo com o professor, já deveríamos estar na Era Glacial, que é muito mais perversa do ponto de vista da sobrevivência da espécie humana, isto porque o clima torna-se mais frio (em média 5ºC), ventoso e os recursos naturais, como a água, tornam-se bem mais escassos - cerca de 30% da terra será coberta de gelo e imensas áreas tropicas passarão a ser áridas e semi-áridas. "Só não entramos na Era Glacial por causa do efeito estufa, que é a emissão na atmosfera de gases como Dióxido de Carbono (CO2), Metano e Óxido Nitroso que retardam o resfriamento do planeta. Por um lado é positivo, porém, isso tem um alto custo: os desastres naturais", observa o professor Juarês. Ele diz que com cada vez mais e com mais intensidade vão acontecer enchentes, inundações, escorregamentos, tornados, furacões, grandes estiagens e grandes preciptações de chuva. Os invernos também passarão a ser mais rigorosos e os verãos mais quentes e prolongados. O geólogo, que já integrou equipes de pesquisadores em estudos nos extremos do Planeta, como a Antártida, se diz impressionado com o derretimento do gelo nas calotas polares, tanto no Hemisfério Norte quanto no Hemisfério Sul.

O fenômeno, conhecido por aquecimento global, está provocando a elevação gradativa do nível do mar, que até 2.100, segundo previsões dos cientistas, deve registrar um metro a mais isto já está, inclusive, impactando no litoral brasileiro. O professor Juarês não tem dúvida de que essa desorganização climática tem origem na ação do homem sobre a natureza. Daqui pra frente, os eventos climáticos serão mais frequentes e mais destruidores. Para se ter ideia, entre 2003 e 2018 foram registrados 32 mil desastres naturais no Bioma Mata Atlântica.

Depois de 2008, o professor Juarês percorreu toda a região atingida do Vale do Itajaí e Litoral Norte, avaliou minuciosamente cada escorregamento de terra, e concluiu que 82% foram provocados pela ação do homem. "O legislador quando definiu o que é área de preservação permanente, mata ciliar, encostas e topos de morro, não fez para bonito, mas porque a lei é necessária para preservar vidas humanas, a perenidade e a qualidade da água", acentua o geólogo. De acordo com o professor Juarês, as perdas econômicas e de vidas humanas em 2008 tiveram origem em áreas que deveriam ser de preservação permanente. "Nunca poderíamos ter ocupado essas áreas, nós abrimos estradas, preparamos o solo para casas, suprimimos a vegetação e cultivamos bananeiras e pinos em áreas de preservação. Não podemos esquecer que a floresta natural é a melhor engenharia para conter os escorregamentos", alerta. Para corroborar com a sua tese, o geólogo revela que o Parque Nacional da Serra do Itajaí, que é área preservada, praticamente não teve escorregamentos de terra em 2008, e se houve algum este foi de pequena quantidade. "Já nas áreas desmatadas foi aquilo que nós vimos em 2008, um tragédia", lamenta o professor Juarês.

Mas nem tudo são espinhos. O geólogo, que se intitula um pessimista a curto prazo, porém otimista a longo prazo, observa avanços depois de 2008. "A administração pública e a própria Defesa Civil estão coibindo mais a ocupação das áreas de preservação, mas em muitos lugares, apesar da ordem para sair, infelizmente as pessoas insistem em ficar, expondo-se a riscos desnecessários". No entendimento do professor Juarês, as defesas civis nos municípios avançaram bastante em conhecimento e técnicas, além da mídia que, em parte, tem feito o seu papel no sentido de alertar. Para o geólogo, o importante daqui para frente é educação nos ensinos básico e fundamental. "Precisamos preparar as nossas crianças de hoje para os momentos críticos do futuro, porque se não fizermos agora daqui a 20 ou 30 anos a situação estará ainda pior", prevê. Ele também vê a necessidade de se tirar o cidadão da passividade em relação às mudanças climáticas, tornando-o mais pró-ativo no sentido que se organizem e comecem a se preparar para os novos tempos. "Não podemos mais aceitar essa situação paternalista onde os governos dão tudo e resolvem tudo.Os governos, na verdade, somos nós, precisamos ser mais pró-ativos neste sentido", finaliza.



Das 244 geleiras na Antárdita, 212 estão derretendo/Foto: Juarês Amond


O efeito estufa no Brasil

- Amazonas: até ano 2100: 20% a 30% se transforma em cerrado (ou 60% na hipótese mais pessimista).  

- Perda da biodiversidade

- Alteração do padrão dos ventos.

- Aumento da pluviosidade no sul/sudeste: tempestades, ciclones extratropicais e estiagens intensas

- Redução das chuvas no norte e nordeste

- Nível dos mares aumenta 0,5 à 1,0 metro até 2100 sg. IPCC.

- Verões mais quentes e prolongados invernos curtos.

*IPCC: a temperatura deverá aumentar caso não se altere tendência atual de 1,4 à 5,8 centígrados

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