Álccol e Direção

Uma conta cara e trágica

Brasil é o 5º país do mundo em mortes por acidentes de trânsito. Consumo de álcool está entre as maiores causas

Uma conta cara e trágica
A Lei Seca e a fiscalização ostensiva conseguiram reduzir o número de acidentes, porém, ainda não o suficiente
Giovani Ramos/Jornal Metas

Há dois meses, o gasparense Sílvio Nagel voltava de carro do shopping para casa à noite, com a mulher e a cunhada. O trânsito estava tranquilo e ele vinha em velocidade baixa. Quando foi fazer um cruzamento no bairro Ponta Aguda, viu um carro em alta velocidade furar o semáforo e colidir contra o seu. Nagel e a esposa tiveram ferimentos leves. A Guarda de Trânsito foi chamada e o condutor do outro carro, responsável pelo acidente, estava visivelmente embriagado.

"O bafômetro dele deu 0,55 gramas de álcool, mas nem precisava, pois era visível. Ele estava tão alcoolizado que quando o guarda foi entrar no seu carro para ver onde tinha parado o velocímetro, o sujeito disse 'só não mexe em nada aí'. Ele não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo", recorda. Nagel sentiu na pele os riscos que o trânsito oferece mesmo quando se dirige dentro das leis. A presença de motoristas irresponsáveis, em muitos casos sobre o efeito do álcool, ajudam a colocar o Brasil como um dos países que mais mata pessos no trânsito, com uma média de 50 mil mortes por ano, número semelhante ao de homicídios. Uma pesquisa feita pelo  Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2013 revelou que a combinação álcool e direção é a segunda maior causa de acidentes no Brasil, perdendo apenas para a alta velocidade. Cerca de 21% dos acidentes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tem a bebida alcóolica como origem do problema. A criação da Lei Seca em 2008, que proibiu o consumo de álcool em qualquer nível, chegou a reduzir o número de mortes nos primeiros anos, mas os resultados estão longe de serem satisfatórios.IMG_3663.jpg

 

Em Gaspar, 39 pessoas já foram pegas pela Lei Seca somente este ano. Na maioria dos casos, o teste do bafômetro foi aplicado após um acidente, acusando o uso do álcool no motorista responsável pela colisão. O diretor Geral da Ditran, Dirceu dos Passos, conta que não há horário nem situação específica para os casos de embriaguez. "Não é só depois de festas. Já pegamos motoristas embriagados de manhã, de tarde, de noite, de madrugada, acontece toda hora", comenta Passos, que revela que mais blitz na cidade vão ocorrer. "O pedido por mais fiscalização é da própria comunidade", justifica. Depois do acidente em maio, Silvio conta que mudou completamente a sua atitude no trânsito.  "A atenção, que já era grande, ficou muito maior. Não basta apenas andar dentro da lei, tem que ficar de olho para evitar o erro dos outros motoristas", completa.

Prejuízos

Os prejuízos dos acidentes de trânsito não são exclusivos das vítimas e familiares. Um levantamento do Ipea, em 2011, apontou que o prejuízo financeiro para o país com as mortes causas nas ruas e rodovias chega a R$ 14,5 bilhões por ano, o equivalente a arrecadação de seis estados do Norte e Nordeste. Analisando os gastos hospitalares, pensões, prejuízo à família e à empresa aonde a vítima trabalhava, entre outros pontos, cada morte no trânsito gera um custo de R$ 567 mil aos cofres públicos, uma conta que todos, inclusive o que nunca se envolveram em acidentes, acabam pagando.

Uma difícil mudança

O simples ato de ingerir um copo de bebida alcóolica e dirigir já se configura infração de trânsito, cuja multa é de R$ 1.915,40 e o motorista perde a habilitação por 12 meses. Se o motorista se envolver num acidente ou for flagrado em condições alteradas, passsa a ser crime de trânsito, com possibilidade de detenção de seis meses a três anos. Mesmo com o rigor da lei, os casos de motoristas alcoolizados continuam frequentes. Por que as punições não assustam os condutores?
Para o diretor da Ditran, Dirceu Passos, o motorista nunca acha que o acidente irá acontecer com ele. "Ele acha que só acontece com os outros. Nós já tivemos casos de denúncias, de pedidos para maior fiscalização. Fomos fazer a blitz e o próprio solicitante foi pego cometendo uma infração. Aí, ele passa a reclamar", comenta. Para Passos, as campanhas são fundamentais, mas não se resolvem sozinhas. "Não adianta a criança aprender as leis na escola e quando chega em casa os pais não seguem. A criança cresce e vive num ambiente onde todos desrespeitam as leis. A educação de casa é necessária para haver essa mudança de cultura", afirma.
Comandante da PM em Gaspar, o Capitão Heindte Heerdt lembra de um caso em Pomerode, onde os vereadores pressionaram a polícia a reduzir as blitz porque estariam prejudicando os bares. "Nós temos a cultura favorável ao álcool. Diferente do cigarro, que antes de restringirem, já havia uma campanha contra, a sociedade sempre viu a bebida como algo bom, incentivando o consumo", argumenta.

Legislação eficiente

A atual legislação de trânsito é boa, correta e não precisa de alterações. A opinião é do comandante da 2ª Região da Polícia Militar Rodoviária, sargento Marcelo Vieira Ramos. Ele lembra que o Código Brasileito de Trânsito vem sofrendo alterações constantes desde 2008, quando foi instituída a Lei Seca, mas a versão atual atende às demandas. Para ele, o trabalho na educação precisa ser intensificado.
"Hoje, os órgãos fiscalizadores podem usar fotos, vídeos e testemunhas como provas. A legislação melhorou, porém, não é a única ferramenta para reduzir a imprudência nas ruas e rodovias. Temos boas campanhas educativas, mas elas precisam ser mais intensas. Uma criança de 10 anos reprimindo um pai por uma infração pode ter um efeito melhor que uma multa. E quando falo em educação, não é apenas para os menores". 

LEIA TAMBÉM

JORNAL METAS - Rua São José, 253, Sala 302, Centro Empresarial Atitude - (47) 3332 1620

rede facebook | rede twitter | rede instagram | nosso whatsapp | nosso youtube

JORNAL METAS | GASPAR, BLUMENAU SC

(47) 3332 1620 | logo facebooklogo twitterlogo instagramlogo whatsapplogo youtube