As doenças do trânsito

Dia a dia frente ao volante pode trazer vários problemas e riscos para a saúde dos motoristas

As doenças do trânsito

Dirigir tem se tornado uma rotina arriscada não só para os motoristas de longas viagens. Hoje, o trânsito se tornou uma atividade de risco até para aqueles motoristas que percorrem pequenas distâncias. E não é apenas a possibilidade de se envolver em um acidente que preocupa.  Segundo especialistas em medicina de trânsito, o simples dia a dia frente ao volante pode trazer vários problemas de saúde. Um dos grandes vilões seria o estresse, provocado pelo tempo em que a pessoa fica parada em congestionamentos. Irritação, impaciência e até agressividade acabam tomando conta de alguns motoristas que precisam enfrentar longas filas para, por exemplo, chegar em casa após um cansativo dia de trabalho. 

Há alguns meses, um vídeo postado no youtube e compartilhado entre as pessoas por um aplicativo de celular retrata bem o problema. Na gravação, um motorista extravassa toda a sua raiva após enfrentar um longo congestionamento na BR-470, em Gaspar. As filas haviam se formado após um grave acidente entre cinco veículos, que resultou na morte de três pessoas. Fora de si, o autor do vídeo esbraveja por estar preso no congestionamento, enquanto poderia estar em casa, ou se divertindo com os amigos. Ele lembra que a situação é rotineira. Os xingamentos sobram até para a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, devido a promessa de duplicação da rodovia - que anda a passos de tartaruga.

“Todos os condutores estão sujeitos a riscos variados. No final do dia, um motorista submetido a condições estressantes é capaz de sofrer tontura, problemas de audição, dores de cabeça e no corpo, entre outros problemas”, diagnostica Henrique Naoki Shimabukuro, membro do Departamento de Medicina de Tráfego da Associação Paulista de Medicina. Outras doenças, como câncer de pulmão, enfarte do miocárdio, crises agudas de asma e conjuntivite também podem ser adquiridas por quem fica muito tempo no trânsito. A constatação faz parte do estudo de Paulo Saldiva, médico e professor da Universidade de São Paulo (USP). “É evidente a queda da qualidade de vida, a poluição do ar, os níveis de tensão aumentando a pressão arterial, entre outros sintomas. Mas essas paisagens quase imperceptíveis ficam mais claras quando é constatado que o trânsito, hoje, é a segunda maior fonte de poluição do meio ambiente brasileiro, só ficando atrás do desmatamento da Amazônia”.

Estresse pós-traumático

Os perigos do trânsito podem até causar estresse pós-traumático que atinge pessoas que presenciam ou se envolvem em acidentes. O trauma dificilmente é superado sem a ajuda de um profissional. Ao se ver diante de um volante, Simone Eiti Wieser, de 47 anos, começa a suar, a tremer e as dores no corpo aparecem rapidamente. Ela prefere não mais dirigir do que ter que passar por esta tensão. “Eu fiz a Carteira Nacional de Habilitação em 2001, mas foram poucas as vezes que dirigi. O documento está guardado em uma gaveta e não fiz mais as renovações”, afirma. 

Simone acredita que o medo da direção está relacionado a sua infância, quando ainda morava no Rio Grande do Sul. Um dia, ela voltava com a família da casa da avó e quase sofreu um acidente. “Estávamos todos dentro do Fusca do meu pai e quando ele foi cruzar uma avenida ele deixou o carro morrer. Era noite e eu só via os faróis de um outro veículo, que se aproximava. Meu pai tentava fazer o fusca pegar, mas não conseguia, e o veículo chegava cada vez mais perto. Quando o carro ia bater meu pai conseguiu ligar o Fusca. Escapamos por muito pouco de sermos atingidos”, diz. E hoje é este o maior medo de Simone ao pegar o volante: deixar o carro morrer. “Aquela cena não sai da minha cabeça até hoje. Foi uma situação muito angustiante”. Porém, andar de carona ou ver os três filhos jovens dirigirem não é problema para Simone.  

Motorista pensa no individual

O ritmo de vida acelerado nos dias atuais e a perda de tempo cada vez mais frequente no trânsito tem aumentado consideravelmente o número de motoristas estressados. Muitas vezes, a raiva acaba sobrando para quem trabalha justamente para tentar amenizar os problemas: os agentes de trânsito. São eles que precisam escutar as reclamações, ouvir desaforos e, infelizmente, algumas vezes até ser agredido fisicamente. “Ocorre um conflito no trânsito, pois o agente defende ações pensando no coletivo e o motorista pensa no individual, no que será mais prático para ele”, explica o presidente do Sindicato dos Agentes de Trânsito (Sindatran) de Santa Catarina, Pedro da Silva. 

Desde 2008 ele trabalha como agente de trânsito em Gaspar e já passou por uma destas experiências agressivas. Em 2011, ele foi agredido: levou um soco de um motorista e quebrou o nariz. O motorista teria ficado irritado após ser informado que teria de fazer um retorno, devido a uma obra de recapeamento de uma rodovia que corta a cidade. “Hoje os agentes precisam estar preparados e capacitados para saber lidar com estes motoristas. Muitos não querem dar uma volta de 100 metros, querem chegar rápido ao destino. Quando acontece algum imprevisto, é no agente que o motorista desconta toda a sua raiva”, afirma. 

Durante seu trabalho, Silva também já presenciou várias situações conflitantes entre motoristas - principalmente quando ocorrem pequenas colisões. “Às vezes, se o agente de trânsito ou a polícia não chegar rápido ao local os motoristas acabam entrando em vias de fato”.  

Por isso, o sindicato defende que hoje as diretorias de trânsito tenham pelo menos um psicólogo para atender os agentes. A solicitação está sendo levada para os órgãos de trânsito. “ Muitas vezes o agente volta da rua carregado de emoções contidas e não tem com quem desabafar, com quem falar sobre o assunto”. 

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