'Fomos os primeiros a sentir a crise no país'
Caminhoneiros autônomos foram os protagonistas de um movimento grevista histórico no começo deste ano
Caminhoneiros autônomos foram os protagonistas de um movimento grevista histórico no começo deste ano, quando cruzaram os braços e bloquearam rodovias, por duas semanas. A intenção, na época, era reivindicar por temas como a baixa no preço do óleo diesel e a valorização do frete. O movimento ganhou força em Santa Catarina e se expandiu para outras regiões do país. No Dia do Motorista (25 de julho), o líder do polêmico movimento grevista avalia o que mudou após a manifestação.
Agência Adjori de Jornalismo: Passados quatro meses da greve que ficou para a história do país, o que continua na pauta de reivindicações da categoria?
Vilmar Bonora: Na verdade, a nossa classe está um tanto esquecida pelo governo e a lista de reivindicações só aumenta. As rodovias da região Oeste de Santa Catarina, por exemplo, como a BR-163 e a BR-282, estão uma calamidade. É até uma falta de respeito.
Adjori/SC: Qual é a estratégia da categoria na cobrança das demandas importantes para os caminhoneiros?
Bonora: Nós temos uma comissão que negocia diretamente com o governo e seguidamente estamos nos reunindo. Só que dependemos da classe política. Se, efetivamente, eles não derem um pontapé no sentido da mudança, de nada adianta. São eles que têm a possibilidade de votar para mudar as leis. O que nós podemos fazer é cobrar, mesmo que seja trancando as rodovias. Precisamos de mudanças urgentes. Do jeito que está, não dá pra continuar.
Adjori/SC: Após a greve, melhorou ou agravou a situação dos caminhoneiros autônomos?
Bonora: Acredito que piorou. Até agora, é só promessa. A gente já nem sabe mais o que fazer.
Adjori/SC: Já passou pela cabeça desistir da causa dos caminhoneiros autônomos?
Bonora: A gente não pode desistir. Se fizermos isso agora, vamos concordar com essa pouca vergonha que está o transporte no país. Não dá pra ficar de braços cruzados porque estamos trabalhando no vermelho. Não tem mais como reduzir custos. Ao contrário, os nossos custos tendem a aumentar, com a situação das rodovias (no caso, com a manutenção dos veículos). E temos que persistir, já que essa é a nossa profissão. Fizemos um investimento no setor de transporte e cada profissão precisa ser valorizada. Já pensou se todos os caminhoneiros mudassem de profissão no Brasil?
Adjori/SC: O que pesa mais na carga dos caminhoneiros autônomos?
Bonora: É o frete defasado, o óleo diesel num preço absurdo, as rodovias em condições precárias. Olha, é até difícil dizer o que pesa mais, é um conjunto de situações que se tornou um fardo. Os caminhoneiros foram os primeiros a sentir essa crise que está instalada no país, a população demorou a acordar.