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13/03/2025 18:02
GASPAR 91 ANOS

Especial Gaspar 91 anos: Blumenau na Contramão

Por Daniel Nogueira

 Publicado 13/03/2025 18:02  – Atualizado 13/03/2025 18:02

  • O desmembramento de Blumenau (1934). As cores definem os vários municípios desmembrados de Blumenau: Harmmonia (atual Ibirama); Beneditto-Timbó; Indayal; Massaranduba; Gaspar. (Fotos: Divulgação)

Criado em meio a disputas políticas e econômicas, o município se separou de Blumenau e consolidou sua identidade própria

Antes da Revolução de 1930, a área de Blumenau se estendia por 20% do território de Santa Catarina (cerca de 10 mil km²). A cidade, fundada pelo Dr. Blumenau, não comungava dos ideais liberais da época, preferindo defender o conservadorismo. As lideranças políticas e econômicas entendiam que um município forte, necessariamente precisava de um país economicamente forte. Criar pequenas cidades as deixariam empobrecidas.

A ideia do Governo Vargas era enfraquecer politicamente e economicamente as cidades que eram contra o liberalismo. A criação de novos municípios, sob a bandeira do nacionalismo, daria um novo vigor e direcionamento político à Santa Catarina, que tinha traços fortes da colonização alemã e italiana no Vale do Itajaí.

Gaspar, embora distrito de Blumenau, sempre foi economicamente e politicamente ligada a Itajaí. O vapor e a estrada de ferro levavam os produtos agrícolas e a madeira até o litoral onde eram embarcadas via Porto de Itajaí. “Nós não vendíamos nada para Blumenau, pelo contrário nossa relação com a cidade vizinha era simplesmente de compra. A nossa usina de açúcar vendia para São Paulo e Buenos Aires, pelo Porto de Itajaí. O arroz também saía de Gaspar para grandes centros por via portuária”, explica a pesquisadora e professora Leda Maria Baptista.

Segundo ela, economicamente Gaspar era muito mais importante para Santa Catarina que Blumenau. Eurico Fontes já havia instalado em Gaspar a usina de açúcar São Pedro e o descascador de arroz. Todavia, era partidário dos republicanos, pois também entendia que um país forte economicamente garantiria municípios fortes.

Fontes, que era carioca, começou sua trajetória como dono de um jornal em Itajaí, mas acabou sendo reprimido. Por volta de 1915, entregou o jornal a outra pessoa e comprou terras alagadas em Gaspar. Essas terras, Fontes revendeu para os colonos italianos das colônias de Ascurra e Rodeio. “Esses colonos trouxeram para Gaspar o grande ouro, que foi o período áureo da economia gasparense, que foi o plantio da cana-de-açúcar e do arroz irrigado”, conta Leda Baptista. Em 1930, segundo a pesquisadora, os italianos já eram produtores fortes de cana e arroz. “Eles fizeram uma coisa muito simples quando aqui chegaram, gasto zero, produção tudo. Foi assim que eles enriqueceram. Aliás, essa era uma característica do europeu, muito trabalho e pouco gasto”, observa Leda Baptista.

Rua Aristiliano Ramos na década de 1930
  • Rua Aristiliano Ramos na década de 1930 (Fotos: Acervo do Arquivo Histórico de Gaspar)

Durante o movimento revolucionário de 1930, os soldados, que saíram do Rio Grande do Sul em direção à capital federal, passaram em lombo de cavalo e carroções pelo Vale do Itajaí. Em Blumenau, acamparam em frente à estação ferroviária. “Não fizeram grandes coisas, mas também não foram expulsos porque o prefeito de Blumenau, na época, era o gasparense Jacó Alexandre Schmidt”, conta Leda Baptista. Jacó era filho de Adão Schmitt, próspero produtor rural do Poço Grande.

Para a pesquisadora, não se pode afirmar categoricamente que Jacó Schmitt era alinhado aos revolucionários, mas deixava transparecer certa simpatia pelo movimento. “Ele fez vistas grossas para alguns dos acontecimentos que marcaram a passagem das tropas revolucionárias pelo Vale do Itajaí”, revela a pesquisadora.

Os soldados permaneciam, em média, dez dias nas cidades, tempo suficiente para descansar e alimentar-se bem. Tudo por conta dos moradores. Eles ainda confiscavam o que fosse possível para seguir na longa jornada. “Eles praticamente invadiam as casas, de quem era contra a revolução, e pegavam tudo o que fosse provisão, desde galinhas, porcos, farinha, açúcar, fubá, cachaça e entre outros produtos”, conta Leda Baptista.

Com a proximidade das tropas, as famílias simplesmente fechavam suas casas e se escondiam no mato, em áreas onde fosse impossível os soldados encontrá-los. O alvo eram as propriedades das famílias contrárias à revolução. Uma das casas invadidas foi a da família Schöpping, na época proprietária da Cerâmica Zimmermann.

A residência ficava na Rua Dr. Nereu Ramos. “A família havia fugido para o mato, mas deixou na casa um empregado de confiança. Os revolucionários se instalaram na moradia, mas antes deram uma surra impiedosa no pobre empregado e depois jogaram sal no seu corpo. Ele acabou liberado e quase sem forças correu e se atirou no rio com medo de morrer e desapareceu”, relata a pesquisadora que ouviu essa história da própria família, nos anos 1980, quando realizou um trabalho de pesquisa sobre a história de Gaspar.

Ela conta que houve outros casos de abuso, como na propriedade de Pedro Schmitt, no Poço Grande, onde é o atual comércio Moendão. A família era sócia do Comércio & Exportação Malburg, com sede em Itajaí. Os soldados mataram todas as vacas e bois e ainda incendiaram móveis e utensílios domésticos. “Eles agiam de forma truculenta”, finaliza Leda Baptista.

  • Rua Aristiliano Ramos na década de 1930 (Acervo do Arquivo Histórico de Gaspar)

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