
Especial Gaspar 91 anos: Traição, eleição e revolução

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Em campanha à Presidência da República, Júlio Prestes e? recebido por multidão em São Paulo (Fotos: Memorial da democracia)
Tensão na relação de Minas Gerais e São Paulo
Mas nem tudo eram flores na relação política entre Minas Gerais e São Paulo. Para a eleição de março de 1930, o então Presidente da República Washington Luís, que era paulista, quebrou o acordo e lançou à sua sucessão o seu conterrâneo Júlio Prestes. O fato abriu uma crise entre os dois partidos republicanos, oportunidade em que também cresceram as vozes a favor do integralismo e nacionalismo. O traído PRM lançou então à Presidência da República o gaúcho Getúlio Vargas e o vice João Pessoa, da Paraíba. Mais tarde outros partidos de oposição ao governo republicano aderiram à candidatura Vargas/Pessoa, formando a Aliança Liberal.
Ainda no período pré-eleitoral, a corrente mais radical da Aliança Liberal, formada por políticos jovens como João Neves da Fontoura, Osvaldo Aranha e Virgílio de Melo Franco, passou a admitir a hipótese de desencadear um movimento armado caso a derrota nas urnas se confirmasse. Como primeiro passo, buscou-se a colaboração dos “tenentes”, tendo em vista seu passado revolucionário, sua experiência militar e seu prestígio no interior do Exército. Essa aproximação já estava em curso desde o início do debate sucessório, mas os contatos desenvolviam-se com grande dificuldade devido a desconfianças recíprocas.
Entre os liberais estavam alguns dos principais adversários dos “tenentes”, como Artur Bernardes, Epitácio Pessoa e João Pessoa — este último, como ministro do Superior Tribunal Militar (STM), julgara vários militares rebeldes. Por outro lado, para os velhos dirigentes oligárquicos da Aliança, os “tenentes” personificavam a ameaça de derrubada do regime e, consequentemente, de suas próprias bases de sustentação.
Embora a ameaça da Aliança Liberal de partir para a luta armada, a eleição de Júlio Prestes se confirmou em 1º de março de 1930. Daí para frente uma série de acontecimentos, avanços e recuos da oposição fizeram o Governo Federal imaginar que não haveria mais a prometida luta armada. O próprio Getúlio Vargas dava sinais de aceitar a derrota nas urnas. Porém, um fato, ocorrido em 26 de julho de 1930, despertou novamente os ideais revolucionários dos liberais. O assassinato de João Pessoa, que havia sido candidato a vice na chapa derrotada. Mesmo assim, o Governo Washington Luís, cujo mandato iria se encerrar em 15 novembro de 1930, não acreditava que a luta armada pudesse ocorrer no país e não deu a devida atenção às articulações políticas que começaram a acontecer nos bastidores.
Esse descrédito facilitou para os revolucionários, que na madrugada de 3 de outubro de 1930, surpreenderam o Governo Federal ao deflagrarem o movimento simultaneamente no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba. As tropas integralistas estavam sob a liderança civil de Getúlio Vargas e sob a chefia militar do tenente-coronel Pedro Aurélio de Góis Monteiro. O lema era: “O Brasil para os Brasileiros”, num forte apelo nacionalista. Um dia depois de deflagrado o movimento, todas as unidades militares de Porto Alegre já se encontravam sob o controle dos revolucionários. Vargas divulgou, no próprio dia 4, um manifesto conclamando o povo gaúcho às armas: “Estamos diante de uma contrarrevolução para readquirir a liberdade, para restaurar a pureza do regime republicano.” Concluía dizendo: “Rio Grande, de pé, pelo Brasil! Não poderás falhar ao teu destino heroico.” Os gaúchos atenderam ao apelo com entusiasmo e em poucos dias cerca de 50 mil voluntários alistaram-se para lutar na insurreição.
Formaram-se então diversas colunas que partiram em direção à Capital Federal, no Rio de Janeiro. Uma delas, comandada por Alcides Etchegoyen e João Alberto, rumou para Santa Catarina e Paraná. Essa coluna de revolucionários passou por Gaspar, Blumenau, Itajaí e outras cidades catarinenses. Era o início da Revolução, que depôs o presidente Washington Luis em 24 de outubro de 1930 e transferiu o poder para as forças político-militares comandadas por Getúlio Vargas.
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Mais de 50 mil gaúchos voluntários se uniram à luta revolucionária liderada por Vargas (Memorial da democracia)
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Mais de 50 mil gaúchos voluntários se uniram à luta revolucionária liderada por Vargas (Memorial da democracia)
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