Edição 576
Uma paixão centenária
Hoje, 4 de abril, é uma data especial, e peço licença aos leitores para falar de uma antiga paixão que divido com mais da metade do Rio Grande do Sul e acredito também com muitos catarinenses. Em 4 de abril de 1909 nascia o Sport Club Internacional, também conhecido como Inter ou Colorado. É também o "clube do povo" porque na época da sua fundação, os irmãos José, Luis e Henrique Poppe tiveram negado o ingresso no quadro de sócios de todos os clubes - inclusive do Grêmio - da cidade. Felizmente, fundaram seu próprio clube.
Nascido em Porto Alegre onde morei por 24 anos, lembro da primeira vez que pisei num estádio de futebol, levado pelas mãos de meu pai. Era o ano de 1970 e, com apenas seis anos, assisti no recém-inaugurado Beira-Rio, a Inter x Atlético (MG). Ainda sem uma preferência clubística, vi o Inter ser goleado por 4 a 0. Dizem que a tristeza marca muita mais do que a alegria. Acho que a tristeza da torcida colorada naquele domingo de sol me comoveu e decidi pelo vermelho e branco. Meses depois fui ao Olímpico, bem mais próximo da minha casa, assistir a Grêmio x Santos, com Pelé em campo. Meu pai conta que, durante o jogo, eu gritava o nome do Inter (imaginem se fosse hoje!). Naquele ano, o Inter seria bicampeão gaúcho, e outros seis títulos gaúchos e dois brasileiros viriam na sequência. Daquele longínquo 1970 pra cá, foram milhares de horas de rádio no ouvido, olho na TV, leitura de jornais e revistas, debates em mesas de bar, alegrias, emoções e tristezas. Em 1979, estava no Beira-Rio na conquista do tri brasileiro. No Beira-Rio, eu e mais 85 mil almas tivemos o privilégio de ver jogar, pela primeira vez, um jovem desconhecido de cabelos longos e cacheados, de 17 anos. Foi numa preliminar entre Seleção Brasileira x Seleção Gaúcha, em 1973. Era o jovem catarinense Paulo Roberto Falcão, que sete anos depois se tornaria o "Rei de Roma". Conhecido celeiro de craques, o Inter produziu ao Brasil "feras" como Bodinho, Carlitos, Sadi, Larry, Claudiomiro, Bráulio, Valdomiro, Carpeggiani, Caçapava, Falcão, Jair (o príncipe Jajá), Escurinho, Batista, Mauro Galvão, Dunga,Tafarel, Lúcio e tantos outros. Mas, ninguém foi mais ídolo do que o capitão chileno Elias Ricardo Figueroa Brander, que deu ao Inter e ao futebol gaúcho o primeiro título brasileiro. Quando fui tentar ser jogador de futebol, adivinhem qual a minha posição? Zagueiro.
A maioria alegria de um colorado é vencer o seu eterno rival (e vice-versa). Nunca fui de torcida organizada, mas lembro de nos Gre-nais fazer questão de sentar muito próximo da grade que dividia as duas torcidas. Nos intervalos dos jogos, se o Inter estava vencendo permanecia "flauteando" os gremistas, se o placar não era favorável dava um jeito de ir ao banheiro ou bar. Era só bate-boca, nada de agressões físicas. No final, as duas torcidas saiam do estádio lado a lado, sem problemas. E foram muitos clássicos na minha vida e, por ser pé-quente, poucas vezes saí derrotado. Depois que a violência chegou aos estádios de futebol, nunca mais assisti a um Gre-Nal. O último foi em 1992: Inter bicampeão gaúcho.
O Inter chega ao seu centenário como um dos maiores clubes do futebol brasileiro. A partir de 2004, implantou-se uma administração moderna e profissional, que tem servido de modelo para outros clubes do País e até do exterior. O Inter é o clube brasileiro com maior número de sócios (78 mil) e o segundo da América Latina. As obras de cobertura do Beira-Rio começam ainda este mês, o que vai torná-lo um dos mais modernos e seguros da América Latina e sede da Copa do Mundo de 2014.
O novo foco administrativo se refletiu no futebol. O time passou a acumular títulos internacionais: campeão da Libertadores e Mundial em 2006, da Recopa em 2007, e da Copas Dubai e Sul-Americana em 2008. Neste ano, tem mais dois desafios internacionais: o bi da Recopa e da Sul-Americana. Por tudo isso, quero registrar a minha alegria e gratidão ao clube nesta data e parabenizar sua diretoria e toda a nação colorada, afinal, vale a pena viver essa paixão chamada Inter!