Para não perder a hora
Há 55 anos, o relógio da Matriz orienta os gasparenses
Há 55 anos, o relógio da Matriz orienta os gasparenses
Apressa dos tempos modernos não evita a quem cruza a região central da cidade de Gaspar olhar para o alto do morro da igreja Matriz. Nele, assenta-se o maior monumento histórico da cidade. O templo, que mistura em sua arquitetura os estilos gótico e romano. chama a atenção dos moradores e dos visitantes pela sua grandiosidade e beleza.
Do pé do morro, os olhos das pessoas se voltam para a torre onde as batidas do sino, a cada 15 minutos, avisam que é preciso correr para não se atrasar ao compromisso. É assim desde 31 de outubro de 1954, quando o relógio de oito mostradores (único no Brasil) foi inaugurado pelo bispo da Diocese de Joinville.
Sem a pressa de quem atravessa a ponte Hercílio Deeke em direção ao centro da cidade ou da contagiante impaciência dos motoristas no trânsito da Rua Coronel Aristiliano Ramos, a reportagem do Metas nos Bairros subiu os 115 degraus que levam à entrada do templo. Já no interior da igreja, outros 50 degraus de uma sinuosa escada de madeira nos levam até a torre. A aventura é para conhecer de perto a estrutura e engrenagens do suntuoso relógio que há 55 anos ajuda os gasparenses a não perderem a hora. Não existem registros de que outra equipe de jornalistas tenha subido ao alto da torre da matriz para tal finalidade.
Jovem curioso
Antes da "escalada", o pedido de autorização e uma rápida conversa com frei Geraldo Antonio Freberger. O pároco conta que o relógio é o único da América Latina com apenas uma máquina movimentando oito mostradores. Ele lembra de um jovem curioso, Irineu Zimmermann, ter acompanhado toda a montagem do relógio. "Ele acabou se transformando na pessoa que mais entendia do equipamento. Se havia um problema era só chamar o Irineu", recorda frei Geraldo.
Na época, as peças para substituição eram trazidas de outras cidades, hoje algumas delas já são fabricadas na região o que reduz bastante o custo de manutenção. Os próprios empregados da paróquia se encarregam da manutenção do equipamento. Frei Geraldo revela que em meados da década de 1970, o relógio passou por uma reforma completa com a troca das correntes e outras peças que apresentavam desgaste. O relógio, segundo ele, dificilmente para de funcionar, pois tem autonomia de até 12 horas após a interrupção da energia elétrica. "No ano passado, um raio atingiu a torre e o relógio parou de funcionar", recorda frei. A subida até a torre da igreja é segura. A máquina que movimenta o relógio fica numa espécie de armário sobre uma armação de madeira na própria torre. As engrenagens são belíssimas e lembram muito A Máquina do Tempo, clássico da literatura de ficção de Herbert George Wells Este é apenas um detalhe de uma visita inesquecível, pois a visão de Gaspar lá do alto é simplesmente espetacular.
Peso de 700kg
O relógio da Matriz de Gaspar pesa aproximadamente 700 kg assim distribuídos:
> Máquina 400 kg
> Peso para a marcha de 80 kg
> Peso para as batidas de quartos de hora de 110 kg
> Peso para as batidas de hora cheia de 110 kg.
Da Alemanha
O relógio da igreja Matriz foi produzido pela Indústria e Comércio de Relógios Públicos Schweitner, da cidade de Estrela (RS). O fundador da empresa é Bruno Schweitner. Ele nasceu em Langwosser, na Silésia, Estado da Prússia. Em 1884, acompanhou a família que veio para o Brasil e se especializou em fabricar relógios públicos, especialmente em torres de igrejas.
Bruno produziu dezenas de relógios públicos que estão espalhados por igrejas e prédios no Brasil, sendo a maioria em cidades do interior do Rio Grande do Sul. O primeiro relógio que ele instalou fora do estado foi em Laguna (SC), em 1934. Há relógios da marca Schweitner em São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Goiás. É provável que o próprio imigrante alemão tenha iniciado a fabricação do relógio da Matriz de Gaspar, mas não o concluiu. Bruno morreu em 17 de julho de 1952, dois anos antes da inauguração.