Paixão na cancha reta

Aldo aprendeu a cavalgar muito cedo e se tornou um jóquei profissional

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Aldo aprendeu a cavalgar muito cedo e se tornou um jóquei profissional

O interior do bairro Macuco foi o refúgio escolhido por um grande jóquei catarinense dos tempos áureos das corridas de cavalos. Aldo Capstrano da Cunha, 70 anos, nasceu em Bom Retiro, e cresceu em um sítio rodeado de cavalos. Seu tio era dono de um haras, e lá, Aldo aprendeu a cavalgar e se apaixonou pelo esporte.

Aos dez anos ele já participava de corridas profissionais e, assim, andou por várias cidades do país. "Vivia que nem cigano, onde tinha corrida, eu ia", diz. O que sabe, aprendeu na prática e com dicas de treinadores. Aldo corria só em retas, nunca gostou de pistas circulares. Chegou a ganhar uma importante corrida em Goiás, na década de 1960, superando os dois animais mais velozes da modalidade na época.

A profissão, conta Aldo, era ambígua. "Só convivíamos com gente muito rica nas corridas, mas dormíamos nas cocheiras", lembra. Naquela época, afirma, ganhava-se muito dinheiro nas corridas. Como jóquei, era contratado para correr pelos donos de haras ou de cavalos e que gostavam das competições. "Mas assim como vinha, o dinheiro ia. Se eu tivesse guardado todo o dinheiro que ganhei naquela época, hoje não precisaria mais trabalhar", afirma.

Sua última corrida como jóquei foi em 1964, quando se acidentou em uma competição em União da Vitória. Ficou quatro meses no hospital e, então, decidiu que era hora de parar. Quis ser caminhoneiro, mas o amor pelo esporte o fez mudar de idéia e passou a ser compositor de cavalos, aquele que prepara o animal para a corrida.

Segundo Aldo, muita coisa mudou desde a época em que corria. Inicialmente, as pistas tinham entre 500 e 600 metros e não havia divisórias. "Os cavalos esbarravam uns nos outros durante a corrida". Hoje, observa o ex-jóquei, as pistas são maiores e mais seguras. Também na sua época, as competições eram sempre de dois em dois. Depois de um tempo passaram a ter três corredores e, agora, se faz torneio. "Corri em Carazinho [RS] e lá tinha apenas duas raias. Hoje, é uma das maiores pistas de corrida do País", compara.

Também a velocidade dos cavalos aumentou. "Na minha época, um cavalo bom fazia duas quadras em 18 segundos. Hoje, fazem em 15". Outra diferença apontada por Aldo é que antigamente era mais fácil de trapacear. "Tinha gente que saía um pouco antes, não era fechado como hoje". Ainda assim, o público das corridas de cavalos era maior. Para Aldo, as pessoas agora só se interessam por rodeios, dos quais ele não gosta muito. Quando Aldo corria, Santa Catarina tinha muitos locais que realizavam competições. Mas, atualmente, o foco está em São Paulo e no Rio de Janeiro. Aqui no estado, Aldo costuma assistir às corridas realizadas em Itajaí. O preparo dos jóqueis é outra coisa que mudou. "Eu corria descalço. Depois é que foram criando as roupas específicas para os corredores". Agora também existem escolas para jóqueis que, para Aldo, são a peça principal da corrida. "O segredo está em saber atropelar, ou seja, conduzir, o cavalo", revela.

Como treinador, Aldo também ganhou muitos prêmios. Uma égua treinada por ele chegou a bater o recorde de velocidade em uma pista de 400m, numa competição em Curitiba. "O nome dela era Vadia", diverte-se. O ex-jóquei conta que também recuperou um cavalo que havia perdido uma corrida em 20 dias, e o fez vencer na competição seguinte.

Sua especialidade sempre foi cavalo de corrida. Há 22 anos, Aldo veio para Gaspar, para cuidar dos cavalos e do haras de Ciro Roza, em Brusque. "Cheguei a ter 20 cavalos pra cuidar", conta. Apesar de gostar muito do universo das corridas, Aldo resolveu se aposentar e hoje vive com a esposa em uma fazenda do patrão, em Gaspar, pela qual é o responsável. O tempo das corridas passou, mas as lembranças ainda estão muito vivas.