Criadores de pássaros falam da paixão pela atividade

Criadores de pássaros falam da paixão pela atividade

anuel Bugmann já perdeu a conta das vezes que recusou um convite de um amigo para uma festa por não poder sair de casa. E o motivo é justificável. Ele é um dos mais conhecidos criadores de curió em cativeiros de Gaspar. As aves precisam de atenção 24 horas. Manuel não esconde sua paixão pelo pássaro de canto atraente, e diz que se um dia não puder mais criá-los, não valerá mais a pena tê-los. "O bom de se ter passarinho é justamente isso: cuidar, e tratar, para então ouvi-lo cantar. O pássaro só canta quando se sente bem", ensina Bugmann (foto).

E para preservar e proteger as espécies de canoros silvestres, Bugmann e outros apaixonados por passarinhos constituíram, há 13 anos, a Associação de Criadores de Passeriformes Canoros. A instituição é proprietária de um terreno no Gaspar Mirim, onde pretende construir uma sede para a realização de seus encontros e reuniões. O projeto ainda não têm prazo de execução. Por enquanto, os 200 associados de Gaspar, Ilhota e Luís Alves, lutam para ter sua atividade reconhecida junto à comunidade como preservacionista.

De acordo com Bugmann, atual presidente da entidade, a criação de pássaros em cativeiro regulamentada contribui para a preservação das espécies. "O curió já é considerado extinto em nossa região, só existe em cativeiro", revela o tesoureiro, Délgio Roncáglio que também se especializou em criar curiós. Em casa, vive cercado de pássaros. "O criador tem que ser dedicado, persistente, pois não é fácil", ensina.

Participam da associação apenas criadores amadores, isto é, que não visam a exploração comercial dos pássaros. "Não podemos vender esses pássaros e nem é nossa intenção. Criamos porque gostamos deles, e admiramos o seu canto", explica Roncáglio. Cada criador precisa ser registrado no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e só pode ter em cativeiro as espécies permitidas. Na região, as mais comuns são o sabiá, o trinca-ferro, o culeiro, o curió e o canário-da-terra.

Quem deseja iniciar a sua própria criação precisa, primeiro, cadastrar-se no Ibama. Depois, deve procurar outro criador que transfira pássaros da espécie que ele deseja. "A pessoa não pode capturar um pássaro na mata, até porque, além de proibida a caça, os pássaros que estão livres não vão se adaptar a uma vida dentro da gaiola", argumenta Bugmann.

O curió

O curió é uma ave passeriforme da família dos fringilídeos. Seu nome científico é Oryzoborus angolensis. Já o nome popular advém do tupi kuri’ó: amigo do homem.

No Brasil, a espécie. embora ameaçada de extinção, ainda é encontrada em todas as regiões. O macho é preto com o abdome cor de vinho. A fêmea é ligeiramente menor, parda e possui a parte inferior amarelada. O curió vive, em média, 20 anos em cativeiro, no seu habitat natural, acredita-se que viva menos tempo por estar exposto aos seus predadores naturais.

Concurso reúne criadores

Em julho deste ano, a Associação de Passeriformes Canoros promoverá um concurso de canto entre os seus membros. O objetivo, na verdade, é reunir os associados para apreciar o canto dos pássaros. "Para realizar o evento, precisamos de autorização do Ibama", explica Bugmann. Algumas regras devem ser seguidas, de forma a garantir o bem-estar dos pássaros.

O local do concurso deve ser de preferência fechado, para não se correr o risco de expor os pássaros ao sol, chuva ou ao vento. Uma mudança repentina de clima pode levar as aves a situações de extremo estresse. Para participar do concurso, o criador tem de ser regularizado no Ibama e apresentar o registro do seu pássaro. "Temos pessoas de Gaspar, Blumenau, Brusque e até de outros municípios fora da nossa região", revela o presidente da associação.

Ao transportar o passarinho para o local do concurso, os donos devem cobrir a gaiola, para que os pássaros não sofram estresse com situações externas. O criador deve portar uma guia de autorização de transporte do Ibama. As gaiolas são dispostas a uma distância pré-definida e o concurso tem duração de, no máximo, três horas. "Quando percebemos que um pássaro não está confortável, avisamos o dono para que o leve de volta pra casa", diz Bugmann. O vencedor do concurso é premiado com um troféu simbólico.

Dicas

1 - Como se inicia uma criação de curiós?

Como tudo na natureza, com um casal. Pode-se utilizar um macho para até 10 fêmeas. Isso se for um macho bem tratado. As fêmeas ficam em gaiolas individuais, separadas por divisórias, e não podem se ver.

2 - Quais cuidados devem ser tomados na hora de adquirir um curió?

Primeiro, é importante que esteja adquirindo um pássaro de um criador registrado no Ibama. Antes de comprar observe se o animal é esperto e atento, o contrário pode significar saúde debilitada.

4 - Quando deve começar o treinamento de canto?

Logo que a fêmea põe os ovos, já se deve colocar os CD’s para tocar. O filhote do curió é como uma criança, aprende em etapas.

5- Como deve ser o treinamento do canto ?

O CD deve ser tocado na hora de acordar do pássaro até a hora dele dormir.

6 - Quanto tempo leva para o curió aprender o canto ?

Isso não tem como se prever. Há pássaros que são prodígio e com 60 ou 90 dias já estão cantando, outros demoram dez meses ou até mais de um ano. O criador não deve desistir, às vezes, um pássaro que demorou cinco ou seis anos para aprender canta muito bem.

10 - Qual o melhor lugar para se ter a criação? O apartamento é um bom lugar?

Não há problema nenhum. O curió é uma ave doméstica. O importante é que seja em um local com temperatura média de 25ºC e sem corrente de ar.

(Mais informações: http://www.angelfire.com/ks2/curiomontreal/