Mister Ce na escuta

Carlão Mister Ce é um dos mais antigos radiomadores de SC

Por

Carlão Mister Ce é um dos mais antigos radiomadores de SC

Um clicar do mouse e a pessoa, com o mínimo de conhecimento de internet, inicia uma conversa com outra em qualquer lugar do Planeta com imagem e voz em tempo real. A velocidade e a amplitude da comunicação é uma das maiores conquistas da sociedade moderna. Há menos de três décadas não era assim. Além do telefone, com alcance bastante restrito e oneroso, das estações comerciais de rádio e dos canais privados de segurança, só um outro grupo estava habilitado à comunicar-se à longa distância: os radioamadores. A invenção tem mais de 100 anos e a mão de um brasileiro, Padre Landell de Moura, e a outra do italiano Guglielmo Marconi.
De lá pra cá, muitos eventos revelam a extraordinária evolução da comunicação de voz, porém o radioamadorismo não sai de moda porque além de hobbie é um serviço de utilidade pública. O radioamadorismo iniciou com os transmissores e receptores de ondas curtas. Hoje, já incorpora aspectos de alta tecnologia, envolvidos na construção, lançamento, rastreamento e operação de satélites.
Em Santa Catarina são cerca de 2.300 adeptos. Em Gaspar, oficialmente 14, entre eles Antônio Carlos Pereira, o popular Carlão Mister Ce. Há 25 anos ele faz da estação montada no Margem Esquerda, o seu principal meio de comunicação com o mundo. Ele exibe uma lista de conversas com radioamadores de 92 países.
Ao contrário da internet, acessível a quem disponha de um computador, o radioamador precisa estar habilitado, ter equipamentos adequados e utilizar as faixas de acordo com sua graduação. Para isso, estuda para alcançar o nível máximo numa escala de A a C. Carlão só se tornou radioamador “Classe A” dez anos depois de ingressar no meio. As provas são aplicadas pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). 
Os radioamadores têm um código de ética levado muito a sério. Ele não permite, por exemplo, o início de uma conversa sem que o operador revele o seu QSO, isto é, o prefixo da  estação. Pelas letras iniciais é possível saber a base de onde ele fala e a sua classe. No caso do Carlão, o prefixo da sua estação é PP5 OC (Oscar Charlie).
O gasparense orgulha-se de ter sido um dos três radioamadores brasileiros a conversar, via satélite, com o primeiro astronauta brasileiro, Marcos Pontes, durante sua viagem espacial em 2006. Preferencialmente, Carlão usa a freqüência de 40 metros, mas não é difícil encontrá-lo em outras e até na faixa cidadão, mas conhecida como PX, que foi onde deu os primeiros passos no radioamadorismo.

Apoio às equipes de resgate no Vale
Embora seja um hobbie para a maioria, em determinadas situações o radioamador presta um serviço de utilidade pública. Foi assim durante a enchente de novembro do ano passado no Vale do Itajaí. Carlão conta que em determinado momento da tragédia, ele e um outro radioamador da região passaram a informar aos pilotos dos helicópteros da Defesa Civil e do Exército as coordenadas de rota para as regiões mais atingidas em Gaspar e Blumenau. “Naquele momento, as nossas informações eram as mais confiáveis”, justifica o radioamador cuja estação permaneceu operando durante  a tragédia. Ele explica que os radiomadores podem sintonizar as freqüências fechadas, como a do Corpo de Bombeiros, Polícias Militar e Civil, Sindacta, entre outras, apenas em situações de guarda-vida, como aconteceu na enchente. O Clube de Radioamadores de Santa Catarina é filiado à RENER – Rede Nacional de Emergência de Radiomadores.
Carlão foi membro da Defesa Civil de Gaspar e uma das suas propostas era instalar estações de base e móvel de radioamadorismo nas regiões mais afastadas de Gaspar. “Certamente, se isto tivesse sido feito naquela ocasião teria ajudado no contato mais rápido com as famílias isoladas”, acredita o radioamador. Depois da tragédia, o assunto voltou a ser comentado e é possível que as estações venham a ser implantadas em Gaspar e Ilhota.

Você sabia?
A principal diferença entre os operadores de radioamador e de PX (ou Faixa Cidadão) está nas faixas utilizadas. O radioamador, dependendo da sua classe, tem acesso a faixas de 160 mts a 1.2 ghz. Já o PX é limitado a uma radiofrequência entre 29,965 Mhz e 27,805 MHzde dividida em até 80 canais. Outra diferença consiste no fato de que o radioamador precisa passar pelas provas de conhecimento da Anatel para obter a licença, enquanto para o PX não se exige nenhum exame ou prova técnica.