Mineiros são em bom número no Barracão e Bateias
Mineiros são em bom número no Barracão e Bateias
A colonização no Vale do Itajaí, norte e parte do sul de Santa Catarina se intensificou no final do século XIX com a chegada das famílias alemãs e italianas ao Brasil. Antes, em meados do século XVIII, os portugueses já haviam ocupado o litoral. Gaúchos, descendentes de alemães e italianos, povoaram o oeste do estado no início do século XX. Essa é a história contada nos livros. Tudo quase certo. De uns tempos pra cá, outros povos passaram a ocupar regiões do estado em busca de emprego e melhores condições de vida.
Nos bairros Barracão e Bateias é comum ouvir nas casas, ruas e bares as gírias “uai!”, “sô” e “É trem bão”. Elas são típicas do linguajar mineiro. “Isto aqui tá infestado de mineiros”, exagera o bem humorado José Brum, 75 anos, morador da rua Manoel Fernandes da Silva, no Barracão. Agricultor, ele saiu com 40 anos de idade de Limeira de Mantena, no Vale do Rio Doce, a 461 quilômetros de Belo Horizonte, para plantar soja, trigo, milho, feijão e, como todo bom mineiro, fabricar queijo em Realeza (PR). Os filhos foram crescendo e vindo morar em Gaspar. José se aposentou e decidiu experimentar se a vida no Vale do Itajaí era boa como os filhos e conterrâneos diziam. Gostou tanto que vendeu o que tinha no Paraná, comprou algumas casas e diz que daqui não arreda mais pé. Ele admite que bate a saudade dos familiares que ficaram em Minas Gerais. José ainda estranha o frio. “Lá em Minas não tem inverno, mas no Paraná era bem pior que em Gaspar”, afirma num sotaque mineiro carregado. Nove de seus onze filhos continuam morando no Barracão e Bateias.
Cunhado de José, Antônio Gregório Neto brinca: “mineiro é igual a porco do mato, aonde vai um vai o outro”. Há mais ou menos 15 anos ele contou o número de mineiros no Barracão. “Eram 105, hoje é bem mais”, afirma Gregório que mora em Brusque, mas está sempre na casa do cunhado seu companheiro de pescaria. Gregório veio para Gaspar oito anos depois do irmão que havia sido contratado para trabalhar no projeto de reflorestamento da Metalúrgica Tupi. “Meu irmão foi um dos primeiros mineiros a vir morar em Gaspar, em 1985”.
O pioneiro
O irmão de Antônio Gregório só não foi o primeiro mineiro a vir para Gaspar porque Eduardo Fortunato pisou no município três anos antes. Mineiro de Açucena, ele acompanhou o sogro Messias Gregório de Oliveira. Os dois foram contratados para trabalhar na Metalúrgica Tupi. “Viemos no famoso ônibus da Itapemirim com 49 trabalhadores”, recorda Fortunato que na época tinha apenas 23 anos. Hoje está casado, tem três filhos, um neto e vive numa confortável casa no Bateias que ele mesmo construiu, assim com a de outras 20 famílias do bairro. Três sobrinhos também fixaram residência no Bateias. “Aqui é o paraíso. É fácil conseguir trabalho e não tem violência”, garante Fortunato. Segundo ele, quase todo o dia chegam mineiros ao bairro. A maioria vem de Cachoeira Escura, distrito de Belo Oriente, no Vale do Rio Doce.
Embora a vida em Gaspar seja tranquila e com boa oferta de empregos, muitos mineiros retornam por causa do alto custo de vida. Fortunato recorda que o bairro era bem diferente há 27 anos. Apenas quatro famílias eram proprietárias de praticamente todas as terras: Rangel, Zuchi, Roncallio e Barbieri.
Vida pacata
Existem dois tipos de mineiros: o do interior e o da cidade. O mineiro do interior está ligado à terra. A vida no interior de Minas Gerais é pacata, onde as pessoas ainda acordam cedo, usam fogão à lenha para preparar o feijão tropeiro ou o angú, e contam causos. Já o mineiro da cidade leva uma vida típica dos centros urbanos, com muito trabalho e correria.
Principais gírias de Minas Gerais
*Uai (Uai é uai)
* Sa (diminutivo de Moça Ex: Como você chama sá ?)
* Trem (Qualquer coisa)
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