Em uma semana, Vidal Dias terá passagem
Em uma semana, Vidal Dias terá passagem
Três meses e 24 dias foi o tempo de espera dos moradores do Belchior Baixo pelas máquinas para desobstruir um dos principais acessos a Blumenau, a Rua Vidal Flávio Dias. Na segunda-feira (30), enfim as máquinas iniciaram o trabalho de limpeza e remoção da enorme montanha de terra que se acumulou depois que a terra desceu 832 metros, segundo os geólogos, da encosta do morro até próximo a um ribeirão. A previsão é de liberar a passagem em uma semana.
A domicílio
O Supermercado Sebastião sentiu no caixa os efeitos da interrupção da passagem na Vida Flávio Dias. Praticamente todos os moradores das redondezas compram no estabelecimento.
Prefeitura rebate
A Prefeitura nega o abandono das obras no Belchior (Alto, Central e Baixo). Segundo a Defesa Civil, já foram investidos R$ 1,4 milhão em horas de trabalho com maquinário e que, graças a isso, a Rua Bonifácio Haendchen, que liga o Belchior Central e Alto a Luís Alves, está desimpedida. Gaspar espera o repasse de R$ 1,9 milhão para continuar as obras.
"Muitos clientes ficaram do lado de lá", contam os proprietários Sebastião e Inês Kremer Para resolver o impasse, eles implantaram o sistema de entrega a domicílio. "O cliente liga e passa a lista de produtos e nós fazemos a entrega", explica Inês. O trajeto utilizado é pela BR 470, e repete-se até duas vezes por semana. Em outros casos, os clientes pedem que alguém do mercado os ajude a atravessar a barreira com as compras, onde, do outro lado, um carro os espera.
Pouco mais de uma semana após o deslizamento, o casal Zigfritz e Erna voltou ao local. A casa deles havia sido soterrada, porém, decidiram permanecer num galpão, próximo à encosta do morro. No dia 6 de dezembro, um outro deslizamento matou Ziegfritz e Erna.
Moacir da Silva enchia um balde com água quando a terra desceu. "Ouvimos um barulho muito alto e os postes tremeram", relembra. Segundo ele, 30 segundos depois a terra deslizou até o ribeirão, arrastando, entre outras coisas, uma figueira de 30 toneladas. Já Domingos da Costa e outros moradores só conseguiram sair do local da tragédia pela margem do Itajaí-Açu.
Enquanto acompanhava os trabalhos, o presidente da Associação dos Moradores do Belchior Baixo, Pedro Reinert (foto acima), ainda buscava uma resposta: "Por que demoraram tanto?" O secretário de Desenvolvimento Regional, Paulo França, cuja pasta é responsável pelo repasse dos recursos para as obras de recuperação no Vale do Itajaí, esclarece: "Não sabia que a rua permanecia interrompida; soube durante uma visita ao Arraial D’Ouro".
Na verdade, desde o dia 6 de dezembro o caminho mais curto entre o Belchior Baixo e Blumenau está interrompido. De lá para cá, a vida de mais de 800 pessoas tem sido de sacrifícios. O percurso até Blumenau aumentou, em média, de sete para 50 quilômetros.
Por sobre a terra que invadiu a rua e casas sem pedir licença, apenas pedestres, bicicletas e motos passam, depois que uma trilha foi aberta pelos moradores. As crianças percorrem um trajeto maior até a escola, ou superam a barreira a pé, utilizando dois pares de calçados. Motoristas, desavisados, fazem o trajeto com seus carros, acreditando que a rua está liberada, porém, ao se depararem com o gigantesco paredão de terra, reclamam do fato de não haver uma sinalização adequada no início da rua. "Isso é vergonhoso", dispara o presidente do Conselho de Segurança da Comunidade e Escolas do Grande Garcia, de Blumenau, Lourival Custódio. "É uma falta de responsabilidade e de respeito das autoridades", acrescenta indignado.
Respeito
Segundo o morador Domingos da Costa, no início, uma empresa particular tentou desobstruir a rua, porém, a família dos idosos que morreram soterrados, Zigfritz Taihetch e Erna Iolanda Cipriano, não permitiu. O corpo de Erna ainda não foi encontrado. Em respeito aos familiares, o trabalho foi adiado. Depois disso, a Vidal Flávio Dias foi esquecida pelas autoridades.
O secretário França, informa que o investimento é modesto, mas vai resolver a vida dos moradores daquela região. "Vamos abrir para dar passagem. É isso que os moradores pedem". Simultâneo à recuperação da Vidal Flávio Dias, a Secretaria liberou recursos para as obras na Estrada Geral do Arraial e Luiz Franzói, no Margem Esquerda.
Para a diretora da Defesa Civil, Maria Testoni Theiss, a obra é fruto da insistência da comunidade e da administração municipal. "Estávamos com pouca verba. Foi uma luta grande conseguir a liberação de recursos". De acordo com ela, os geólogos avaliaram o bairro e o parecer foi favorável. "A maioria dos moradores já pode voltar para casa, pois a situação no Belchior Baixo está mais segura". Mesmo assim, ela alerta que é preciso continuar monitorando os morros e o volume de chuva em toda a região. "Em caso de chuva mais forte, as famílias daquele trecho da Vidal Flávio Dias devem ficar atentas para uma rápida evacuação", finaliza a diretora.
Deixe seu comentário