Ilmar Batista e seu grupo são conhecidos pelas divertidas apresentações do boi-de-mamão na comunidade

Ilmar Batista e seu grupo são conhecidos pelas divertidas apresentações do boi-de-mamão na comunidade

Os turistas que se hospedam no Fazzenda Park Hotel, no Gasparinho, têm várias opções de lazer. Uma delas é especial e revela uma tradição da região: a apresentação do boi-de-mamão. Todas as sextas e sábados, Ilmar Batista, junto com um de seus filhos, e mais alguns amigos divertem os hóspedes com suas canções e versos.

Segundo Batista, a brincadeira do boi-de-mamão sempre foi muito comum nas cidades de Santa Catarina. Ele conta que tudo começou quando algumas pessoas fizeram uma cabeça de boi em um mamão, colocaram uma vela dentro, espetaram em um pau de vassoura e saíam a assustar os outros em uma versão tupiniquim do halloween (Dia das Bruxas). Algumas vezes, o mamão era colocado em cima dos moeirões.

A tradição foi se aprimorando, acrescentou-se um pano para cobrir quem carregava a cabeça de mamão, e assim por diante. "Há 60 anos, vinham apenas quatro personagens brincar: o boi, o cavalinho, o dindinho e a Maricota", conta Batista, que ainda recorda das cantigas que ouvia quando criança e confessa que sentia medo da brincadeira. Hoje, mais alguns personagens foram incorporados à tradição, como a Bernuncia e os músicos.

Batista cresceu, casou, teve filhos e perdeu o medo do boi. Junto com alguns amigos, que já faziam o conhecido roteiro do Terno de Reis, resolveu retomar a antiga tradição, e sair a brincar pelas ruas e alegrar as casas do Gasparinho. Com o passar do tempo, os filhos começaram a se interessar e toda a família passou a participar.

Eles passavam a noite fora, cantando, fazendo versos e brincando com o boi-de-mamão. Quando chegavam de volta ao lar, já era dia. Um dos filhos, que fazia o cavalinho, ficava com muito sono e dormia antes das apresentações. "Quando chegava a hora dele se apresentar, tínhamos que acordá-lo", relembra Batista.

O boi-de-mamão era para eles apenas diversão, e a brincadeira acontecia somente no período do Natal. Agora, o passatempo virou fonte de renda. Batista, o filho e os amigos apresentam-se semanalmente no Fazzenda Park Hotel. "Final de semana que tem muita gente, trabalhamos até no domingo", comenta Batista.

Além das apresentações fixas, eles participam de eventos em outras cidades, quando são chamados. "Cobramos em média um salário-mínimo por apresentação, mas se a cidade for muito distante, o preço aumenta um pouco, por causa das despesas com o deslocamento", explica.

Formação

O grupo é formado por dez pessoas, três músicos e sete pessoas que animam os bichos. O filho de Batista, Leandro, que dormia nas noites de brincadeiras é hoje o trovador. "Ninguém na região consegue fazer versos de improviso como ele", gaba-se o pai, que canta e toca acordeão. Os outros filhos e até mesmo os netos, de vez em quando também participam. E o projeto futuro de Batista para seu grupo de boi-de-mamão e reviverem as antigas canções que ele cresceu ouvindo.

Origem da brincadeira tem várias versões

A origem para o nome boi-de-mamão pode vir de outros motivos, além do alegado por Ilmar Batista. Um deles é de que o mamão surgiu da palavra mamado, pois os participantes consumiam muita bebida alcoólica durante as apresentações. Outra conta que o nome caracterizava quem primeiro brincou com o boi, que eram as crianças. Então, mamão viria daquele que ainda mama.

As primeiras manifestações do boi-de-mamão em Santa Catarina datam de 1840. Inspirada nas brincadeiras com bois feitas nos Açores a tradição também assemelha-se muito ao bumba meu boi, característico do norte do país, havendo quem a considere mãe da prática catarinense. De qualquer maneira, o tema principal gira sempre em torno da morte e ressurreição do boi.

Fonte: http://www.ufsc.br