Nelson Theiss luta para reerguer o Recanto Verde

Nelson Theiss luta para reerguer o Recanto Verde

No início de novembro de 2008, o empresário do turismo Nelson José Theiss,  63 anos, não pregava o olho do céu, parece que prevendo uma grande tragédia.  “Estou muito preocupado, nunca vi chover tanto como este ano”, disse na época à equipe do Metas nos Bairros que o visitou para uma reportagem sobre os preparativos para a temporada de verão no parque aquático Recanto Verde, no Belchior Alto.
Enquanto finalizava as melhorias no parque, Nelson rezava para que a chuva desse uma trégua como de fato deu, sem antes deixar um rastro de destruição e um prejuízo que já lhe tirou algumas noites de sono na tentativa de calcular o seu exato tamanho. “Acho que está perto de R$ 400 mil”, revela o empresário sem muita convicção.
Antes da tragédia de novembro, a agenda de eventos marcava 38 confraternizações de fim de ano de empresas da região e até do Paraná. “Foi tudo cancelado”, conta Nelson. Em janeiro, quando se preparava para reabrir o parque, uma nova enxurrada entupiu a tubulação da estrada, provocando o transbordamento do ribeirão. Quando a água baixou, levou de vez a esperança de ganhar algum dinheiro na temporada de verão 2008/2009. “Investi em melhorias, mas São Pedro fechou a porta”, lamenta o empresário que desde então enfrenta dificuldades financeiras já que o Recanto Verde é o seu ganha-pão.
Todas as suas economias, Nelson gastou na contratação de máquinas para terraplanagem e caminhões que retiraram impressionantes 54 caçambas de terra das piscinas e áreas de lazer do parque. “No açude ainda existe muita terra para retirar, mas falta dinheiro para o serviço”, admite. Para piorar a situação, alguns dias antes da enchente o bar foi consumido por um incêndio que o empresário acredita ter sido criminoso. Além disso, circulou a informação que o Recanto Verde havia desaparecido depois da enchente, o que prejudicou a imagem do parque junto às agências de viagem.
O Recanto Verde não sucumbiu às enxurradas e deslizamentos de terra, mas suas portas permanecem fechadas desde então. Nelson não sabe se vai reabri-las na temporada que se aproxima por um motivo: parte de dois trechos da rua José Schmitt Sobrinho, no local conhecido por Salto do Vale da Fumaça, cedeu, oferecendo risco aos veículos pesados, o que praticamente inviabiliza o acesso do visitante de excursão.
“Isto aqui está muito perigoso, tem vários trechos  estreitos na estrada”, avisa o motorista da empresa de ônibus Rainha, Clésio Adolfo dos Santos, que há 25 anos faz o trajeto. No momento da entrevista, ele foi surpreendido por um caminhão em sentido contrário, e precisou dar marcha-ré no coletivo por cerca de 100 metros para ceder passagem. “Passo aqui todo o dia, carregado de carvão, é um perigo”, reforça o motorista Itamar Bach.
Nelson diz que situações  como esta são comuns na estrada. Por isso, ele somente voltará a investir no parque depois que a prefeitura recuperar os dois pontos críticos. “Adianta tirar empréstimo em bancos se as pessoas não vão conseguir chegar até aqui?”, questiona. Nelson esteve na Secretaria de Transportes e Obras atrás de soluções. O titular da pasta, Joel Reinert, esteve no Belchior Alto há um mês, viu o problema de perto e prometeu solução, mas até agora nada.  “Se a estrada cair por inteira não vai ter mais jeito”, avisa Nelson, que por conta própria colocou uma sinalização para orientar os motoristas.
Antes da tragédia de novembro, o problema das estradas no Belchior foi sempre a pedra no sapato dos empresários e moradores do complexo do Belchior. Nelson nem lembra mais das vezes que tirou dinheiro do bolso para patrolar o acesso, desentupir valas e pagar trator para desatolar os ônibus de excursão que tentam chegar até o parque. “Teve um dia que atolou quatro ônibus”, relata o empresário.     

Turistas se encantam

O pai de Nelson nunca aprovou a ideia do filho investir no turismo rural, pois entendia que lugar de colono é na lavoura. Certa feita, o jovem apanhou do pai por insistir na ideia. Em 1991, enfim Nelson realizou o seu sonho e inaugurou o Recanto Verde que nada lembra a estrutura de hoje. Era um pequeno bar à beira de uma cachoeira cuja a queda d’água formava um piscina.
Ali, famílias e amigos se reuniam para o lazer de fim de semana. Com a ajuda da esposa, Ivone Theiss, o empresário deu vida ao lugar. Dizem por lá que quem se banha nas águas do Recanto Verde sempre volta para um segundo mergulho. O lugar é abençoado, aconchegante, silencioso e cercado de morros, mata nativa e muita água. Os turistas de outros estados e até do exterior se encantam com a beleza do lugar.
Nelson tem um projeto de erguer cabanas para hospedagem. A piscina principal tem capacidade para 1,4 milhão de litros de água. Os dois tobogãs Nelson faz questão de dizer que são projetos de sua autoria. O parque tem ainda playground, quiosques com churrasqueiras, bar e restaurante. Na alta temporada de verão, o parque recebe um grande público que já chegou a ser de mais de 2.500 pessoas num único dia. O movimento vem caindo, mas não por falta de atrativos. “A estrada é nosso principal concorrente”, setencia Nelson.

Empresário recusou propostas de compra do parque

Enquanto Nelson reivindica a recuperação da estrada, a sua dívida aumenta. Ele conta que jamais enfrentou essa situação. “Esta não é a história da minha vida, e tenho até vergonha depois de tanto anos estar passando por problemas financeiros. Peço a Deus para continuar com saúde, pois se tiver uma doença vou morrer porque não tenho dinheiro para comprar remédio”, desabafa emocionado o empresário. Nascido e criado no Belchior Alto, Nelson já teve mais de uma proposta de compra do Recanto Verde, mas jamais passou pela sua cabeça se desfazer do patrimônio que construiu com muito trabalho e da terra que herdou de seus pais. “Sempre gostei daqui e nunca cogitei morar em outro lugar, mas hoje já não tenho mais essa certeza. Tô cansado de correr atrás das coisas e ninguém me dar ouvidos”, finaliza o empresário.

Solução para a estrada está próxima

A desesperança do empresário Nelson Theiss pode estar com os dias contatos. O secretário municipal de Transportes e Obras, Joel Reinert, anuncia para a segunda quinzena de agosto o início das obras de recuperação dos pontos críticos da rua José Schmitt Sobrinho. “Já era para a prefeitura ter iniciado a obra, mas o mau tempo atrapalhou. No momento, as máquinas desobstruem os pontos atingidos pelas chuvas da semana passada, em seguida vamos para a José Schmitt Sobrinho”, garante Reinert.
O secretário acredita que, no máximo, em dez dias a estrada vai estar em condições de trânsito normal, embora observe que antes já havia uma situação de estreitamento de pista naquele local em função do penhasco. “Vamos abrir 1,5 metro de estrada para o lado do morro, e acredito que ficará igual ou até melhor de antes do deslizamento”, explica Reinert. O secretário diz que a prefeitura vem empreendendo todo o esforço para atender à população do Belchior, mas existe muita incompreensão. Ele lembra que a grande extensão territorial do município e a falta de máquinas tornam o trabalho lento. “Gaspar tem 800 quilômetros de estradas de chão, a cada chuva recebemos dezenas de ligações da população; não dá para atender a todos num dia. Até agora priorizamos as estradas de maior movimento ou que dão acesso às escolas”, esclarece Reinert.