A bela e a fúria
Símbolo da colonização resiste à fúria da natureza
Símbolo da colonização resiste à fúria da natureza
As belas paisagens se mostram na medida em que se avança em direção ao Arraial Alto. Pode-se ver o ribeirão serpenteando a estrada geral e casas nos lugares mais surpreendentes. A enchente de novembro do ano passado transformou em ruínas parte desse patrimônio natural. As águas e as avalanches de terra invadiram casas e terrenos sem pedir licença. Outras propriedades, porém, resistiram, em parte, à fúria da natureza.
No caminho à direita de quem segue em direção à igreja São José, é impossível não parar e contemplar a cena de destruição ao redor de uma das mais belas casas em estilo enxaimel de Gaspar. Com arquitetura triangular, dois andares, varanda espaçosa e a tradicional cor verde nas portas e janelas, a casa é vizinha a um morro. Na sua frente correm as águas cristalinas de um ribeirão. E foi justamente a proximidade ao morro e ao ribeirão que quase destruíram a bela edificação símbolo da colonização germânica nos Arraiais.
Segundo relatos de vizinhos, a casa foi erguida há mais de 80 anos. O construtor foi um dos primeiros moradores da região, que hoje dá nome à estrada principal: José Junges. Alguns se lembram dele ter na propriedade uma tafona (equipamento para produzir fubá). Muitos moradores vendiam o milho para “seu” José. Depois dele, a casa teve outros três proprietários até chegar às mãos de Adelino Lanser, um empresário de Blumenau. Ele a comprou há mais de 20 anos, e desde então a utiliza para o descanso e lazer de fim de semana.
Até o ano passado, uma de suas filhas morou na propriedade, mas a distância do trabalho a levou de volta à cidade. Isto foi pouco antes da enxurrada. Foi sua sorte, pois a ponte que o pai havia construído foi arrastada pelas águas, e hoje para se chegar até à casa é preciso transpor uma montanha de terra e procurar os pontos mais rasos do ribeirão.
Apesar da idade e do cenário de destruição à sua volta, a residência continua em bom estado de conservação e a quem acredite que a gruta religiosa construída ao lado operou o milagre de salvá-la. Fato ou não, Adelino não esperou por mais ajuda divina. Todos os dias ele trabalha na recuperação do terreno. Ele conta que já tirou cerca de 30 metros cúbicos de toras que cobriam a área pós-tragédia. “Estou primeiro limpando, para depois reconstruir a ponte”, explica. O proprietário prevê que em 60 dias tudo estará limpo, a ponte construída e a casa em perfeitas condições para receber a família e os amigos.
Venda
Meses antes da tragédia, uma família de alemães, que sempre passa férias no Brasil, revelou interesse em comprar a propriedade, mas o negócio não foi fechado. Adelino admite não ter mais interesse em se desfazer do patrimônio. “Pretendo continuar usando a casa nos finais de semana. Ela é espaçosa, confortável e vai durar ainda muitos anos”, justifica.